E, em 2013, Sabrina acordou em 2002
Brasileira de 32 anos acordou um dia sem se lembrar dos últimos 11 anos da sua vida. Levou cinco meses a recuperar a memória.
Na noite anterior a perder a memória, Sabrina, uma empreendedora responsável por projectos sociais, tinha-se deitado indisposta mas nada que necessitasse de cuidados médicos. Quando acordou no dia seguinte, a mulher com quem Rafael Velasco estava casado tinha desaparecido. “A Sabrina que tinha voltado era uma Sabrina completamente diferente da pessoa que eu conhecia”, lembra em declarações ao G1, o site de notícias da Globo.
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Na noite anterior a perder a memória, Sabrina, uma empreendedora responsável por projectos sociais, tinha-se deitado indisposta mas nada que necessitasse de cuidados médicos. Quando acordou no dia seguinte, a mulher com quem Rafael Velasco estava casado tinha desaparecido. “A Sabrina que tinha voltado era uma Sabrina completamente diferente da pessoa que eu conhecia”, lembra em declarações ao G1, o site de notícias da Globo.
Rafael assustado chamou uma ambulância e Sabrina foi para o centro de saúde local. Aos médicos repetiu o que já tinha dito ao marido: “Estamos em Maio de 2002”. “Na minha cabeça, eu estava com 21 anos”, contou ao G1.
Nessa altura, Sabrina era casada com Vinicius e tinha um filho com três meses de idade. Foi por Vinicius que perguntou enquanto esteve a ser observada pelos médicos, sem nunca mencionar os seus outros dois filhos. À mãe, Doris Campos, Sabrina perguntava pelo marido, pelo bebé e a cada resposta que recebia sentia-se enganada. “A mãe está a querer enganar-me por quê?”, perguntou.
No regresso a casa, mais uma surpresa. Sabrina não se recordava da sua morada actual. Para ela a sua casa era aquela onde vivia em 2002 com Vinicius. “Ela ficou assustadíssima, e queria sair e nós a forçá-la para entrar, e ela querendo sair. E o pior era ver os meus netos a pedir a mãe”, recorda Doris Campos ao G1.
O diagnóstico
Perante o estado de Sabrina que não se alterou nos dias seguintes, a família levou-a a três unidades hospitalares até conseguir uma explicação sobre o que estava a acontecer. No Hospital das Clínicas de São Paulo, os exames neurológicos não revelaram nenhum problema físico e os médicos concluíram que Sabrina estava sob uma amnésia dissociativa. Neste tipo de amnésia, a pessoa perde a capacidade de recordar momentos da sua vida pessoal. Esta perda está habitualmente associada à sujeição a acontecimentos traumáticos ou muito stressantes, os quais o doente não terá enfrentado e resolvido. O doente pode levar horas, dias ou anos, em alguns casos, a recuperar a memória.
Ao G1, a psiquiatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro Adriana Fizman, explicou que na origem da amnésia dissociativa está um “trauma emocional muito intenso, vivido principalmente na infância, adolescência”. “O stress, a má alimentação, a falta de sono podem desencadear uma doença cardíaca em um, transtorno do pânico no outro. No caso dela, fez com que ela adoecesse dessa forma”, concluiu a psiquiatra.
Sabrina confirmou que no passado tinha sofrido um abuso, que não esclareceu, e que tinha passado por algumas perdas violentas. Mais recentemente dormia muito pouco e trabalhava muito.
Após o diagnóstico de amnésia dissociativa, Sabrina foi para casa medicada e aconselhada a procurar ajuda psiquiátrica. Mas rapidamente abandonou a medicação, por esta alimentar a sua falta de memória. “Quando passava o efeito, eu começava a lembrar-me de algumas coisas. E, nessa altura, comecei a registar [as memórias] num caderno”, explica.
Procurou os que lhe diziam que eram amigos, familiares, o que lhe estimulou a memória afectiva. Até as evoluções tecnológicas tiveram que lhe ser reapresentadas, porque não se lembrava do que em 11 anos tinha aparecido.
Regresso à vida de 2013
Foi uma amiga que a fez avançar no tempo e a regressar a casa, ao marido e aos filhos e a pressionar a mente para recordar 11 anos de vida. “Percebi que a minha memória voltava quando eu sentia determinados cheiros ou escutava algumas coisas. Vinham imagens à minha cabeça”, recorda a brasileira.
Com o apoio da família foi retomando o contacto com amigos de infância, adolescência, do trabalho, que lhe contavam quem era Sabrina para eles. “Acabei reconhecendo a grande maioria pelo cheiro e também pela voz”, confessou.
Quanto ao marido e aos filhos, Sabrina levou algum tempo a regressar ao ponto em que de um momento para o outro deixou de ser mulher de Rafael e mãe de três crianças. “Eu falava para o Rafa: ‘Estou lembrando de mim grávida das crianças, estou lembrando do nosso casamento’. E eu comecei a chorar muito, fiquei muito emocionada”. O lado afectivo foi mais complicado. “Ele teve de fazer de tudo para eu me apaixonar de novo. Porque eu não o aceitava de forma alguma”, lamenta.
A memória voltou a 30 de Dezembro do ano passado, cerca de cinco meses depois do primeiro dia de amnésia. “Comecei o ano de 2014 em 2014”, sublinha.