Putin quer adiar referendo dos separatistas na Ucrânia "para favorecer o diálogo"
Líderes pró-russos só respondem na quinta-feira, mas sublinham que têm "o maior respeito pelo Presidente Putin". Moscovo diz também que retirou as suas tropas da fronteira com a Ucrânia.
No final de uma reunião em Moscovo com Didier Burkhalter, actual presidente da Confederação Helvética e presidente em exercício da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Vladimir Putin anunciou também que ordenou a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia.
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No final de uma reunião em Moscovo com Didier Burkhalter, actual presidente da Confederação Helvética e presidente em exercício da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Vladimir Putin anunciou também que ordenou a retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia.
"Estão sempre a dizer-nos que as nossas forças na fronteira ucraniana constituem uma preocupação. Hoje elas já não estão na fronteira ucraniana. Estão em zonas onde desempenham as suas tarefas normais em áreas de treino", disse o Presidente russo. Pouco depois das declarações de Putin, representantes da Casa Brana e da NATO disseram que não têm ainda provas da retirada das tropas russas.
Os líderes militares da NATO acusaram a Rússia de ter colocado cerca de 40.000 soldados ao longo da fronteira, prontos para iniciarem uma ofensiva em território ucraniano, se fosse essa a decisão de Vladimir Putin, mas Moscovo sempre negou a intenção de invadir a Ucrânia após a anexação da península da Crimeia, em Março passado.
Vladimir Putin referiu-se também às eleições presidenciais ucranianas marcadas para o próximo dia 25 de Maio. Um dia depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, ter declarado que a realização desse acto eleitoral nas condições actuais seria "invulgar", Putin afirmou nesta quarta-feira que é, afinal, "um passo na direcção certa".
Mas, ao contrário da novidade da posição sobre o referendo dos separatistas, a declaração do Presidente russo sobre as eleições presidenciais na Ucrânia não vem alterar nada de substantivo – apesar de ser "um passo na direcção certa", a escolha do futuro Presidente ucraniano só deverá ser feita após a aprovação de reformas constitucionais no país, continua a defender Vladimir Putin.
Mais do que o anúncio da retirada das tropas da fronteira e da declaração sobre as eleições presidenciais no país vizinho, é o apelo ao adiamento do referendo dos separatistas que pode abrir as portas a um novo período de diálogo, no final de uma semana particularmente violenta no Leste e no Sul da Ucrânia.
Os líderes da autoproclamada República Popular de Donetsk reagiram de imediato, mas a decisão só será conhecida na quinta-feira. "Temos o maior respeito pelo Presidente Putin. Se ele considera que isso é necessário, vamos discutir a proposta com o conselho popular", disse à agência Reuters um dos representantes dos separatistas, Denis Pushilin, em Donetsk.
Depois da morte de 46 pessoas na cidade de Odessa (a maioria pró-russos) na sequência de uma manifestação de apoio às autoridades interinas de Kiev, na sexta-feira passada, as forças ucranianas reforçaram a sua ofensiva contra os combatentes separatistas, a quem chamam "terroristas".
Na segunda-feira, pelo menos quatro membros da polícia paramilitar ucraniana foram mortos e mais de 30 ficaram feridos em combates nos arredores de Slaviansk, o bastião dos separatistas no Leste do país. Do outro lado, pelo menos dez pessoas – entre civis e membros das autoproclamadas forças de autodefesa de Slaviansk – morreram e 25 ficaram feridas, avançou na terça-feira a agência russa ITAR-TASS, citando um representante dos separatistas que não foi identificado. Na segunda-feira, o ministro do Interior interino da Ucrânia, Arsen Avakov, tinha dito que o número de vítimas mortais entre os separatistas chegara às três dezenas.
Já nesta quarta-feira, as tropas ucranianas recuperaram por breves momentos o controlo do edifício da câmara municipal da cidade portuária de Mariupol, no Sudeste, mas não demorou muito até que os separatistas voltassem a controlar a situação. Segundo testemunhos recolhidos pela agência Reuters, os soldados ucranianos abandonaram o edifício depois de terem destruído mobília e material de escritório.
A repetição dos episódios de violência levou a um novo esforço diplomático nos últimos dias, com vários líderes mundiais a tornarem público o receio de que a Ucrânia tenha entrado num caminho sem retorno para a guerra civil. No âmbito desses esforços, o presidente da Confederação Helvética e presidente em exercício da OSCE deslocou-se a Moscovo nesta quarta-feira para se reunir com Vladimir Putin.
Apesar do apelo aos separatistas, o Presidente russo fez questão de sublinhar que não há propostas de sentido único: "Moscovo está interessada numa resolução rápida da crise na Ucrânia, mas que tenha em consideração os interesses de toda a população do país."