O político e o monstro: Passos Coelho

Passos Coelho, o primeiro-ministro português, tem apresentado, ao longo do seu mandato, uma certa incoerência e inconsistência de ideias

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Ricardo Campus

Passos Coelho tem apresentado, ao longo do seu mandato, uma certa incoerência e inconsistência de ideias. Ora, tal como nas televendas, com aqueles fantásticos aparelhos que vibram e nos fazem emagrecer sem mexermos uma palha, também nas posições de Passos Coelho há um antes e um depois. Aliás, tal dupla face é tão vincada que nos faz lembrar o Dr. Jekyll, o respeitado doutor — partindo do pressuposto que a licenciatura ou canudo não tem bicho — e o Mr. Hyde, a face obscura do Dr. Jekyll, ou seja, o monstro, de Robert Louis Stevenson.

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Passos Coelho tem apresentado, ao longo do seu mandato, uma certa incoerência e inconsistência de ideias. Ora, tal como nas televendas, com aqueles fantásticos aparelhos que vibram e nos fazem emagrecer sem mexermos uma palha, também nas posições de Passos Coelho há um antes e um depois. Aliás, tal dupla face é tão vincada que nos faz lembrar o Dr. Jekyll, o respeitado doutor — partindo do pressuposto que a licenciatura ou canudo não tem bicho — e o Mr. Hyde, a face obscura do Dr. Jekyll, ou seja, o monstro, de Robert Louis Stevenson.

Dr. Jekyll. O Dr. Jekyll Passos Coelho começa logo na oposição a José Sócrates nas críticas à excessiva austeridade e na defesa intransigente do povo português — tal patriotismo era tão acérrimo que quando ganhou as eleições cantou o hino nacional. O seu cavalheirismo “à Dom Quixote”, não experimentado para uma Dulcineia de Toboso portuguesa ou algo que se pareça, sustentava-se numa proeminente luta por uma sociedade mais justa. Não acreditam? Veja-se, então, uma das expressões proferidas no âmbito da declaração ao país aquando da pseudo-demissão de Paulo Portas: “E aqui o primeiro-ministro representa a esperança de todos os portugueses de fechar o programa de ajustamento e construirmos uma sociedade mais próspera e mais justa”.

O aumento do salário mínimo pode ser enquadrado nesta esfera de uma sociedade mais justa — isto sem recorrer a todas as teorias de que o salário mínimo, afinal, torna a sociedade mais desigual — e, cartada eleitoral ou não, é sempre uma medida legítima, dado que o salário mínimo em Portugal, em comparação com Espanha ou mesmo Grécia, é irrisório.

Mr. Hyde. Este monstro político surge em Passos Coelho como o brotar das flores primaveris. Contudo, tal aparição ultrapassa somente uma estação, tendo em conta que é uma maldição de 365 dias. Desta forma, o andar majestoso e pausado do Dr. Jekyll dava lugar ao modo brusco, lento, estranho e impetuoso do monstro. Mr. Hyde Passos Coelho tem preparada uma nova fórmula de cálculo das pensões (indexada à demografia e à economia). Dias antes, o Dr. Jekyll Coelho havia afirmado veemente que não passava de pura especulação.

O aumento do salário mínimo — que nem pode ser aplicado no seu mandato, na medida em que a troika não o permite —, razia camuflado num novo programa de rescisões para funcionário públicos “menos qualificados”. Mr. Hyde torna-se ainda mais agressivo quando o seu neo-liberalismo é espicaçado pelo FMI, para se tornar num supra-extra-neo-liberalismo que permita aos patrões despedir todos os seus trabalhadores como se fossem comida estragada atirada para o lixo.

Nesta história, de Robert Louis Stevenson, também existia uma criada. Lanço um desafio ao leitor: Quem é a criada do Dr. Jekyll Passos Coelho? 1. Paulo Portas; 2.Miguel Relvas; 3.Canuco Zumby; 4. Ele próprio, no entanto não sabe. Existem demasiados Jekyll’s e respectivos Hyde’s.