Green Boots: calçado sustentável e 100% português
Marca de Leiria recuperou botas de trabalho dos anos 50 e deu-lhe um design moderno. Depois de parceria com Joana Vasconcelos e com a Cinemateca Portuguesa, há uma marca de vestuário a caminho
Pneu reciclado, cortiça, produtos biodegradáveis e naturais. A Green Boots recuperou uma tradição portuguesa com mais de meio século e juntou-lhe um novo ingrediente: a sustentabilidade. Cerca de um ano depois do lançamento, as botas andam nos pés do mundo.
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Pneu reciclado, cortiça, produtos biodegradáveis e naturais. A Green Boots recuperou uma tradição portuguesa com mais de meio século e juntou-lhe um novo ingrediente: a sustentabilidade. Cerca de um ano depois do lançamento, as botas andam nos pés do mundo.
O designer Pedro Olaio andava nas lides da moda desde os 17 anos (tem 45 agora), mas numa lógica de negócio oposta à actual: importava marcas internacionais e vendia-as em Portugal.
Um dia o clique surgiu, completamente “por acaso”. “Há cerca de quatro anos ofereci ao director da [marca de calçado de luxo] DSquared um par de botas. Foi apenas por curiosidade, eram umas botas tradicionais portuguesas”, contou ao P3 numa entrevista telefónica.
O inesperado surgiu da reacção do director da marca italiana – “as botas são giríssimas, podiam ser uma marca”, disse na altura a Pedro Olaio. “Aquilo ficou-me na cabeça. Comecei a pensar que podia reavivar a tradição da bota de campo, de lavoura, juntando-lhe conforto.”
Na Benedita, perto de Leiria, de onde é natural, encontrou a empresa do mestre do calçado nacional José Rodrigues Serrazina, fundada em 1955, e iniciou a Green Boots.
Pneu reciclado e cortiça
O design foi recriado e a aposta na sustentabilidade adoptada como marca distintiva: as solas são feitas de pneus [ou outro tipo de borracha] reciclados, o isolamento é feito com reaproveitamento de pedaços de cortiça, é usado cabedal (produto biodegradável e natural), os interiores são em algodão.
Tudo 100% português e tudo feito manualmente, com uma construção "goodyear welt", um processo trabalhoso que garante um elevado reforço, resistência e durabilidade aos sapatos. Na fábrica da Benedita, cada par de botas demora 2h30 a 3h00 a ser produzido, mas, garante Pedro Olaio, o tempo de vida das botas é de pelo menos dez anos.
A Green Boots — o nome vem precisamente da forma como o projecto foi pensado — exporta actualmente 85% do que produz para a Lituânia, Rússia, Alemanha, Itália, Inglaterra e Áustria. Em breve vai chegar também a França e ao Canadá.
Em Portugal é possível encontrar as botas na loja Vida Portuguesa, em Lisboa e no Porto, na Coimbra Concept Store e no Atelier Sandrine Vieira, em Leiria. No site é também possível fazer encomendas das botas, cujos preços variam entre os 100 e os 160 euros.
Mais cara é uma edição limitada recentemente lançada em parceria com Joana Vasconcelos. As botas unisexo “'grafitizadas' com uma caneta” pela artista custam 350 euros e foram produzidos apenas 399 pares.
Numa parceria com a Cinemateca Portuguesa, a marca tem também à venda t-shirts com estampados de clássicos portugueses — como o Leão da Estrela e A Canção de Lisboa —, com 20% do valor das vendas a reverter a favor do cinema.
Ainda numa lógica de reaproveitamento de materiais — pedaços de pele, tecidos, atacadores —, a designer Sandra Simões criou para a Green Botts uma colecção de pulseiras.
A partir de Junho, um novo projecto de Pedro Olaio vai nascer: a Marialva, marca de vestuário masculino e feminino, vai também reavivar algumas memórias relacionadas com os tecidos tradicionalmente portugueses.