Mar pode inundar zonas urbanas da Vagueira e da Caparica até 2100

Investigadores do projecto Change traçam cenários preocupantes sobre o avanço do mar na costa portuguesa. A investigadora Luísa Schmidt fala numa autêntica "bomba-relógio" no caso da Vagueira, em Aveiro.

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No troço de costa Barra-Vagueira, que é o mais problemático a nível nacional e um dos mais preocupantes da Europa em termos de inundações costeiras, o mar pode avançar terra dentro ao longo de 11,6 metros já em 2025 e inundar as zonas na cota dos 2,5 metros. Isto sem contar com o agravamento da erosão costeira, que nas últimas décadas se acentuou – só entre 1973 e 1996, a linha de costa recuou 200 metros a sul da Vagueira, a zona mais crítica para o equilíbrio da Ria de Aveiro.

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No troço de costa Barra-Vagueira, que é o mais problemático a nível nacional e um dos mais preocupantes da Europa em termos de inundações costeiras, o mar pode avançar terra dentro ao longo de 11,6 metros já em 2025 e inundar as zonas na cota dos 2,5 metros. Isto sem contar com o agravamento da erosão costeira, que nas últimas décadas se acentuou – só entre 1973 e 1996, a linha de costa recuou 200 metros a sul da Vagueira, a zona mais crítica para o equilíbrio da Ria de Aveiro.

“Esta é uma ‘bomba-relógio’ e deve ser uma das prioridades nacionais”, defende Luísa Schmidt, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da UL e coordenadora do projecto Change, apresentado nesta quarta-feira em Lisboa. Os investigadores analisaram os impactos sociais e ambientais das alterações climáticas em três zonas costeiras em Portugal: Barra-Vagueira, Costa da Caparica-Fonte da Telha e Quarteira-Vale do Lobo. “São zonas vulneráveis, muito expostas às alterações climáticas, e simultaneamente muito construídas, o que aumenta o risco”, explica Luísa Schmidt.

Segundo os mapas de susceptibilidade traçados pela equipa de Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, o areal da Vagueira está condenado a desaparecer se nada for feito. Em caso de tempestade, no período da preia-mar, a água vai galgar a primeira linha de costa com cada vez mais frequência. Em 2100, o mar pode avançar 14,9 metros sobre a terra, inundando a zona construída até à cota dos 4,1 metros – cerca de um metro acima da cota a que se encontra actualmente a urbanização e todos os equipamentos públicos.

A forte pressão urbanística na zona – entre 1970 e 2001, o número de alojamentos cresceu 244,2% – foi um dos factores que contribuíram para o agravamento da erosão costeira, concluem os investigadores envolvidos no projecto Change. Outros factores são, por exemplo, a construção de barragens a montante e de esporões, que condicionam o transporte de sedimentos e a alimentação da praia.

“É preciso perceber que na Vagueira não há uma generalização de construções ilegais, foram autorizadas pelo Estado”, ressalva o presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regalado (PSD). Ainda assim, o autarca admite “alguma preocupação” perante estes cenários, que vão servir para apoiar decisões futuras.

Na Caparica, as projecções mostram que o mar deverá galgar o cordão dunar desde a Cova do Vapor até à Fonte da Telha já em 2025, mas o perigo de inundação é maior em 2100. “Em qualquer um dos cenários, mais ou menos gravoso, há inundação até à cota dos 4,1 metros”, afirmou Gil Penha-Lopes, um dos autores dos mapas. Quando a água chegar à cota dos três metros, a aldeia da Cova do Vapor ficará submersa.

No Algarve, em Quarteira – onde o número de alojamentos cresceu 2274% entre 1960 e 2001 e continuou a aumentar até 2011 – basta que o mar chegue à cota dos 3,7 metros para atingir, por exemplo, a marina de Vilamoura.

O que fazer agora com estes cenários sobre a mesa? Primeiro é preciso tomar "medidas de emergência" que resolvam, no curto prazo, os problemas causados pelos temporais deste Inverno. "Mas ao mesmo tempo tem que haver um plano geral para o país, assente num pacto de regime que permita definir prioridades", acrescenta.

A investigadora defende a necessidade de "monitorizar todo o litoral e não apenas um quarto da costa”, como é actualmente feito pela Agência Portuguesa do Ambiente. É preciso também “repor a legalidade”, chamando à barra dos tribunais os responsáveis pelas construções ilegais no domínio público marítimo. E sublinha: "Temos que abandonar a política do adesivo e adoptar uma política séria de longo prazo para o litoral”, que recupere a Estratégia Nacional para a Gestão da Zona Costeira e o trabalho feito pelas extintas Administrações de Região Hidrográfica.

"Os ciclos curtos dos governos não podem hipotecar o futuro da nossa faixa costeira", defende a especialista em sociologia do ambiente, reforçando a necessidade de criar equipas multidisciplinares de "mediadores" independentes para fazer a ponte entre as instituições e as populações, que de uma forma geral não confiam no Estado para resolver os problemas do litoral.

Notícia corrigida às 10h44 de 03/04: no terceiro parágrafo, onde se lia "propriedades" deve ler-se "prioridades"