O "Grande Torino" passou por Lisboa e desapareceu para sempre

Foi uma das grandes equipas da história do futebol mundial e uma das suas mais trágicas histórias. Há 65 anos, depois de um jogo com o Benfica, um acidente de aviação provocou a morte de 31 pessoas, entre elas 18 jogadores do Torino.

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O último jogo do "Grande Torino" foi contra o Benfica DR

Morria uma equipa, nascia uma nuvem que nunca deixou de pairar sobre o “Toro”. Na altura, era a equipa dominante do futebol italiano e a base da squadra azzurra, que chegou a alinhar dez jogadores do Torino ao mesmo tempo. Hoje, o Torino vive de memórias, à sombra do outro grande clube da cidade, a Juventus. A fazer das ruínas do seu antigo estádio um memorial aos seus heróis caídos. A cumprir uma peregrinação anual a cada 4 de Maio à montanha de Superga. A viver momentos ocasionais de brilhantismo, mas nunca com a mesma intensidade do “Grande Torino” de Valentino Mazzola.

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Morria uma equipa, nascia uma nuvem que nunca deixou de pairar sobre o “Toro”. Na altura, era a equipa dominante do futebol italiano e a base da squadra azzurra, que chegou a alinhar dez jogadores do Torino ao mesmo tempo. Hoje, o Torino vive de memórias, à sombra do outro grande clube da cidade, a Juventus. A fazer das ruínas do seu antigo estádio um memorial aos seus heróis caídos. A cumprir uma peregrinação anual a cada 4 de Maio à montanha de Superga. A viver momentos ocasionais de brilhantismo, mas nunca com a mesma intensidade do “Grande Torino” de Valentino Mazzola.

Foi em Portugal que o “Grande Torino” se exibiu pela última vez, contra o Benfica, no Estádio Nacional, para um jogo de homenagem a Francisco Ferreira, o capitão benfiquista e da selecção nacional. Com bilhetes entre os 15 e os 80 escudos, o Jamor encheu para ver os granata, que ainda tinham mais quatro jornadas para disputar na Série A, contra os “encarnados”, que já só tinham a Taça de Portugal pela frente (que viriam a conquistar), numa época em que ficaram em segundo no campeonato. Às 18h de 3 de Maio de 1949, as duas equipas entraram em campo, Mazzola e Chico Ferreira cumprimentaram-se e o jogo foi o que se esperava, golos e espectáculo e vitória dos portugueses por 4-3. Depois, foram todos jantar ao restaurante Alvalade, no Campo Grande.

Às 9h52 do dia seguinte, um Fiat G 212 da Avio Linee Italiane descola do Aeroporto da Portela e, às 13h15 faz uma escala de 95 minutos em Barcelona, para reabastecimento, antes de seguir para Turim. Estão a bordo 18 jogadores, três dirigentes, três treinadores, três jornalistas e quatro tripulantes. Na aproximação a Turim, o avião encontra uma tempestade que diminui a visibilidade e, na descida, dá-se o acidente, uma combinação fatal de erros de navegação e falhas de comunicação com a torre de controlo. Em vez da pista do aeroporto de Turim, o que apareceu na frente do avião foi uma torre da Basílica de Superga. Não houve sobreviventes.

Nessa época, na Série A, o “Grande Torino” ainda conquistou o título de campeão. Nas jornadas que faltavam, os “granata” alinharam com a sua equipa de juniores e os adversários, por respeito, fizeram o mesmo. Em processo de reconstrução no pós-guerra, a Itália perdia um dos seus símbolos e a sua selecção era obrigada a uma trágica reconstrução para enfrentar o Mundial de 1950, no Brasil. A federação italiana proibiu que a equipa viajasse de avião para o Mundial e depois de uma travessia do Atlântico que durou duas semanas, a Itália sem “il Grande Torino” perdeu com a Suécia (3-2) e ficou-se pela primeira fase.

Nunca mais o Torino se recompôs da tragédia de Superga. Desde então, os toros só foram campeões mais uma vez (1976), conquistaram três Taças de Itália (1968, 1971 e 1993) e ainda chegaram a uma final da Taça UEFA (derrotados pelo Ajax em 1992). Antes, haviam sido campeões italianos por seis vezes, cinco das quais de forma consecutiva com o “Grande Torino”, uma máquina ofensiva que fez o futebol dar um salto qualitativo com as suas inovações tácticas. Entre 1942 e 1949, o Torino não teve concorrência e, em 1947-48, chegou a um recorde que continua imbatível na Série A italiana: 125 golos. Outro recorde que aconteceu nessa época, por certo impulsionado pela corneta de Oreste Bolmida, uma goleada de 10-0 ao Alessandria, numa tarde de domingo, em Turim, a 2 de Maio de 1948, um ano e dois dias antes do “Grande Torino” desaparecer para sempre.