“Os pobres não podem esperar”, avisa novo bispo do Porto

Passeia-se na rua, janta todos os anos com os sem-abrigo, importou a Cristoteca para chamar os jovens à Igreja. António Francisco dos Santos celebra hoje a primeira missa como bispo do Porto

Foto
D. António Francisco dos Santos Ricardo Castelo/NFactos

“É um homem próximo, dialogante, humilde. Embora nos alegre que o tenham tomado como capaz de tomar conta da maior diocese do país, entristece-nos que deixe de estar entre nós” admitiu ao PÚBLICO o padre João Gonçalves, um dos que foi a Lisboa, para tentar evitar ter que remoer a saudade.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“É um homem próximo, dialogante, humilde. Embora nos alegre que o tenham tomado como capaz de tomar conta da maior diocese do país, entristece-nos que deixe de estar entre nós” admitiu ao PÚBLICO o padre João Gonçalves, um dos que foi a Lisboa, para tentar evitar ter que remoer a saudade.

Apesar de nascido numa pequena aldeia de Cinfães, nos confins do Alto Douro, António Francisco dos Santos encontrou, como ele próprio disse, “barcos e remos” à sua medida em Aveiro, de cuja diocese foi nomeado bispo em Setembro de 2006. “É uma pessoa muito informal, anda a pé na rua, entra nos cafés como toda a gente. A sua presença é humilde. Quando pára a falar com alguém, pára-lhe o relógio também: dá às pessoas o tempo de que elas precisam”, esboça ainda o padre João Gonçalves.

Enquanto bispo de Aveiro, costumava jantar todas as vésperas de Natal com os sem-abrigo, primeiro, e com universitários, no dia seguinte. Foi dele a ideia de importar do Brasil a Cristoteca, que serviu para assinalar os 75 anos da diocese de Aveiro, cumpridos no ano passado. E, mais uma vez, na sua busca por “outra pedagogia de evangelização”, o bispo misturou-se entre os jovens, animados por DJ, música, luzes, máquinas de fumos e bebidas alcoólicas. Como numa discoteca normal, enfim, porque não compete à Igreja educar “nem para o medo nem para a proibição”, como sustentou então.

O homem que (juntamente com o administrador apostólico, D. Pio Alves, e os bispos auxiliares D. António Taipa e D. João Lavrador) vai liderar a diocese do Porto tem currículo vasto. Nascido a 29 de Agosto de 1948, na aldeia de Tendais, concelho de Cinfães, licenciou-se em Filosofia, em 1977. Os anos seguintes, passou-os em Paris, onde se diplomou em Sociologia Religiosa. Antes disso, em 1972, tinha sido ordenado sacerdote. Voltou a Paris onde foi responsável pastoral por uma comunidade de emigrantes. Em 2004, foi nomeado bispo auxiliar de Braga, de onde transitou para Aveiro, para se fazer bispo.

Sobre a sua missão à frente da maior diocese do país (dois milhões de habitantes, 3010 quilómetros quadrados, 26 concelhos…), disse à agência Ecclesia que chega com a certeza da sua proximidade com todos. “A melhor maneira, se não mesmo a única, de impulsionar o cuidado pastoral pelas classes desfavorecidas, pelos desempregados (e o desemprego é um dos dramas maiores hoje), pelos pobres e marginalizados, pelas famílias em dor, ruptura ou provação, pelos doentes ou pelos reclusos, é cuidar de todos e de cada um individualmente”, declarou ao semanário diocesano Voz Portucalense, ainda antes de ter tomado posse perante o Colégio de consultores da diocese no paço Episcopal do Porto, numa cerimónia privada realizada ontem. E, depois, ressalvou, em jeito de aviso: “Cuidar é agir sem demora, sem arrastar ou retardar respostas sociais, porque os pobres não podem esperar”.