Autobiografia, a salvação de Damien Hirst

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Um artista plástico que se fez retratar a rir ao lado de uma cabeça decapitada, numa morgue, aos 16 anos tem que ter algo de interessante para contar sobre a sua vida. Antes de tirar esta fotografia às escondidas, Damien Hirst gritou “rápido, rápido, tira foto” e para o amigo que lhe fez o favor já não era certamente segredo nenhum o fascínio de Hirst pelos cadáveres e pelo corpo humano degradado: com esta idade, em 1981, na cidade britânica de Leeds, onde nasceu, Damien tinha já uma colecção de livros sobre patologia e inspirava-se nas imagens de Francis Bacon (1909-1992).

É desta e de outras histórias que se está à espera de ler na autobiografia de Hirst que será publicada pela Viking Penguin. Está a ser anunciada como a próxima autobiografia rebelde depois da Morrissey autobiography, publicada no final de 2013 – pela mesma editora. A primeira edição será lançada no Outono de 2015 e começa agora a ser escrita a quatro mãos: Damien Hirst e James Fox, que fez este mesmo trabalho para Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones.

E James Fox já disse que esta vai ser uma história fascinante com o estilo atrevido de Hirst. “Vai mostrar o percurso do jovem de Leeds que chegou ao meio artístico, mas também um primeiro acto pouco conhecido – o lado negro e hilariante da juventude de Hirst, crescendo num ambiente semi-criminal, muitas vezes violento, enquanto partilhava com os amigos uma paixão forte mas pouco usual pela arte”, disse em comunicado de imprensa.

Como nome central de uma geração de artistas dos anos 1990, ler a autobiografia de Damien Hirst é ainda uma maneira de compreender os Y.B.A. (Young British Artists), já que o livro vai inevitavelmente falar do seu gang de amigos, “muitos dos quais se tornaram artistas Y.B.A. Passaram metade do seu tempo na criminalidade, assaltando casas, roubando, e a outra metade alimentando a sua paixão pela arte, que começou desde muito cedo”, disse James Fox à rádio BBC 4. “Acho comovente a ideia da arte como um elemento de salvação [do crime]”, acrescentou.

Alguma imprensa afirma já que esta é a hipótese de Hirst voltar em grande – já que ultimamente tem andado desaparecido ou simplesmente pouco interessante. “Em tempos as palavras de Hirst faziam eco. Há muito, muito tempo, nos anos 1990, era muito mais divertido ler uma entrevista do Damien Hirst quando era possível ver-se a sua última subversão das convenções artísticas”, diz o crítico de arte do jornal The Guardian, Jonathan Jones, insistindo ainda que o trabalho de Hirst se tornou repetitivo – “não admira que vá usar os serviços de um ghost writer no seu livro”, provoca. Para Jonathan Jones mergulhar no passado pode acabar por ser a salvação do artista. “Escrever um livro íntimo pode ser uma viagem criativa de redescoberta e pode pô-lo em contacto com o outro, o há muito perdido Damien Hirst – vocês sabem, o jovem artista brilhante”, escreve Jones.

Ele é afinal o mesmo jovem que em 1993 criou ensaios sobre a morte como Mother and Child (Divided) – dois tanques de formol, cada um com metade de uma vaca e outros dois, cada um com metade de um bezerro – ou The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living - um tubarão de boca aberta, pronto a atacar, também num tanque de formol. Este jovem rebelde, que não tinha medo de tocar e provocar as ideias sobre a morte, tornou-se no entanto uma máquina mediática de fazer dinheiro e nos anos 2000 já ninguém consegue separar o artista do milionário.

Em 2012, enquanto a Tate fazia uma retrospectiva da sua carreira, assim transformando-o em artista oficial, os críticos perguntavam-se se aos 47 anos – os últimos cinco sem consumir álcool ou drogas – Damien Hirst se podia dar ao luxo de fazer tudo para aumentar a sua conta bancária, incluindo má arte.

“O esforço criativo parece ter-se progressivamente focado na criação de uma marca de persona pública”, escrevia-se no Ípsilon em 2012, a propósito da exposição na Tate. Aí se lembrava que Hirst era um dos artistas britânicos vivos mais importantes, mas também aquele que todos gostavam de odiar.

Os (mais) críticos estão à espera do final de 2015 para ler sobre esse tal jovem brilhante que dizem agora perdido. Será o “livro de arte mais bombástico desde The unspeakable confessions of Salvador Dali”, diz Jonathan Jones.

