Primeira mulher a treinar um clube francês é portuguesa
Helena Costa vai assumir o comando do Clermont Foot e já fez história no futebol francês.
Até agora seleccionadora da equipa nacional feminina do Irão, Helena Costa será a primeira mulher a assumir o comando técnico de uma equipa profissional do escalão secundário de uma das principais ligas europeias. Antes da portuguesa apenas havia a experiência de Carolina Morace que, em 1999, orientou durante dois jogos os italianos do Viterbese, da Série C (terceiro escalão).
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Até agora seleccionadora da equipa nacional feminina do Irão, Helena Costa será a primeira mulher a assumir o comando técnico de uma equipa profissional do escalão secundário de uma das principais ligas europeias. Antes da portuguesa apenas havia a experiência de Carolina Morace que, em 1999, orientou durante dois jogos os italianos do Viterbese, da Série C (terceiro escalão).
As reacções não se fizeram esperar. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, congratulou a portuguesa e saudou “uma boa notícia para as mulheres no futebol actual”. A ministra francesa do Desporto, Najat Vallaud-Belkacem, deu os parabéns ao Clermont “por compreender que dar lugar às mulheres é o futuro do futebol profissional”.
Com a nomeação de Helena Costa, o clube, no 14º lugar da segunda divisão francesa, espera iniciar “uma nova era”, que bem poderá ir além do modesto clube francês. A decisão foi uma escolha pessoal do presidente do Clermont Foot, Claude Michy. “Há um momento na vida em que é preciso ser mais precursor do que seguidor”, explicou o dirigente à AFP. “Quando se escolhe um treinador não temos a certeza se vai funcionar, seja um homem ou mulher”, sublinha.
A aposta numa mulher poderá ser encarada como um grande golpe publicitário, que trouxe um pequeno clube francês para a ribalta. No entanto, a escolha de Helena Costa tem a garantia de uma formação sólida e de grande experiência. Formada em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, a carreira da treinadora começou, curiosamente, no futebol masculino. Depois de ter obtido a nota mais alta no curso de treinadores da Associação de Futebol de Lisboa, entre 120 candidatos, Helena orientou os juniores do Benfica e passou pelo banco do Cheleirense da distrital de Lisboa.
À frente da equipa feminina do 1º de Dezembro, durante duas temporadas, sagrou-se campeã nacional e venceu a Taça de Portugal. Carla Cristina foi uma das suas jogadoras e relembra a ambição e a perseverança de Helena Costa. “É uma das boas treinadoras portuguesas”, diz ao PÚBLICO a ex-atleta. “Está constantemente preocupada com o trabalho” e é alguém que “agrada às jogadoras” por ser “muito aguerrida e metódica”.
Desde então orientou as formações femininas do Qatar entre 2010 e 2012, e do Irão, até Setembro, e desenvolveu trabalho de observadora para os escoceses do Celtic de Glasgow.
A decisão foi encarada com surpresa, mas também entusiasmo, junto do balneário do Clermont. “Não posso esperar para regressar na próxima época e fazer parte disto”, disse ao L’Équipe o defesa Anthony Lippini, actualmente lesionado. “Será uma experiência única ser a primeira equipa profissional treinada por uma mulher em França. É bom, cria um buzz”, afirmou o jogador.
Emmanuel Imorou, também do Clermont, admite que recorreu ao Google para saber quem é a nova treinadora. “Mudar de treinador é sempre algo de particular, então trocar de treinador por uma mulher…”, diz ao jornal francês. “Vamos ver as coisas de forma diferente, mas não tenho qualquer dúvida sobre o seu conhecimento sobre futebol”, garante.
A grande questão será a “aceitação por parte dos jogadores”, observa Carla Cristina, que reconhece que “é um lugar difícil de ver uma mulher”. Em Portugal, a ex-jogadora, agora na Federação Portuguesa de Futebol, não tem dúvidas em afirmar que uma decisão destas é “muito difícil” de acontecer. “O futebol é um mundo masculino. As mentalidades [em Portugal] podem mudar, mas não num futuro próximo”, lamenta.