Filmes de Abril
O segundo dia do IndieLisboa calha a 25 de Abril, data em que se assinalam quarenta anos sobre o golpe de estado de 1974. E o programa dessa dia e do dia seguinte concentra filmes que, mesmo se não sobre a data ou processo revolucionário que ela pôs em curso, convocam um universo, de figuras ou de questões, que fortemente se relacionam com a memória do 25 de Abril de 1974.
O filme de João Pinto Nogueira, Uma Outra Forma de Luta, em primeiro lugar (dia 26, 18h, S Jorge; 1, 18h45, S Jorge). Faz a ponte entre Nuno Bragança (objecto de um seu filme anterior, U Ómãi Qe Dava Pulus) e uma figura, “mítica” digamos, dos anos revolucionários portugueses, Carlos Antunes, mentor, com Isabel do Carmo, do PRP. Pinto Nogueira pega num conjunto de questões que Bragança (cuja “radicalização” política era abordada no filme que citámos) deixou escritas a Carlos Antunes mas a que este não teve tempo de responder antes da morte prematura do escritor, em 1985. O princípio do filme é simples: pôr Carlos Antunes a responder, quase trinta anos depois, às perguntas de Bragança, na certeza de que essas respostas permitem reconstituir um percurso pessoal e político. Que é, no fundo, o objecto do filme, centrado no discurso “em resposta” de Carlos Antunes, mas incluindo outros depoimentos, bem como um extensivo uso de imagens de arquivos e documentação iconográfica (e ainda algum “teatro”, em cenas, de diálogo normalmente, reconstituídas ou imaginadas com actores), para um retrato, se não “a frio” pelo menos “em recuo”, dessa “outra forma de luta” proposta pelo PRP e pelas Brigadas Revolucionárias, talvez um dos “produtos” de Abril de 1974 ainda menos pacificados.
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O segundo dia do IndieLisboa calha a 25 de Abril, data em que se assinalam quarenta anos sobre o golpe de estado de 1974. E o programa dessa dia e do dia seguinte concentra filmes que, mesmo se não sobre a data ou processo revolucionário que ela pôs em curso, convocam um universo, de figuras ou de questões, que fortemente se relacionam com a memória do 25 de Abril de 1974.
O filme de João Pinto Nogueira, Uma Outra Forma de Luta, em primeiro lugar (dia 26, 18h, S Jorge; 1, 18h45, S Jorge). Faz a ponte entre Nuno Bragança (objecto de um seu filme anterior, U Ómãi Qe Dava Pulus) e uma figura, “mítica” digamos, dos anos revolucionários portugueses, Carlos Antunes, mentor, com Isabel do Carmo, do PRP. Pinto Nogueira pega num conjunto de questões que Bragança (cuja “radicalização” política era abordada no filme que citámos) deixou escritas a Carlos Antunes mas a que este não teve tempo de responder antes da morte prematura do escritor, em 1985. O princípio do filme é simples: pôr Carlos Antunes a responder, quase trinta anos depois, às perguntas de Bragança, na certeza de que essas respostas permitem reconstituir um percurso pessoal e político. Que é, no fundo, o objecto do filme, centrado no discurso “em resposta” de Carlos Antunes, mas incluindo outros depoimentos, bem como um extensivo uso de imagens de arquivos e documentação iconográfica (e ainda algum “teatro”, em cenas, de diálogo normalmente, reconstituídas ou imaginadas com actores), para um retrato, se não “a frio” pelo menos “em recuo”, dessa “outra forma de luta” proposta pelo PRP e pelas Brigadas Revolucionárias, talvez um dos “produtos” de Abril de 1974 ainda menos pacificados.
Outro filme é uma produção estrangeira, As Ondas de Abril, do suíço Sebastien Baier (25, 19h, S. Jorge). E é uma ficção, uma história construída em torno de uma equipa de TV da Romandia que se desloca a Portugal para uma reportagem sobre a ruralidade portuguesa e é surpreendida pelo 25 de Abril de 1974. Baier, num registo que procura a comédia (ou pelo menos o sorriso do espectador), não vai muito para além da espuma, do folclore do 25 de Abril, mas também é certo que o seu olhar é menos sobre Portugal do que, por alguma forma de constraste, sobre a Suíça (o tal país, como Orson Welles lembrava, onde tudo é “perfeito”, social e politicamente, desde há séculos).
Finalmente, o prato forte, Mudar de Vida, José Mário Branco, documentário de Pedro Fidalgo e Nelson Guerreiro sobre um dos maiores músicos portugueses de todos os tempos (26, 18h, S Jorge; 1, 18h45, S Jorge). É ele próprio, José Mário, quem conta a sua história, com a ajuda de múltiplos outros deponentes, mais próximos ou mais analíticos, num modelo convencional mas de aplicação vigorosa (e com riquíssima matéria prima). A primeira hora concentra-se na juventude do músico, e na indissociável relação (o exílio, o período revolucionário) entre a sua obra e as circunstâncias políticas que conheceu e em que viveu. A segunda hora é menos “biográfica”, e é mais o músico, o “artesão”, que aparece em destaque, focando processos de trabalho, ansiedades criativas e “performativas”, idiossincrasias mais estritamente musicais do que na primeira parte. O que dá, no conjunto, um retrato bastante completo, crítico (e auto-crítico), e sobretudo, bastante justo.