Sócrates ataca Durão Barroso sobre BPN

Ex-primeiro-ministro sai em defesa de Vítor Constâncio e critica José Rodrigues dos Santos.

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José Sócrates Enric Vives-Rubio

Reagindo à entrevista ao Expresso em que Durão Barroso disse ter alertado Vítor Constâncio, então presidente do Banco de Portugal (BdP), para a situação do BPN, José Sócrates afirmou que o actual presidente da Comissão Europeia “não resistiu ao desvario narcísico de ser o alertador geral”: “Alertou-me a mim, alertou Vítor Constâncio, também alertou Passos Coelho. Esqueceu-se apenas de se alertar a si próprio, para as suas responsabilidades e da Comissão Europeia. Passou completamente ao lado desta crise. Nestes três anos, tivemos ausência de política europeia.”

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Reagindo à entrevista ao Expresso em que Durão Barroso disse ter alertado Vítor Constâncio, então presidente do Banco de Portugal (BdP), para a situação do BPN, José Sócrates afirmou que o actual presidente da Comissão Europeia “não resistiu ao desvario narcísico de ser o alertador geral”: “Alertou-me a mim, alertou Vítor Constâncio, também alertou Passos Coelho. Esqueceu-se apenas de se alertar a si próprio, para as suas responsabilidades e da Comissão Europeia. Passou completamente ao lado desta crise. Nestes três anos, tivemos ausência de política europeia.”

Saindo em defesa de Constâncio, Sócrates disse no seu habitual comentário na RTP que a “história que Durão Barroso conta tem um problema sério. “É que não se compagina com a sua actuação política. Então se ele sabia de tudo isso, nos anos de 2002, 2003 e 2004, por que razão não afastou o Governo e o seu partido das pessoas do PSD que tinham responsabilidades no BPN? Por que razão continuou a nomear essas pessoas, quer no partido, quer Governo?”

Sócrates acusou Barroso de fazer parte uma campanha contra Constâncio, que “baseia no equívoco de que a supervisão podia ter evitado o que se passou no BPN”. “Estas campanhas também se fazem para disfarçar o ponto essencial: uma burla de uma entidade financeira privada. E há uma visão política em todo o mundo de transformar essas burlas dos próprios financeiros em responsabilidade dos organismos oficiais”, argumentou o ex-primeiro-ministro, defendendo que neste caso “foi um problema dos ladrões, daqueles que cometeram os crimes: “E não tentemos branquear esse crimes pretendendo atribuir responsabilidades a quem não as teve.”

As declarações de Durão Barroso sobre o BPN também mereceram igualmente um comentário de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI. “Como é que Durão Barroso demorou dez anos a lembrar-se que falou com Vítor Constâncio?”, questionou o comentador, que viu estas palavras do ex-primeiro-ministro como uma forma de dizer que não teve “coisa nenhuma” relacionada com o BPN.

Marcelo disse ainda ter uma curiosidade: saber se alguma vez Durão Barroso falou do BPN à sua ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite.

O comentador recorreu ainda à ironia para afirmar que se no caso do BPN não forem encontrados responsáveis, então “foi um extraterrestre”. 

Sócrates nega os 300 milhões
No comentário na RTP, Sócrates voltou ainda a desmentir a ideia de que Portugal só tivesse 300 milhões de euros em caixa quando pediu ajuda externa em 2011. "O risco era tão grande que nós resolvemos, por razões de prudência, para que Portugal não passasse por um momento em que não consegue ir ao mercado, pedir ajuda. Foi isso que nos determinou o pedido de ajuda", afirmou o ex-governante, dizendo que os 300 milhões de euros eram uma previsão para o final de Março desse ano, tendo acabado por sobrar 800 milhões de euros.

"No fundo, Durão Barroso o que pretende é acompanhar essa história que a direita conta aqui em Portugal segundo a qual o país e o Estado estavam à beira da bancarrota, porque já não tinha dinheiro nem para salários nem para pensões. Ora, isso é apenas uma mentira. Não só o Estado tinha dinheiro para pensões e para salários, porque o que motivou o nosso pedido de ajuda externa foi o facto de não termos conseguido ir ao mercado para fazer a renegociação da dívida, como fazem todos os países", acrescentou.

Sócrates insistiu que “tudo isto podia ter sido evitado se tivéssemos aprovado o PEC IV” e, contrariando novamente Durão Barroso, garantiu que Portugal sempre teve dinheiro para pagar salários: “Basta considerarmos aquilo que era o nosso IRC mais o nosso IRS para se perceber que esses dois impostos bastavam para pagar não só os salários de todo o Estado como de todos os fundos e serviços autónomos, de toda a administração central".

Até o advogado do diabo pode ser inteligente
O comentário de Sócrates na RTP ficou ainda marcado pela animosidade com José Rodrigues dos Santos. A dado ponto do programa, o ex-governante questionou a postura do jornalista. “Eu compreendo o seu ponto de vista. Você acha que se deve comportar de forma adversarial, no sentido de se colocar no papel do advogado do diabo. Mas até o advogado do diabo pode ser inteligente e pode perceber. Não basta papaguearmos tudo aquilo que nos dizem para fazermos uma entrevista”, ao que José Rodrigues do Santos respondeu: “Fica registado o seu insulto, ao qual não vou responder.”