Somos todos macacos?
Podemos mostrar bananas no Twitter, no Facebook, no Instagram e até em manifestações. Mas só poderemos festejar quando não existir racismo
Há poucos dias, o lateral-direito do Barcelona Daniel Alves foi alvo de insultos racistas. Foi-lhe atirada uma banana, em pleno jogo contra o Villarreal. O acto deplorável nada tem de novidade. Insultos racistas acontecem com mais frequência do que muitos imaginam, no futebol e fora dele. O que não acontece tantas vezes é haver uma fibra tão grande quanto a demonstrada por Dani Alves: o jogador agarrou na banana, descascou-a e comeu-a, instantes antes de cobrar um pontapé de canto, como se nada se tivesse passado. “Temos de rir-nos destes atrasados”, disse depois. Horas mais tarde, numa campanha publicitária que estava já concertada há duas semanas, Neymar aproveitou a deixa e colocou no Instagram uma foto com o seu filho, ambos de banana em riste, com a “hashtag” #somostodosmacacos.
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Há poucos dias, o lateral-direito do Barcelona Daniel Alves foi alvo de insultos racistas. Foi-lhe atirada uma banana, em pleno jogo contra o Villarreal. O acto deplorável nada tem de novidade. Insultos racistas acontecem com mais frequência do que muitos imaginam, no futebol e fora dele. O que não acontece tantas vezes é haver uma fibra tão grande quanto a demonstrada por Dani Alves: o jogador agarrou na banana, descascou-a e comeu-a, instantes antes de cobrar um pontapé de canto, como se nada se tivesse passado. “Temos de rir-nos destes atrasados”, disse depois. Horas mais tarde, numa campanha publicitária que estava já concertada há duas semanas, Neymar aproveitou a deixa e colocou no Instagram uma foto com o seu filho, ambos de banana em riste, com a “hashtag” #somostodosmacacos.
Existe um princípio científico errado no senso comum contemporâneo. Não somos macacos nem sequer descendemos deles. Somos, isso sim, uma espécie de primos, por termos um antepassado evolutivo comum. Portanto não, não somos todos macacos. Mas de uma coisa não nos livramos: somos todos iguais.
A conversa é antiga e chega a ser repetitiva, mas nunca é demais reafirmá-la: dentro do espectro das peculiaridades humanas, somos todos iguais na diferença. Todos temos direitos iguais a ela. Valham-nos, ao menos, os valores da Revolução Francesa, que nos ensinaram a olhar o outro de igual para igual, nunca de cima para baixo. Portanto, não há como afirmar que os pretos são piores ou melhores que os brancos ou que os amarelos ou que os cor-de-rosa às bolinhas azuis. Podia estar para aqui a fazer comparações tolas, mas nenhuma faria justiça à estupidez da distinção por raças – um conceito que nem sequer existe fora do mundo dos animais irracionais.
Fenómenos como estes ensinam-nos, ainda assim, muita coisa. Ensinam-nos, antes de mais, que a Internet não está assim tão pejada de ignorantes quanto nos parece à primeira vista. Temos muita gente boa que se mantém calada, abstendo-se de dizer barbaridades. E, quando é preciso, ei-los a todos, demonstrando de que lado está a razão. Aplaudo-os com toda a força, durante horas.
Outra coisa que se descobre é que ainda há por aí muito pulha retrógrado a viver sobre pilares de areia sustentados no preconceito. Seja no futebol, na NBA, no Urban Beach ou noutro lado qualquer, ainda há cepos que acreditam que estar perto de um negro ou de um cigano dá direito a ter sarna. Esse tipo de gente acéfala deveria levar um banho de humanidade. Uma lição de História sobre as atrocidades que se cometem em nome de uma raça que não existe talvez fosse suficiente.
Podemos mostrar bananas no Twitter, no Facebook, no Instagram e até em manifestações. Podemos até dizer, sem princípio científico que o prove, que somos todos macacos. Mas só poderemos festejar quando não existir racismo. Como já o disse num círculo privado, só poderemos festejar quando o Anders Breivik e o Mário Machado decidirem fazer uma “selfie” de banana em riste, afirmando com veemência que #somostodosfeitosdamesmacarne. Estimem-se uns aos outros, sim?