Catraia, um projecto português para combater o consumismo

Iolanda Ferreira ganhou um prémio com um projecto de recuperação de móveis antigos com junção de cortiça. A distinção chegou antes mesmo de saber o quer era restaurar uma peça. Agora, a Catraia abriu uma loja em São João da Madeira

Foto
Adriano Miranda

Iolanda Ferreira cresceu rodeada de mobiliário na fábrica do avô, em São João da Madeira, mas criar a própria marca não estava nos seus planos. Foi o destino que lhe “trocou as voltas”, quando, em Setembro de 2012, ganhou um prémio de criatividade no concurso “Startup Pirates” com um projecto de recuperação de móveis antigos com incorporação de cortiça.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Iolanda Ferreira cresceu rodeada de mobiliário na fábrica do avô, em São João da Madeira, mas criar a própria marca não estava nos seus planos. Foi o destino que lhe “trocou as voltas”, quando, em Setembro de 2012, ganhou um prémio de criatividade no concurso “Startup Pirates” com um projecto de recuperação de móveis antigos com incorporação de cortiça.

A ideia era apenas isso: uma ideia num papel. “Apresentei o conceito mas não sabia como concretizá-lo. A minha primeira peça foi a minha cobaia. Fui perguntando e lendo e experimentando”, disse ao P3 a jovem, mestre em Design de Interiores e Equipamento.

Depois de uma semana a assentar ideias e de muita gente a incentivá-la, Iolanda Ferreira ganhou coragem e pôs as mãos na massa: “A partir do momento em que criei a primeira peça, e em que deu certo, não parei mais.”

Foto
A loja fica na Oliva Creative Factory abriu no mês de Março Adriano Miranda

Um ano e meio depois, a Catraia inaugurou uma loja na Oliva Creative Factory, em São João da Madeira, onde tinha já o seu atelier e, se tudo der certo, a internacionalização será o próximo passo. "Quero mostrar o que é nosso, levar Portugal lá fora", assume.  

Foto
A internacionalização será o próximo passo da Catraia Adriano Miranda

A Catraia “surgiu de um problema chamado consumismo”: “As pessoas compram sempre peças novas e eu fui buscar coisas da nossa história para tentar travar isso”, recorda.

Foto
Iolanda Ferreira faz “recuperação e reinterpretação de mobiliário antigo” Adriano Miranda

Cortiça: por Portugal e pelo ambiente

Para fugir às já comuns marcas de recuperação de mobiliário, a jovem de 24 anos pegou num material que sempre quis usar: a cortiça. “Faço recuperação e reinterpretação de mobiliário antigo”, congratula-se.

Na lista de criações de Iolanda há quase tudo: cadeiras, bancos, mesas, cabides, “puffs”, candeeiros. Sempre com cortiça incorporada, claro.

A escolha deste material ecológico não foi ocasional. O lado estético da cortiça sempre fascinou a jovem de São João da Madeira, que descobriu um potencial ainda maior quando começou a utilizá-la com frequência.

Em casa, graças à ligação da família ao ramo do mobiliário, tinha várias peças para usar. Mas tornou-se também uma frequente visitante de feiras de antiguidades e passou a receber várias ofertas de pessoas que queriam desfazer-se de mobiliário antigo.

Do projecto vencedor do “Startup Pirates”, em 2012, não ficou o nome inicial, .This is. "Uma das críticas do júri foi a de dar um nome inglês a um produto tão nacional." O nome Catraia surgiu para contrariar esse reparo: “Significa moça irrequieta e é também o que se chama a umas pequenas embarcações de madeira que eram conduzidas por uma só pessoa.”

A condutora deste projecto continua, para já, a trabalhar numa empresa local como designer de interior e equipamentos. Mas um dia — e a abertura da loja é já um passo importante nesse sentido — sonha fazer da Catraia a sua principal ocupação.