Pastelaria Mexicana em Lisboa é monumento de interesse público

Proposta de classificação foi apresentada há dez anos. Secretaria de Estado da Cultura destaca o espaço como um testemunho do modernismo em Portugal.

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Pedro Cunha

Publicado nesta quinta-feira em Diário da República, o despacho destaca a “continuidade formal entre fachada e interiores” da pastelaria situada no número 30 da Avenida Guerra Junqueiro, freguesia do Areeiro. A classificação abrange o “património integrado” da pastelaria, em especial o painel cerâmico Sol Mexicano, de Querubim Lapa, a cabine telefónica interior e o “passarinhário”, uma espécie de gaiola de vidro com aves no seu interior.

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Publicado nesta quinta-feira em Diário da República, o despacho destaca a “continuidade formal entre fachada e interiores” da pastelaria situada no número 30 da Avenida Guerra Junqueiro, freguesia do Areeiro. A classificação abrange o “património integrado” da pastelaria, em especial o painel cerâmico Sol Mexicano, de Querubim Lapa, a cabine telefónica interior e o “passarinhário”, uma espécie de gaiola de vidro com aves no seu interior.

Os interiores caracterizam-se pela “fluidez da modulação espacial e ela coerência estética que resultam do nivelamento dos pisos, do tratamento das paredes e tectos e da manutenção de algum mobiliário, dos elementos decorativos e do sistema de iluminação de origem”, lê-se no despacho.

A Mexicana foi inaugurada em 1946 e integralmente remodelada entre 1961 e 1962, segundo um projecto do arquitecto modernista Jorge Ribeiro Ferreira Chaves. Tanto pela sua “concepção espacial como pelos elementos decorativos integrados”, a pastelaria constitui hoje um “notável testemunho das tendências expressionistas do movimento da arquitectura moderna em Portugal”, considera a secretaria de Estado da Cultura.

A pastelaria ocupa quatro pisos de um prédio dos anos 1940, com o rés-do-chão e a primeira cave destinados ao serviço do público. O estabelecimento prolonga-se para a rua com uma esplanada coberta por uma pala de betão com letreiro luminoso.

Segundo uma descrição do espaço disponível na página de Internet da Câmara de Lisboa, a Mexicana foi ponto de encontro para vários artistas ligados ao surrealismo e ao neo-realismo, bem como de arquitectos da geração que fixou o movimento moderno em Portugal. A autarquia lembra que a pastelaria serviu de cenário a alguns filmes portugueses, nomeadamente o Corte de Cabelo de Joaquim Sapinho, em 1995.

A proposta de classificação foi apresentada em 1994 por Manuel Ferreira Chaves e Michel Toussaint Alves Pereira. Depois de dez anos em apreciação, o despacho foi assinado a 25 de Março pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

Outras classificações

O governante decidiu também classificar como monumento de interesse público a casa onde o escritor Fialho de Almeida viveu durante 18 anos na vila alentejana de Cuba, devido ao seu valor patrimonial associado à "relevante figura da literatura portuguesa".

O escritor mudou-se para aquela casa em 1893, depois de ter casado com uma proprietária rural da região, e viveu lá até morrer, em 1911. O valor patrimonial da casa, um imóvel térreo, que conserva "intactas" as características arquitectónicas originais, "estende-se à sua associação" a Fialho de Almeida, uma "relevante figura da literatura portuguesa", refere a portaria. O documento assinala a importância da habitação para a identidade e a memória colectiva nacional, sendo um "indubitável ponto de referência histórica e simbólica da sua comunidade".

Nesta quinta-feira também foi publicada em Diário da República a portaria da classificação como monumento de interesse público da Quinta da Amoreira da Torre, uma antiga herdade agrícola e de recreio situada no concelho de Montemor-o-Novo, no distrito de Évora. A herdade - documentada desde 1321, quando pertencia ao Cabido da Sé de Évora - é constituída por um núcleo original quatrocentista e quinhentista, ao qual se acrescentaram novos elementos nos séculos XVII, XVIII e XX.

O conjunto arquitectónico mais arcaico inclui uma torre ameada, que dá o nome à propriedade, uma capela, que foi praticamente reconstruída no século XVII, um pombal, uma alameda de loureiros e uma cerca, elementos do início do século XVI, e a designada Fonte da Rainha, ainda de cronologia quatrocentista, assinalada por "um elegante templete tardo-gótico" em brecha da Arrábida.

"Ao longo da fachada posterior corre um largo tanque, que deita sobre os jardins, alimentando diversos tanques de rega e recreio, que, juntamente com as áreas verdes e pomares originais, já quase desaparecidos, contribuíam para a criação de um espaço paradisíaco, de ressonâncias islâmicas, no meio da aridez da planície envolvente", lê-se no despacho.