A irrepetível euforia de há 40 anos
Por mais que se tentem comparações, nenhum 1.º de Maio dos que Portugal tem conhecido nas últimas décadas pode ombrear com o que Lisboa viu e viveu em 1974. Talvez por não ser bem um 1.º de Maio, naquilo que ele tradicionalmente significa, mas uma extraordinária festa de celebração da liberdade. As ruas estavam cheias de uma forma que nunca se vira e as pessoas pareciam irmanadas numa espécie de euforia só explicável pelo fugaz ar do tempo: os soldados ainda andavam por ali, visíveis, mas a imagem geral era a de uma imensa massa popular indistinta e feliz, onde as vontades ainda não tinham nome ou forma que não pudessem ser partilhados e onde os discursos que depois se ouviram se deixavam embriagar pela vitória recente e pela esperança futura. O que se passou naquele dia, registado de forma febril no documentário colectivo As Armas e o Povo (que o PÚBLICO editou em DVD, por ocasião dos 30 anos do 25 de Abril), revê-se noscélebres cartazes de Vieira da Silva A Poesia Está na Rua. Era poesia, aquilo. Ou quase. Porque tudo tem o seu reverso. No filme referido ouve-se uma mulher de nome Deolinda, 22 anos e três filhos, responder ainda hesitante às perguntas de Glauber Rocha, o realizador brasileiro que aqui fez de repórter nesses dias: “A senhora acredita na revolução?” “Talvez” “Porque que é que a senhora não acredita?” “Tenho lido tanta coisa e ouvido tanta coisa, não sei.” “A senhora não vai para o desfile do 1º de Maio?” “Não, não vou.” “O que é que a senhora pensa fazer para mudar a situação?” “Trabalhar. Trabalhar.” Demorou a chegar, a liberdade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Por mais que se tentem comparações, nenhum 1.º de Maio dos que Portugal tem conhecido nas últimas décadas pode ombrear com o que Lisboa viu e viveu em 1974. Talvez por não ser bem um 1.º de Maio, naquilo que ele tradicionalmente significa, mas uma extraordinária festa de celebração da liberdade. As ruas estavam cheias de uma forma que nunca se vira e as pessoas pareciam irmanadas numa espécie de euforia só explicável pelo fugaz ar do tempo: os soldados ainda andavam por ali, visíveis, mas a imagem geral era a de uma imensa massa popular indistinta e feliz, onde as vontades ainda não tinham nome ou forma que não pudessem ser partilhados e onde os discursos que depois se ouviram se deixavam embriagar pela vitória recente e pela esperança futura. O que se passou naquele dia, registado de forma febril no documentário colectivo As Armas e o Povo (que o PÚBLICO editou em DVD, por ocasião dos 30 anos do 25 de Abril), revê-se noscélebres cartazes de Vieira da Silva A Poesia Está na Rua. Era poesia, aquilo. Ou quase. Porque tudo tem o seu reverso. No filme referido ouve-se uma mulher de nome Deolinda, 22 anos e três filhos, responder ainda hesitante às perguntas de Glauber Rocha, o realizador brasileiro que aqui fez de repórter nesses dias: “A senhora acredita na revolução?” “Talvez” “Porque que é que a senhora não acredita?” “Tenho lido tanta coisa e ouvido tanta coisa, não sei.” “A senhora não vai para o desfile do 1º de Maio?” “Não, não vou.” “O que é que a senhora pensa fazer para mudar a situação?” “Trabalhar. Trabalhar.” Demorou a chegar, a liberdade.