Investimento perdido
O Parlamento é hoje um parceiro decisivo e não seria fácil impor-lhe um novo Barroso ou um sucedâneo de Van Rompuy, e ainda menos os próprios, que tão desprestigiados saem dos seus mandatos.
As eleições vão gerar um novo Parlamento, onde os socialistas ganharão poder, os próximos presidentes da Comissão e do Conselho Europeu não serão nem Barroso nem Van Rompuy, mas talvez Martin Schulz e Jean-Claude Juncker, por esta ordem, ou pela inversa e também o Conselho de Chefes de Estado e de Governo irá sofrer progressivas modificações com a tendência para a esquerda averbar vitórias crescentes, isolada, ou em coligação. Acresce a visível modificação de atitude do Banco Central Europeu (BCE) nas palavras do seu governador, Mario Draghi, ao admitir de forma explícita pela primeira vez uma política de "quantitative easing", do tipo da adoptada pela Reserva Federal dos EUA, a qual permitirá adquirir dívida soberana, sem limite, em mercado secundário, com o objectivo de injectar recursos na economia anémica e assim evitar a estagnação, o desemprego e sobretudo deflação, a mãe de todas as economias declinantes. É certo que Draghi havia salvado a Europa em Setembro de 2012, quando alertou os especuladores para a possibilidade de o BCE passar a intervir na compra secundária de dívida soberana. Bastou então, a ameaça, para que os mercados se acalmassem. Agora vai mais longe e associa a medida à necessidade de gerar crescimento e lutar contra o desemprego. Diferença fundamental. Nunca se vira o BCE tão preocupado com o emprego e o crescimento. Foi necessário o fantasma da deflação para que tal sucedesse. Ainda bem. Para não ficarmos limitados aos miseráveis seis mil milhões de euros, o máximo que a União Europeia conseguiu disponibilizar para a iniciativa Emprego Jovem. Por fim, até a Chanceler Merkel, de quem se poderia dizer puxar do “nein” sempre que ouvia falar em desemprego, admite agora que é necessário olhar de forma atenta para a falta de emprego nos mais jovens.
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As eleições vão gerar um novo Parlamento, onde os socialistas ganharão poder, os próximos presidentes da Comissão e do Conselho Europeu não serão nem Barroso nem Van Rompuy, mas talvez Martin Schulz e Jean-Claude Juncker, por esta ordem, ou pela inversa e também o Conselho de Chefes de Estado e de Governo irá sofrer progressivas modificações com a tendência para a esquerda averbar vitórias crescentes, isolada, ou em coligação. Acresce a visível modificação de atitude do Banco Central Europeu (BCE) nas palavras do seu governador, Mario Draghi, ao admitir de forma explícita pela primeira vez uma política de "quantitative easing", do tipo da adoptada pela Reserva Federal dos EUA, a qual permitirá adquirir dívida soberana, sem limite, em mercado secundário, com o objectivo de injectar recursos na economia anémica e assim evitar a estagnação, o desemprego e sobretudo deflação, a mãe de todas as economias declinantes. É certo que Draghi havia salvado a Europa em Setembro de 2012, quando alertou os especuladores para a possibilidade de o BCE passar a intervir na compra secundária de dívida soberana. Bastou então, a ameaça, para que os mercados se acalmassem. Agora vai mais longe e associa a medida à necessidade de gerar crescimento e lutar contra o desemprego. Diferença fundamental. Nunca se vira o BCE tão preocupado com o emprego e o crescimento. Foi necessário o fantasma da deflação para que tal sucedesse. Ainda bem. Para não ficarmos limitados aos miseráveis seis mil milhões de euros, o máximo que a União Europeia conseguiu disponibilizar para a iniciativa Emprego Jovem. Por fim, até a Chanceler Merkel, de quem se poderia dizer puxar do “nein” sempre que ouvia falar em desemprego, admite agora que é necessário olhar de forma atenta para a falta de emprego nos mais jovens.
