Diagnósticos tardios de infecção por VIH/sida estão a diminuir

Em 2012 Portugal era o terceiro país europeu com maior taxa de novos casos de sida, a seguir à Estónia e à Letónia

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AFP

Ou seja, o diagnóstico em fase sida (o estado mais avançado da doença) representava cerca de 20% no ano passado, referiu ao PÚBLICO o director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz, quando em 2012 era de 31,8%. Quanto ao número de novos casos de infecção no seu todo, parece confirmar-se uma tendência de descida. A médica Maria José Campos considera que é demasiado cedo no ano para “bater palmas”.

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Ou seja, o diagnóstico em fase sida (o estado mais avançado da doença) representava cerca de 20% no ano passado, referiu ao PÚBLICO o director do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida, António Diniz, quando em 2012 era de 31,8%. Quanto ao número de novos casos de infecção no seu todo, parece confirmar-se uma tendência de descida. A médica Maria José Campos considera que é demasiado cedo no ano para “bater palmas”.

De acordo com os últimos dados disponíveis (de 2013), houve 1087 notificações de novos casos de infecção por VIH/sida, uma diminuição de 448 casos face ao ano anterior, em que tinham sido 1535, refere António Diniz. Outra boa notícia é precisamente a descida da proporção dos casos de sida, que passaram a ser cerca de um quinto das notificações, diz.

Segundo os dados oficiais, em 2012 esta proporção era de quase um terço. Quando a detecção da infecção já é feita em fase sida isso significa que são pessoas com pelo menos uma doença associada, indiciadora de um sistema imunitário deprimido e sinal de diagnóstico tardio. António Diniz explica que todos estes novos números parecem reforçar a tendência de descida dos últimos anos. Mas, “apesar de haver progressos, há ainda um caminho a percorrer para alcançar outros países europeus”, nomeadamente na aposta ao nível da prevenção, sendo considerados prioritários os programas de distribuição de preservativos e de troca de seringas. Este último, soube-se esta semana, atingiu o seu mínimo histórico desde que a troca deixou de ser feita pelas farmácias.

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, disse neste sábado que os dados de 2013 são dos “melhores números já registados”, tendo admitido, porém, à agência noticiosa Lusa que a prevalência da doença “ainda é elevada, em termos europeus”. Face aos dados de 2012, Portugal era o terceiro país europeu com maior taxa de novos casos de sida, segundo o relatório do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças e a Organização Mundial de Saúde da Região Europeia. Tinha 2,4 novos casos por 100 mil habitantes, a seguir à Letónia (6,8 por 100 mil habitantes) e à Estónia (2,7). Face aos números de 2013 ainda não é possível dizer que melhorámos em termos comparativos, uma vez que os dados dos outros países ainda não estão fechados, explica António Diniz.

Ao nível da sida, Maria José Campos, que é membro do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida, diz que houve claramente melhorias na diminuição dos diagnóstico tardios: “As pessoas estão a chegar mais cedo ao hospital e fazem mais cedo os testes”. Onde continuam a existir mais falhas a este nível, observa, é no grupo dos utilizadores de droga injectável, “que não têm acesso facilitado aos serviços de saúde”. E se não são diagnosticados, isso significa que os seus casos também não são notificados.

Quanto aos números da infecção por VIH no seu todo, a médica diz que “é demagógico” estar a falar da diminuição de novos casos em Março quando se sabe que há atraso na notificação e subnotificação. “Nós, médicos, podemos estar a notificar casos de há cinco, seis anos. Não se pode bater palmas em Março. Temos que ser rigorosos. Os dados só estão consolidados depois de algum tempo”, salienta, explicando que “as notificações não se fazem em tempo real”.

A médica, que é também consultora científica do Check Point LX, o primeiro centro do país de detecção rápida do VIH para homens que têm sexo com homens, em Lisboa, diz que desde que abriram, em Abril de 2011, tiveram 250 novos casos diagnosticados. Mas o que lhes acontece depois? Será que têm médico de família e foram referenciados para um hospital? Quanto tempo demoraram a ter consulta hospitalar? Maria José Campos não sabe quanto tempo demorará até que estas pessoas passem a fazer parte dos números dos números oficiais, razão que a impede de ser “tão optimista”, numa altura em que as notificações relativas a 2013 continuam a chegar.