Problema do Atlântida foi a entrada de intermediários, refere ex-administrador dos ENVC

Gonçalves de Brito mostrou-se convicto do desinteresse açoriano pela encomenda dos dois ferries.

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“O problema foi a entrada de intermediários que trouxeram projectistas, foi um problema contratual”, disse esta manhã o antigo gestor aos deputados da comissão parlamentar de inquérito à subconcessão dos ENVC. Gonçalves de Brito garantiu, também, que a construção do Atlântida e Anticiclone, os navios encomendados pela Atlânticoline, a holding pública açoriana para o tráfego marítimo insular, aos estaleiros de Viana não era problemática: “Não há nada a apontar”.

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“O problema foi a entrada de intermediários que trouxeram projectistas, foi um problema contratual”, disse esta manhã o antigo gestor aos deputados da comissão parlamentar de inquérito à subconcessão dos ENVC. Gonçalves de Brito garantiu, também, que a construção do Atlântida e Anticiclone, os navios encomendados pela Atlânticoline, a holding pública açoriana para o tráfego marítimo insular, aos estaleiros de Viana não era problemática: “Não há nada a apontar”.

Contudo, reconheceu uma dificuldade. “Há um problema de tempo”, disse, referindo-se ao prazo contratual de 565 dias para a construção dos dois navios pelo ENVC.

Como o PÚBLICO referiu em anterior edição (27 de Abril), a Atlânticoline celebrou dois contratos com a Sociedade de Consultores Marítimos Ltd (SCMA) para o fornecimento d projecto preliminar para a construção de quatro navios e de serviços de consultadoria para a construção do Atlântida e Anticiclone. Por via destes contratos, a SCMA subcontrata ao projectista russo Petrobalt, cujo desempenho foi posto em causa pelo relatório técnico de Carlos Guedes Soares, professor catedrático do Instituto Superior Técnico.

Também a auditoria conjunta da Inspecção Geral de Finanças e da Inspecção Geral de Defesa Nacional de 13 de Julho de 2009, fez reparos à intermediação da empresa irlandesa Portbridge, cujo agente em Lisboa é a SCMA: “Considera-se que os motivos da sua presença (Portbridge) não são inequivocamente inteligíveis.” Os auditores assinalam, a propósito, a sua estranheza pelo facto dos ENVC, com relações comerciais com os russos da Petrobalt, recorrerem à intermediação da Portbridge.

O antigo administrador mostrou-se ainda convicto do desinteresse açoriano pela encomenda dos dois ferries. “Numa determinada altura, as entidades dos Açores não se interessaram”, garantiu. E exemplificou: “Só nas festas do Senhor de Santo Cristo aquele navio (Atlântida) conseguiria encher, pelo que chegaram à conclusão que não servia”.

A prova desta tese, para o contra-almirante Vítor Manuel Gonçalves de Brito, “é que os novos navios que vão ser construídos (por encomenda da Atlânticoline) vão ser mais pequenos.” Por fim, o ex-gestor admitiu, de forma sintética, que os ENVC não estiveram à altura das circunstâncias. “Os estaleiros também deram o alibí”, disse, referindo-se a terem aceite um prazo curto para a construção dos dois ferries.