Putin espera “não ser obrigado” a enviar tropas para o Leste da Ucrânia

Presidente russo admitiu pela primeira vez que enviou forças militares para a Crimeia.

Foto
Presidente russo fez um espectáculo de comunicação Sergei Karpukhin/REUTERS

“Relembro que o Conselho da Federação Russa [câmara alta do Parlamento] concedeu ao Presidente o direito de usar as Forças Armadas na Ucrânia. Espero verdadeiramente não ser obrigado a recorrer a este direito e que consigamos resolver todos os assuntos urgentes por meios diplomáticos e políticos”, disse Putin num programa em directo na televisão em que respondeu a perguntas do público previamente seleccionadas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Relembro que o Conselho da Federação Russa [câmara alta do Parlamento] concedeu ao Presidente o direito de usar as Forças Armadas na Ucrânia. Espero verdadeiramente não ser obrigado a recorrer a este direito e que consigamos resolver todos os assuntos urgentes por meios diplomáticos e políticos”, disse Putin num programa em directo na televisão em que respondeu a perguntas do público previamente seleccionadas.

Depois da chegada ao poder em Kiev de líderes hostis ao Kremlin, a Crimeia fez um referendo onde a maioria dos habitantes que votaram escolheram integrar a Rússia. Após a votação, que os Estados Unidos e a União Europeia não reconhecem, Moscovo anexou a península do mar Negro. Entretanto, o Kremlin mobilizou tropas ao longo da fronteira com a Ucrânia e, nos últimos dez dias, grupos pró-russos têm ocupado sedes do poder local e esquadras em dezenas de cidades do Leste do país.

Putin desmentiu que tenha enviado forças especiais para a Ucrânia, como acusa Kiev. “É tudo um disparate. Não há nenhum tipo de unidades russas no Leste da Ucrânia. Nem forças especiais nem instrutores. São tudo cidadãos locais”, assegurou. Isso não significa que o Governo russo tenha abdicado da obrigação de defender as populações etnicamente russas da Ucrânia: “Temos de fazer tudo para ajudar estas pessoas a proteger os seus direitos e a determinarem independentemente o seu destino.” Os grupos que ocuparam os edifícios governamentais exigem realizar referendos como o que aconteceu na Crimeia.

Esta semana, entretanto, o Governo interino ucraniano lançou uma operação para recuperar as zonas ocupadas e já houve mortos dos dois lados. A culpa, diz Putin, é de Kiev, que está a “arrastar o país para um abismo”. Apelando ao diálogo entre as autoridades ucranianas e os separatistas (“Um compromisso só pode ser encontrado na Ucrânia”), Putin acusou o Governo interino de “um crime grave” ao “lançar os tanques e a aviação contra a população civil”.

“O que é preciso é assegurar e defender os direitos do Sudeste russo”, defendeu o chefe de Estado, antes de falar da região como mais russa do que ucraniana. “É a nova Rússia. Kharkov, Lugansk, Donetsk, Odessa não eram parte da Ucrânia no tempo dos czares, foram transferidos em 1920”, lembrou. “Porquê? Só Deus sabe.”

Admitindo pela primeira vez que enviou tropas russas para a Crimeia, o Presidente russo justificou essa decisão. “Era preciso proteger as pessoas”, disse. “Tivemos de dar passos indispensáveis para que os acontecimentos não se desenvolvessem como acontece actualmente no Sudeste da Ucrânia.”

A "nova Rússia" – Crimeia – esteve em destaque neste programa de televisão, com Putin a responder a perguntas de habitantes de Sebastopol, o porto da península onde Moscovo tem estacionada a sua Frota do Mar Negro, e câmaras a mostrarem uma multidão que agitava bandeiras russas e agradecia ao chefe de Estado. Putin aproveitou para explicar melhor a anexação da Crimeia, reconhecendo que esta também se deveu à expansão da NATO para leste e à necessidade de salvaguardar a Ucrânia como parte do espaço de influência russo.

“Quando a infra-estrutura de um bloco militar se move em direcção às nossas fronteiras, isso causa preocupações”, disse. “A nossa decisão sobre a Crimeia deveu-se em parte a considerarmos que, se não fizéssemos nada, a certa altura, guiada pelos mesmos princípios, a NATO arrastaria a Ucrânia e depois diria: ‘Não tem nada a ver convosco.’” Em resposta à pergunta de um jornalista que descreveu a Aliança Atlântica como “um tumor canceroso”, Putin disse que a NATO “não assusta” a Rússia.

Repetindo que a UE precisa do gás russo, Putin avisou ainda a Ucrânia que se não saldar a sua dívida com a Rússia no próximo mês vai começar a exigir pagamentos antecipados antes de fornecer o gás que o país vende aos ucranianos.