Idosos a viverem em quartos alugados tratados de forma desumana

Alerta é do médico Luís Nunes que escreveu um livro sobre O bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos idosos.

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Entre Outubro de 2011 e Outubro de 2012, cerca de 314 mil pessoas com 60 e mais anos foram vítimas de, pelo menos, uma “conduta de violência” por parte de um familiar, amigo, vizinho ou profissional Daniel Rocha

“É um outro tipo de agressão que recentemente começou a ser referenciado e diz respeito aos idosos (viúvos, divorciados ou solteiros) que vivem em quartos alugados, sobretudo nas grandes cidades”, afirma Luís Nunes no livro O bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos idosos, publicado recentemente pela Caminho.

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“É um outro tipo de agressão que recentemente começou a ser referenciado e diz respeito aos idosos (viúvos, divorciados ou solteiros) que vivem em quartos alugados, sobretudo nas grandes cidades”, afirma Luís Nunes no livro O bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos idosos, publicado recentemente pela Caminho.

“Os donos das casas tratam-nos mal, exigem tudo e impõem regras, como só poderem ir à casa de banho duas ou três vezes por dia e tomarem banho uma vez por semana”, diz o médico, que tem trabalhado em várias hospitais e centros de saúde.

Com estas regras, os idosos ficam “limitados e diminuídos”, mas “vão vivendo assim maltratados”, porque muitos estão longe da família e não têm alternativa.

Contactada pela Lusa, Maria Oliveira, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), adianta que as situações deste género que têm chegado à associação passam-se na zona de Lisboa.

A técnica diz que os idosos são vítimas de vários tipos de violência, principalmente da física, psicológica e financeira.

Um estudo recente do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, que estimou pela primeira vez a prevalência da violência contra idosos, refere que, entre Outubro de 2011 e Outubro de 2012, cerca de 314 mil pessoas com 60 e mais anos foram vítimas de, pelo menos, uma “conduta de violência” por parte de um familiar, amigo, vizinho ou profissional.

Mais de um terço das vítimas inquiridas referiu mais de 10 incidentes em que o idoso foi trancado no quarto ou impedido de aceder a toda a casa. E 37,5% referenciou entre duas a 10 ocorrências.

Maria Oliveira adverte que “as pessoas têm de ter liberdade de circulação” e se estiverem confinadas a um espaço podem estar a ser vítima de sequestro. “Enquanto censuramos determinados comportamentos em relação às crianças e às mulheres vítimas de violência doméstica, em relação às pessoas idosas ainda há muita permissividade para este tipo de situações de violência.”

Maria Oliveira explica que, “muitas vezes”, os idosos não se vêem como vítimas de um tipo de violência e mantêm-se naquela situação porque “preferem estar numa realidade que conhecem do que ir para o desconhecido”.

“Falamos muito da dependência financeira, mas muitas vezes é dependência emocional”, diz a técnica da APAV.

Apesar das várias campanhas que a APAV tem realizado, Maria Oliveira diz que “ainda há muito a fazer”. Defende que tem de ser realizado para os idosos um percurso idêntico ao que foi feito para as mulheres vítimas de violência doméstica.

“Há que trabalhar com as pessoas idosas”, com os jovens, que serão os futuros cuidadores, com os profissionais de saúde e da educação e “sensibilizar a comunidade em geral para denunciar estas situações, porque não podemos continuar a olhar para o lado.”

Segundo dados da APAV, mais de 11.300 idosos, a grande maioria mulheres, foram vítimas de violência doméstica nos últimos 12 anos. Os casos têm vindo a aumentar todos os anos.