Peticionários assumem que manifesto dos 74 “tem significado político”
Petição que propõe reestruturação da dívida, com mais de 34 mil assinaturas, foi entregue esta quarta-feira no Parlamento.
Alfredo José de Sousa falava aos jornalistas no Parlamento depois de, acompanhado de um grupo de nove personalidades que são subscritores da petição, ter entregue o documento à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
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Alfredo José de Sousa falava aos jornalistas no Parlamento depois de, acompanhado de um grupo de nove personalidades que são subscritores da petição, ter entregue o documento à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
“Uma coisa é a politização, outra é a partidarização. É óbvio que isto não deixa de ter significado político. Não tem é significado partidário, muito menos classista”, afirmou, depois de questionado sobre o significado político que tem sido atribuído pelo Governo à iniciativa.
Após dar entrada no Parlamento, a petição (que tem mais de 34 mil assinaturas) tem de passar pela comissão parlamentar e de seguida é discutida em plenário, mas não é votada. O teor da petição só pode ser votado se os partidos apresentarem um projecto de resolução associado. PS e BE já anunciaram que o vão fazer, o PCP antecipou-se e marcou um debate já na próxima semana.
Questionado sobre o provável chumbo dos projectos, Alfredo José de Sousa admite que isso terá consequências políticas. "As atitudes ficam com quem as toma. Se a Assembleia da República chumbar, há-de ter com certeza um reflexo político", afirmou. Qual reflexo? “Obviamente o eleitorado. Chamava a atenção para a pluralidade política, económica e social deste grupo”, respondeu.
O porta-voz do grupo recebido por Assunção Esteves (no qual não estiveram figuras como Bagão Felix ou Ferreira Leite) contestou ainda o argumento de que a proposta pode abalar os credores. “Nunca ninguém pensou em agradar aos credores das pensões”, disse referindo-se aos cortes aos pensionistas. E descartou a conotação de perdão da dívida: “Não se fala em perdão da dívida.”
Alfredo José de Sousa lembrou que depois de 25 de Maio “há outro Parlamento Europeu e outra Comissão Europeia”. Questionado sobre se isso representa uma maior disponibilidade por parte de Bruxelas e do Governo português para discutir a reestruturação da dívida, o antigo provedor de Justiça foi lacónico: “Eu profissões de fé só faço noutro âmbito que não este."
A delegação que entregou a petição era composta por: António Franco (embaixador), Melo Gomes (almirante), Eduardo Pais Ferreira (professor), Francisca Soromenho (presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa), Francisco Louçã (ex-líder do BE), Pedro Adão e Silva (antigo dirigente do PS), João Cravinho (ex-ministro do PS) e Ricardo Bayão Horta (professor).
No texto da petição entregue esta quarta-feira, os subscritores exigem “a reestruturação da dívida pública de Portugal, cuja responsabilidade não é do cidadão comum, mas advém da má gestão dos seus governantes”. A proposta “tem como finalidade torná-la razoável e pagável no prazo máximo de 25 anos”, lê-se no texto publicado online.
Só depois de ser tratada na comissão parlamentar, onde habitualmente são ouvidos os peticionários, a petição é agendada para ser discutida em plenário quando tem mais de quatro mil assinaturas como é o caso. A bancada bloquista quer colocar “este consenso alargado” a votação e toma como suas as propostas do manifesto ao defender o abaixamento “significativo da taxa da média de juro do stock da dívida, a extensão das maturidades da dívida para 40 ou mais anos e a reestruturação, pelo menos, da dívida acima dos 60% do PIB.
No seu projecto de resolução, os bloquistas assumem que tem defendido a reestruturação da dívida noutros moldes, mas que decidiram “valorizar o consenso alcançado”. O PCP já tinha anunciado, antes mesmo de ser conhecido o manifesto dos 74, que iria insistir na renegociação da dívida e marcou a discussão do seu projecto para o próximo dia 16. A bancada comunista recomenda ao Governo a renegociação da dívida, reduzindo montantes e juros bem como alargando prazos, através de um grupo de missão promovido pelo Conselho Económico e Social. Um primeiro passo é a “determinação da dívida pública directa do Estado”. Os comunistas defendem ainda que devem ser assumidas as “componentes ilegítimas da dívida”, que têm a ver com negócios ou especulações feitos no privado e que o Estado não deve assumir, de que são exemplos os contratos swap (de alto risco). <_u13a_p>
Lançado por um grupo de 74 personalidades – da esquerda à direita – o manifesto foi depois assinado por 70 intelectuais e economistas estrangeiros. Mas o Governo e a maioria têm argumentado que a proposta de renegociação representa dar um sinal errado ao mercado. Um sinal que, segundo fontes sociais-democratas, muito menos se pretende dar antes das eleições europeias de 25 de Maio. <_u13a_p>