ONU já registou um milhão de refugiados sírios no Líbano

Há mais de um novo refugiado a cada minuto no país, onde os serviços e a população estão à beira da ruptura.

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Mais de 400 mil refugiados no Líbano são crianças Joseph Eid/AFP

As Nações Unidas descrevem uma “situação desastrosa, agravada por recursos que se esgotam rapidamente e por uma comunidade de acolhimento próxima da ruptura”. Os sírios são já quase um quarto da população a residir no Líbano, que é, assim, o país do mundo com a maior concentração de refugiados per capita.

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As Nações Unidas descrevem uma “situação desastrosa, agravada por recursos que se esgotam rapidamente e por uma comunidade de acolhimento próxima da ruptura”. Os sírios são já quase um quarto da população a residir no Líbano, que é, assim, o país do mundo com a maior concentração de refugiados per capita.

Ao mesmo tempo, sucedem-se os atentados e conflitos armados entre grupos que apoiam e se opõem ao regime sírio, em crescendo desde que o grupo xiita libanês Hezbollah assumiu que estava na Síria a combater ao lado de Bashar al-Assad, há um ano.

Não era um segredo muito bem guardado que o número de refugiados sírios no Líbano já tinha ultrapassado um milhão – o próprio Governo já o dissera. Mas foi esta quinta-feira que o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) confirmou ter ultrapassado o milhão de registados. “O Líbano alberga a maior concentração de refugiados da história recente. Não podemos deixar o país sozinho a enfrentar essa responsabilidade”, diz o chefe do ACNUR, o português António Guterres.

Já são muitas as cidades e vilas libanesas onde há mais refugiados do que libaneses e as infra-estruturas do Líbano, que nunca tinham recuperado completamente da guerra civil (1975-1990), estão no limite. “O saneamento e a gestão dos resíduos estão gravemente debilitados, as clínicas e hospitais estão a transbordar e as fontes de água estão esgotadas”, lê-se num comunicado do ACNUR.

Segundo o Banco Mundial, só em 2013 a crise síria custou mais de 1800 milhões de euros em perdas na actividade económica (principalmente turismo e investimento estrangeiro) e ameaça deixar 170 mil libaneses na pobreza até ao fim deste ano. O aumento de mão-de-obra fez disparar o desemprego e os salários caíram a pique.

Quase metade dos refugiados sírios são crianças e a esmagadora maioria não vai à escola. Em Setembro, a UNICEF já dissera que o número de crianças sírias em idade escolar no Líbano tinha ultrapassado o número de crianças libanesas inscritas na escola. Mas dos mais de 400 mil sírios que deviam estar agora a estudar só 100 mil têm lugar nas escolas libanesas, sem capacidade para aceitar mais alunos.

Ao contrário do que acontece com a Turquia e com a Jordânia, ambos com mais de 600 mil refugiados, o Líbano não quis abrir campos. A recusa explica-se com o trauma dos refugiados palestinianos, 400 mil, que vieram para ficar e cujos campos se transformaram em bairros gigantes. Por causa dos palestinianos, o Líbano chama “visitantes” aos sírios.

“O apoio ao Líbano não é apenas uma imperativo moral, é indispensável para evitar que a paz e a segurança continuem a erodir-se nesta sociedade frágil e em toda a região”, sublinha António Guterres. “Os libaneses estão a passar por graves apuros e as tensões estão a aumentar”, diz, por seu turno, Ninnete Kelley, representante do ACNUR no Líbano.

Com mais de 2,6 milhões de sírios registados pelo ACNUR, Kelley lembra que “a oferta de acolhimento de refugiados por parte dos países mais ricos continua limitada” e que os apelos de ajuda da ONU “recebem um financiamento insuficiente”. No fim do ano passado, as agências da ONU pediram 1300 milhões de euros para ajudar tanto os refugiados como a população libanesa ao longo deste ano (parte de um total de 4700 milhões para ajudar os sírios), mas até agora só foram recebidos 175 milhões.