Aventuras do coronel Lourenço
Numa prosa atrapalhada e pouco gramatical, o coronel Vasco Lourenço veio agora dizer que a Associação 25 de Abril, a que preside, e os capitães de 1974 “não se querem arvorar em solução” ou “abrir expectativas a que não se pudesse dar resposta”. Melhor ainda, e avisando o público, o coronel Lourenço afasta a fantasia de uma nova revolução e declara o seu amor aos “meios democráticos”. A Associação é “espaço de intervenção cívica e cultural”, que vai “lutando contra aqueles que nos querem calar a voz e prender as mãos com slogans”. Os pobres capitães de Abril, afinal de contas, só se recusam a abdicar de “ser cidadãos de corpo inteiro e (de) usufruir a liberdade que (ajudaram) o povo português a conquistar”. Não se podia pedir nada de mais cívico e de mais cordato.
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Numa prosa atrapalhada e pouco gramatical, o coronel Vasco Lourenço veio agora dizer que a Associação 25 de Abril, a que preside, e os capitães de 1974 “não se querem arvorar em solução” ou “abrir expectativas a que não se pudesse dar resposta”. Melhor ainda, e avisando o público, o coronel Lourenço afasta a fantasia de uma nova revolução e declara o seu amor aos “meios democráticos”. A Associação é “espaço de intervenção cívica e cultural”, que vai “lutando contra aqueles que nos querem calar a voz e prender as mãos com slogans”. Os pobres capitães de Abril, afinal de contas, só se recusam a abdicar de “ser cidadãos de corpo inteiro e (de) usufruir a liberdade que (ajudaram) o povo português a conquistar”. Não se podia pedir nada de mais cívico e de mais cordato.
Nada impede o coronel Lourenço de servir estas piedades, porque de certeza o país já esqueceu o que ele andou a fazer nas semanas que precederam o “25 de Abril” e o que disse no comício do Largo do Carmo, em si próprio um insulto e um desafio à Assembleia da República. Ou, se calhar, ao contrário do país, que está atordoado, o coronel Lourenço não esqueceu uma única ameaça velada ou explícita que dirigiu em pessoa ou pela televisão ao Governo legitimamente constituído e é por isso que aparece agora a deitar um bocadinho de água na fervura, com a pele do proverbial carneiro manso. Seja como for, o gesto presume a completa impunidade dos políticos que por aí se apresentam com direito de incitar os portugueses a remover de cena os “neoliberais” de Passos Coelho e Companhia.
Os festejos do “25 de Abril” deviam servir para duas coisas. Primeiro, para reforçar o radicalismo na esquerda (e em particular a posição de Soares no Partido Socialista). Segundo, para intimidar a direita perante a putativa força do povo “organizado”. O plano falhou de fio a pavio. O coronel Lourenço e os seus companheiros não viram a lamentável figura que exibiam a um público em desespero, farto de retórica e ansioso por alguma lógica e bom senso. Presumo que essa inconsciência lhes lembrou os bons tempos de 1974-1975. De qualquer maneira, não ganhou um voto à direita para o próximo 25 de Maio, e afastou muita gente, que não se arranja dinheiro com demagogia política, sobretudo quando a demagogia põe em causa os fundamentos do Estado.