 

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Um artista plástico que se fez retratar a rir ao lado de uma cabeça decapitada, numa morgue, aos 16 anos tem que ter algo de interessante para contar sobre a sua vida. Antes de tirar esta fotografia às escondidas, Damien Hirst gritou “rápido, rápido, tira foto” e para o amigo que lhe fez o favor já não era certamente segredo nenhum o fascínio de Hirst pelos cadáveres e pelo corpo humano degradado: com esta idade, em 1981, na cidade britânica de Leeds, onde nasceu, Damien tinha já uma colecção de livros sobre patologia e inspirava-se nas imagens de Francis Bacon (1909-1992).

É desta e de outras histórias que se está à espera de ler na autobiografia de Hirst que será publicada pela Viking Penguin. Está a ser anunciada como a próxima autobiografia rebelde depois da Morrissey autobiography, publicada no final de 2013 – pela mesma editora. A primeira edição será lançada no Outono de 2015 e começa agora a ser escrita a quatro mãos: Damien Hirst e James Fox, que fez este mesmo trabalho para Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones.

E James Fox já disse que esta vai ser uma história fascinante com o estilo atrevido de Hirst. “Vai mostrar o percurso do jovem de Leeds que chegou ao meio artístico, mas também um primeiro acto pouco conhecido – o lado negro e hilariante da juventude de Hirst, crescendo num ambiente semi-criminal, muitas vezes violento, enquanto partilhava com os amigos uma paixão forte mas pouco usual pela arte”, disse em comunicado de imprensa.

Como nome central de uma geração de artistas dos anos 1990, ler a autobiografia de Damien Hirst é ainda uma maneira de compreender os Y.B.A. (Young British Artists), já que o livro vai inevitavelmente falar do seu gang de amigos, “muitos dos quais se tornaram artistas Y.B.A. Passaram metade do seu tempo na criminalidade, assaltando casas, roubando, e a outra metade alimentando a sua paixão pela arte, que começou desde muito cedo”, disse James Fox à rádio BBC 4. “Acho comovente a ideia da arte como um elemento de salvação [do crime]”, acrescentou.

Alguma imprensa afirma já que esta é a hipótese de Hirst voltar em grande – já que ultimamente tem andado desaparecido ou simplesmente pouco interessante. “Em tempos as palavras de Hirst faziam eco. Há muito, muito tempo, nos anos 1990, era muito mais divertido ler uma entrevista do Damien Hirst quando era possível ver-se a sua última subversão das convenções artísticas”, diz o crítico de arte do jornal The Guardian, Jonathan Jones, insistindo ainda que o trabalho de Hirst se tornou repetitivo – “não admira que vá usar os serviços de um ghost writer no seu livro”, provoca. Para Jonathan Jones mergulhar no passado pode acabar por ser a salvação do artista. “Escrever um livro íntimo pode ser uma viagem criativa de redescoberta e pode pô-lo em contacto com o outro, o há muito perdido Damien Hirst – vocês sabem, o jovem artista brilhante”, escreve Jones.

Ele é afinal o mesmo jovem que em 1993 criou ensaios sobre a morte como Mother and Child (Divided) – dois tanques de formol, cada um com metade de uma vaca e outros dois, cada um com metade de um bezerro – ou The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living - um tubarão de boca aberta, pronto a atacar, também num tanque de formol. Este jovem rebelde, que não tinha medo de tocar e provocar as ideias sobre a morte, tornou-se no entanto uma máquina mediática de fazer dinheiro e nos anos 2000 já ninguém consegue separar o artista do milionário.

Em 2012, enquanto a Tate fazia uma retrospectiva da sua carreira, assim transformando-o em artista oficial, os críticos perguntavam-se se aos 47 anos – os últimos cinco sem consumir álcool ou drogas – Damien Hirst se podia dar ao luxo de fazer tudo para aumentar a sua conta bancária, incluindo má arte.

“O esforço criativo parece ter-se progressivamente focado na criação de uma marca de persona pública”, escrevia-se no Ípsilon em 2012, a propósito da exposição na Tate. Aí se lembrava que Hirst era um dos artistas britânicos vivos mais importantes, mas também aquele que todos gostavam de odiar.

Os (mais) críticos estão à espera do final de 2015 para ler sobre esse tal jovem brilhante que dizem agora perdido. Será o “livro de arte mais bombástico desde The unspeakable confessions of Salvador Dali”, diz Jonathan Jones.