Durão e Portugal ou um amargo elogio
Durão Barroso ouviu elogios e auto-elogiou-se numa conferência onde imperou o seu ego.
Demasiado evidente, demasiado forçado, demasiado embaraçante, talvez mesmo demasiado indecoroso. Durão Barroso, em fim de mandato europeu, esteve ontem em Lisboa numa conferência promovida por si próprio, na qualidade de detentor do cargo de presidente da Comissão Europeia, para ouvir em solo pátrio os elogios que na Europa lhe negam. E ouviu muitos, em particular pela voz do Presidente Cavaco Silva: “Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o dr. Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento.” Ainda Cavaco Silva: “Foi gratificante para Portugal ter uma figura com o seu prestígio e conhecimento da realidade do nosso país e do mundo no exercício de tão altas funções.” Ou: “Portugal e os portugueses, tal como os outros Estados-membros, muito lhe devem.” Passos Coelho, o primeiro-ministro, também juntou a sua voz aos agradecimentos. “A Europa apostou e confiou em Portugal e sempre fomos apoiados pelo presidente da Comissão Europeia”, acrescentando, como se agradecesse ainda a ajuda de Barroso, que “o novo quadro financeiro plurianual foi tudo menos uma negociação fácil”. Ora o presidente da Comissão, em tempos tão criticado por ter virado costas a Portugal num momento de crise grave para subir os degraus da Europa, não teve pejo em, face a tão benévolas considerações, fazer eco delas em afirmações auto-elogiosas: “Por proposta e insistência — não foi fácil — da Comissão Europeia, foi possível aumentar a taxa de co-financiamento comunitária para os países em ajustamento.” Ou: “Por minha proposta, foram atribuídos a Portugal mais mil milhões de euros.” Prestou, é justo dizê-lo, “uma sincera homenagem ao esforço dos portugueses”. Mas na verdade o que o trouxe a Lisboa foi o seu ego. O que fará com ele é o que o futuro nos há-de dizer.
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Demasiado evidente, demasiado forçado, demasiado embaraçante, talvez mesmo demasiado indecoroso. Durão Barroso, em fim de mandato europeu, esteve ontem em Lisboa numa conferência promovida por si próprio, na qualidade de detentor do cargo de presidente da Comissão Europeia, para ouvir em solo pátrio os elogios que na Europa lhe negam. E ouviu muitos, em particular pela voz do Presidente Cavaco Silva: “Posso testemunhar, como poucos, a atenção que o dr. Durão Barroso sempre prestou aos problemas do país e a valiosa contribuição que deu para encontrar soluções, minorar custos, facilitar apoios e abrir oportunidades de desenvolvimento.” Ainda Cavaco Silva: “Foi gratificante para Portugal ter uma figura com o seu prestígio e conhecimento da realidade do nosso país e do mundo no exercício de tão altas funções.” Ou: “Portugal e os portugueses, tal como os outros Estados-membros, muito lhe devem.” Passos Coelho, o primeiro-ministro, também juntou a sua voz aos agradecimentos. “A Europa apostou e confiou em Portugal e sempre fomos apoiados pelo presidente da Comissão Europeia”, acrescentando, como se agradecesse ainda a ajuda de Barroso, que “o novo quadro financeiro plurianual foi tudo menos uma negociação fácil”. Ora o presidente da Comissão, em tempos tão criticado por ter virado costas a Portugal num momento de crise grave para subir os degraus da Europa, não teve pejo em, face a tão benévolas considerações, fazer eco delas em afirmações auto-elogiosas: “Por proposta e insistência — não foi fácil — da Comissão Europeia, foi possível aumentar a taxa de co-financiamento comunitária para os países em ajustamento.” Ou: “Por minha proposta, foram atribuídos a Portugal mais mil milhões de euros.” Prestou, é justo dizê-lo, “uma sincera homenagem ao esforço dos portugueses”. Mas na verdade o que o trouxe a Lisboa foi o seu ego. O que fará com ele é o que o futuro nos há-de dizer.