Comemorado mundialmente, tornou-se com o passar dos anos como que uma forma de resistência: a necessidade de, em tempos digitais, preservar uma relação com a música em formato físico e com os locais onde, historicamente, essa mesma relação se inicia e se prolonga.

Comemorado mundialmente, tornou-se com o passar dos anos como que uma forma de resistência: a necessidade de, em tempos digitais, preservar uma relação com a música em formato físico e com os locais onde, historicamente, essa mesma relação se inicia e se prolonga.

Tornou-se ainda uma data de destaque no ano editorial: se em 2008 ou 2009 as edições especiais que assinalavam o dia cabiam numa pequena folha de rascunho, hoje o site do Record Store Day dispobiniliza um documento de vinte e muitas páginas (e centra-se apenas no mercado ango-saxónico) para nos orientarmos entre o que bandas e editoras preparam para este 19 de Abril de 2014.

Em Portugal, ainda que de forma mais modesta que em anos anteriores, marcados por vários concertos e programação cuidada em várias lojas, a data não é esquecida. Quem entrar nas Louie Louie de Lisboa e Porto, na Black Dog, em Aveiro, na Piranha, no Porto, no Outlet Music Store em Leiria e Vila do Conde, na Flur, na Trem Azul ou na Vinil Experience, em Lisboa, terá direito a promoções (há descontos em praticamente todas) e a edições especiais. A histórica Carbono, por sua vez, assinala a data com um protesto: contra a cobrança de IVA a 23% nos discos, quando outros produtos culturais, como o livro, pagam o imposto a 6%, a loja estará hoje encerrada.

A Louie Louie, por exemplo, tem para venda uma edição limitada em vinil de Kaputt, de Destroyer ou The Air is on Fire, de David Lynch. A Flur, por sua vez, disponibiliza o Boot EP dos The Thing ou Ultimate Alternative Wavers, dos Built To Spill. A Piranha põe em destaque o 12” Kocytean, dos Katatonia, ou o 7” Party at my trouse, dos Southern Culture On The Skids, ambas edições preparadas especialmente para o Record Store Day. Neste momento, até as multinacionais aproveitam este dia - as FNACs recebem também lançamentos especiais das grandes editoras: o single em vinil de Pennyroyal Tea, dos Nirvana, um Live At Monterey de Jimi Hendrix, uma caixa de 7 LPs dos Sex Pistols (Nevermind the Bollocks), EPs dos Rolling Stones (The Rolling Stones e Got Live If You Want It) ou LPs dos AC/DC (Stiff Upper Lip e Ballbreaker).

Internacionalmente, entre reedições, novas edições e lançamentos especialíssimos, a lista de lançamentos é, como escrevemos imensa. Mergulhando no passado, dele saímos com An Ideal For Living, EP precoce dos Joy Division, com a visão dos Devo em palco (Live at Max Kansas City – November 15, 1977) ou com a banda-sonora de Amarcord, o filme de 1973 de Fellini com música de Nino Rota. Mais próximo no tempo, os deserdados dos LCD Soundsystem podem regressar ao momento da despedida para fingir que esta nunca aconteceu: The Long Goodbye é uma caixa de 5 LPs com as quatro horas do último concerto, no Madison Square Garden, em Nova Iorque, em 2011. Já os fãs de Bruce Springsteen terão a partir de hoje mais um item para juntar à colecção: American Beauty é o EP de inéditos anunciado - os de Neil Young acordaram com uma surpresa chamada A Letter Home, álbum em que o cantor de Harvest moon interpreta canções de Bob Dylan (Girl from the north country), Tim Hardin (Reason to believe), Bert Jansch (Needle of death), WIllie Nelson (On the road again) ou... Bruce Springsteen (My hometown). E há ainda um “Space Project” que ficará bem em qualquer colecção - compila singles de bandas como os Spiritualized, Beach House, Blues Control ou The Antlers, unidas por um objectivo comum: criar música enquanto viagem pelo cosmos.

A celebração é hoje. Os discos, na sua maioria, ficarão. Teremos tempo para os descobrir até nova comemoração.