Presidente da Ucrânia lança operação de larga escala contra os separatistas do Leste

Moscovo responde dizendo que a mobilização da tropa contra os manifestantes é "criminosa". Nações Unidas vão reunir de emergência o Conselho de Segurança.

Foto
Rebeldes pró-russos prometem resistir ao Exército ucraniano AFP/ANATOLIY STEPANOV

Numa declaração ao país transmitida a partir do parlamento, o Presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchinov, explicou que a ordem do Exército era “resistir à agressão da Rússia”, e evitar a “repetição do cenário da Crimeia”, a península do Sul do país que votou em referendo a anexação na Federação Russa. O Presidente estabeleceu um prazo até às seis horas da manhã de segunda-feira para a deposição das armas pelos rebeldes, e prometeu que aqueles que desistissem da luta não seriam alvo de acusação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Numa declaração ao país transmitida a partir do parlamento, o Presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchinov, explicou que a ordem do Exército era “resistir à agressão da Rússia”, e evitar a “repetição do cenário da Crimeia”, a península do Sul do país que votou em referendo a anexação na Federação Russa. O Presidente estabeleceu um prazo até às seis horas da manhã de segunda-feira para a deposição das armas pelos rebeldes, e prometeu que aqueles que desistissem da luta não seriam alvo de acusação.

Ao fim do dia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia emitiu uma nota em que classificava a mobilização da tropa contra os rebeldes separatistas como uma “ordem criminal” e dizia que era o Ocidente que tinha agora “a responsabilidade de evitar uma guerra civil na Ucrânia”.

Numa ofensiva concertada que as autoridades ucranianas, os Estados Unidos e a Nato dizem “ter todos os sinais do envolvimento de Moscovo”, grupos rebeldes separatistas ocuparam esquadras de polícia, câmaras municipais, quartéis das forças de segurança, escritórios do Ministério Público e outros edifícios associados ao poder nacional e regional em várias localidades do leste do país – Slaviansk, Kramatorsk, Druzhkivka, Ienakievo, Mariupol, Kharkov, Zaporizhia, Makiyvka, Kostriantinivka, Ilovaisk, Horlivka, Dobropillia, Artemivsk, além de Lubansk e Donetsk, o centro da cintura industrial do país.

A resposta do Exército de Kiev foi desencadeada pela ocupação do quartel da polícia da cidade de Slaviansk por um grupo de homens vestidos com fardas russas, que se apoderaram de centenas de armas. Os soldados ucranianos cercaram o local, que estava também a ser “defendido” por centenas de residentes locais, mas não forçaram a entrada.

A Al-Jazira dizia que o Exército decidiu retirar por causa do elevado risco para a segurança da população. Confrontado com os efectivos da Guarda Nacional ucraniana, um dos residentes que participava num bloqueio de estrada com pneus lançava um apelo ao “camarada Putin". "Ele prometeu proteger-nos: Precisamos de apoios”, dizia.

Num relato no Facebook, o jornalista ucraniano Dmitri Timchuk escreveu que as forças pró-russas barricadas em Slaviansk eram compostas por “cerca de 600 pessoas”, cem das quais tinham sido identificadas como agentes russos. Os restantes, prosseguiu, são elementos conhecidos localmente como membros de um gang criminoso e outros são funcionários de um conhecido oligarca da região.

Movimentações semelhantes foram sendo reportadas ao longo do dia em várias localidades. A agência Interfax ucraniana descreveu um cerco de militantes pró-russos à câmara municipal de Kharkov, onde o autarca Gennadi Kernes se encontrava refugiado. Segundo a BBC, a câmara da cidade de Makiyivka também foi ocupada por um grupo de rebeldes, que se apressaram a içar a bandeira da Rússia no edifício, enquanto uma multidão de mais de mil pessoas erigia uma barreira de pneus para proteger a porta.

Em Kramatorsk, os manifestantes diziam-se “dispostos a tudo” para garantir a realização de um referendo de auto-determinação idêntico ao da Crimeia. “A situação no sudeste da Ucrânia está a assumir proporções extremamente perigosas. As autoridades de Kiev que tomaram o poder num golpe de Estado pretendem usar a força para travar os protestos. Condenamos veementemente qualquer tentativa de repressão contra manifestantes e activistas”, dizia o comunicado do Kremlin, que desde a revolução popular contra o Presidente Viktor Ianukovich reclama autoridade para intervir no país vizinho para proteger a população russófona ucraniana.

Nas Nações Unidas, em Nova Iorque, a embaixadora norte-americana Samantha Power disse que os Estados Unidos estavam prontos para “carregar” as sanções contra a Rússia em resposta aos últimos desenvolvimentos. Em declarações à cadeia ABC, Power responsabilizou Moscovo pelas manobras separatistas deste fim-de-semana  e lembrou que o Presidente Barack Obama tinha tornado muito claro que os Estados Unidos poderiam aprovar novas sanções sectoriais (penalizando a banca, ou as empresas de minas e energia) “em função do comportamento da Rússia”.

“Já vimos como as sanções económicas doem”, frisou a representante dos Estados Unidos na ONU, referindo-se à queda da cotação do rublo para o mínimo histórico, à desvalorização de cerca de 20% do mercado de capitais russo ou a fuga maciça de capitais do país. “Se as acções no terreno [no Leste da Ucrânia] não pararem, vamos seguramente assistir a um reforço do pacote de sanções”, antecipou.

Ecoando as suspeições de Samantha Power, o secretário-geral da Nato, Anders Fogh Rasmussen, confirmou a presença no terreno de combatentes apetrechados com armas e uniformes militares idênticos aos que são usados pelo Exército russo, embora sem a insígnia oficial, que se comportam de forma “profissional”.