A mudança dos protagonistas tem uma importância decisiva. Por muito que a direita e a esquerda radical critiquem Hollande, a verdade é que com ele não houve conversinhas a dois, como acontecia com Sarkozy e Merkel. A verdade é que a entrada de Martin Schulz na sala do Conselho Europeu e o seu sempre fortíssimo discurso inicial influenciaram a atitude do Conselho, não tanto contra a Alemanha como contra a fragilidade das políticas de luta contra a crise, envenenadas pelo pensamento único dos neo-liberais do costume. Outra coisa será ter nos dois lugares de comando o Alemão Schulz e o Luxemburguês Juncker, pessoas de enorme experiência política, dedicação ao interesse público e sobretudo dotados da sensibilidade social que escasseia nos actuais titulares.
Sabemos que esta mudança de testemunho não está garantida, tendo muitos obstáculos a impedi-la. Desde logo, uma forte vitória dos extremos, enfraquecendo os dois partidos do centro esquerda e centro direita que nas sondagens se encontram praticamente empatados. Depois, pode bem acontecer que os actuais protagonistas de saída para marcarem a sua mediocridade, na falta de uma maioria clara no Parlamento pretenderem candidatar outros ou até eles próprios, na senda de combinações vergonhosas do passado. Será difícil, o Parlamento de hoje não é a estrutura retórica de há cinco ou dez anos. O Parlamento é hoje um parceiro decisivo e não seria fácil impor-lhe um novo Barroso ou um sucedâneo de Van Rompuy, e ainda menos os próprios, que tão desprestigiados saem dos seus mandatos.
Gostaria de não ter que me referir ao actual presidente da Comissão, o português Durão Barroso. O que tenho a dizer custa-me. Votei nele em 2009, integrando uma maioria qualificada, ao lado dos colegas de Espanha e da quase totalidade dos Portugueses. Cumpri orientações da delegação, vindas de José Sócrates, contrárias às do grupo europeu dos Socialistas e Democratas. Em circunstâncias normais deveria sentir orgulho por ter um Português na presidência da Comissão. Infelizmente não me ocorre esse sentimento. Uma gestão apagada que deixou a Comissão perder força e influência. Um comportamento errático, mudando constantemente de opinião. Uma retórica feita de compromissos e marcada pela cor do auditório, com vista a gerar aplauso fácil, em qualquer circunstância. A negação imediata do que afirmara, sempre que recolhia hostilidade dos grandes. Um comportamento de Pilatos, quando as coisas corriam mal, atirando culpas para os Estados Membros. Uma completa ausência de grandeza, sujeitando-se ao papel de marionete dos grandes, parecendo aceitar a capitis diminutio como um facto normal para um originário de pequeno-médio País. Em momento algum o orgulho de português subiu em mim e em muitos momentos lamentei que um compatriota se prestasse ao que ele se prestou. À pergunta do meu colega Rangel sobre se seria melhor termos um presidente alemão respondo sim, sem pestanejar, ao menos saberíamos sempre com que se contava. Na contabilidade de vantagens e inconvenientes ficam pequenos ganhos de mercearia: alguns lugares de direcção ou de representação que vieram parar a Portugal, na maioria esmagadora destinados a gente da direita. Um acesso porventura mais fácil aos serviços da Comissão, por parte das autoridades nacionais, usado e abusado já por este governo, a quem Durão teve que ensinar tudo sobre os fundos, sobretudo na primeira fase. E pouco mais.
Francamente, o que mais me custa é confirmar quanto esta opinião é partilhada pela grande maioria dos parlamentares europeus, mesmo os da direita. E quando não opinam é por delicadeza. Claro que irão chover condecorações, doutoramentos, homenagens, prémios e elogios para o nosso homem. Até ele próprio, modesto como se sabe, já anunciou que viria inaugurar coisas a Portugal. Há quem veja nessas manobras o rasto de um génio político a recolocar-se numa qualquer grelha de partida. Por mim, só vislumbro flores de despedida de um funeral político. E como se não bastasse, vem agora a entrevista ao Expresso, onde o homem pretende aconselhar os Portugueses a serem presididos por um líder eleito em triunvirato. Completa falta de senso, de espírito democrático, como se a democracia não enrijasse com os contrários. Para não falar já do golpe baixo desferido contra Constâncio, com incauto boomerang que atingirá o agressor na volta, pela omissão atempada das suas suspeitas contra aquela gente do PSD que levantava fundos do BPN. Eis razões pelas quais me consolo nesta queda crepuscular do Dr. Durão Barroso. Bem teria gostado que não fosse assim! Um investimento perdido.
Deputado do PS ao Parlamento Europeu