Ilustração científica está a “renascer” em Portugal
Bienal "Focus on Nature", em Nova Iorque, recebe nove portugueses. Ilustradora Mafalda Paiva destaca a "muita qualidade" dos profissionais portugueses
A artista Mafalda Paiva, um dos nove portugueses que vão expor, a partir desta sexta-feira em Nova Iorque, na bienal "Focus on Nature", disse à Lusa que a ilustração científica está a "renascer" em Portugal. Em entrevista à agência Lusa a propósito da exposição de ilustrações internacionais sobre a natureza, que estará patente no Museu de Nova Iorque até 5 de Janeiro do próximo ano, Mafalda Paiva defendeu a "muita qualidade" dos ilustradores de hoje.
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A artista Mafalda Paiva, um dos nove portugueses que vão expor, a partir desta sexta-feira em Nova Iorque, na bienal "Focus on Nature", disse à Lusa que a ilustração científica está a "renascer" em Portugal. Em entrevista à agência Lusa a propósito da exposição de ilustrações internacionais sobre a natureza, que estará patente no Museu de Nova Iorque até 5 de Janeiro do próximo ano, Mafalda Paiva defendeu a "muita qualidade" dos ilustradores de hoje.
"A ilustração científica está a 'renascer' em Portugal", depois de ter passado por um período de estagnação, em que "quase morreu", com ilustradores "com muita qualidade" a darem cartas no meio nacional e internacional", afirmou. "A presença de tantos portugueses na bienal é exemplo disso. A maior parte dos ilustradores em Portugal foi formada por Pedro Salgado, que pode ser considerado como o primeiro ilustrador científico da nossa geração. Houve outros, em séculos passados, mas durante muitos anos a ilustração científica quase morreu em Portugal", contou. Apesar do crescimento, Mafalda Paiva alertou para a necessidade de se dar "o devido valor" à ilustração científica, reconhecendo que esse é um dos principais problemas com que os ilustradores se deparam. "Há que acreditar, dar o valor certo. É um trabalho muito demorado e difícil de fazer. Requer investigação de muitas horas", sublinhou.
Mafalda Paiva reconhece que não é fácil viver-se da ilustração científica em Portugal, seja porque "não se paga o que se deveria por este tipo de trabalho, o que leva os ilustradores a procurar trabalho no estrangeiro", seja porque "o mercado é pequeno" para a quantidade de ilustradores". Mesmo assim, este ano, na exposição "Focus on Nature", vão estar representados 14 trabalhos de nove ilustradores portugueses, selecionados entre 200 a concurso, oriundos de mais 18 países.
Mafalda Paiva foi seleccionada com duas ilustrações de insectos: uma de um escaravelho tigre e outra de uma lagarta do pinheiro. "Gosto muito de insectos e talvez por gostar de os fazer, ficam melhor. Há muitos insectos no planeta, pelo que há material para trabalhar de forma a não existirem repetições", explicou.
Paga-se "mal e tardiamente" em Portugal
Apesar de reconhecer as dificuldades, Mafalda Paiva considera que tem tido sorte no meio e garante que, apesar de se "pagar mal e tardiamente" em Portugal relativamente ao que acontece no estrangeiro, consegue viver do seu trabalho como ilustradora. "Está enraizado isto de o pagamento ser a 90 dias e de ficarmos à espera que o pagamento chegue. Há coisas que têm de mudar. Posso dizer que me empenho a 100% de cada vez que pego num projecto. Gosto realmente do que faço e ponho um pouco de amor no meu trabalho, é por aí", sublinhou.
O amor pela arte começou desde cedo, quando em pequena tinha como passatempo reproduzir a colecção de selos do pai: "Mal eu sabia que era ao contrário que se fazia. Primeiro desenha-se em grande e depois em pequeno". A artista explicou que a ilustração científica é um trabalho que requer várias etapas, primeiro a observação no local, depois vários estudos, consoante seja um animal ou um objecto. Tendo em conta o objecto de estudo podem ser precisos microscópios ou lupas binoculares, porque há detalhes que não se veem a olho nu; é então necessário procurar imagens e informação científica já existente para elaborar a ilustração, explicou.
Trata-se de um trabalho que segue determinados preceitos, conforme avançou, já que para a ilustração dita de reconhecimento de espécie, se for o caso de um peixe, este tem de ter a cabeça à esquerda e a parte da cauda à direita — há regras que se têm de seguir, reconheceu a ilustradora, que trabalha no Ecomuseu Municipal do Seixal.