Jovens que trabalham em call centers são dos que mais consomem fármacos para dormir

Jovens consomem fármacos para se concentrarem e acalmarem, revela o primeiro estudo nacional sobre este tipo de consumos. 40% dos jovens ingerem bebidas energéticas para melhorar performance

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Brian Snyder/Reuters

Cerca de um quarto dos jovens portugueses (dos 18 aos 29 anos) já consumiu fármacos para a concentração, quase a mesma proporção fê-lo para descontrair e acalmar, concluiu o primeiro estudo nacional realizado em Portugal sobre Medicamentos e Consumos de Performance, na população jovem, que foi apresentado esta segunda-feira no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa.

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Cerca de um quarto dos jovens portugueses (dos 18 aos 29 anos) já consumiu fármacos para a concentração, quase a mesma proporção fê-lo para descontrair e acalmar, concluiu o primeiro estudo nacional realizado em Portugal sobre Medicamentos e Consumos de Performance, na população jovem, que foi apresentado esta segunda-feira no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa.

O objectivo da investigação, realizada por uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, em parceria com a Egas Moniz-Cooperativa de Ensino Superior, foi perceber até que ponto é prevalecente o consumo de medicamentos ou produtos naturais destinados a melhorar o desempenho pessoal, o que inclui os que se destinam a melhorar à parte neuro-cognitiva, como a parte físico-corporal, explica a coordenadora do estudo, a socióloga Noémia Lopes.

Assim, perguntaram a uma amostra da população portuguesa com estas idades – foram inquiridos 1483 jovens entre 2012 e 2013 — se consumiam medicamentos e/ou produtos naturais para dormir, para a concentração, para descontrair/acalmar, para aumentar a energia física, para emagrecer e para aumentar a massa corporal. Da lista faziam parte dezenas de produtos, que incluíam desde a valeriana ao ginseng, de tranquilizantes a fármacos para dormir, do magnésio a complexos multivitamínicos, mas também bebidas energéticas. No total, 71,9% dos inquiridos já consumiram este tipo de produtos, refere a investigadora.

Mas o que ressaltou dos resultados foi sobretudo o consumo vocacionado para a melhoria da performance neuro-cognitiva. Os fármacos para a concentração e para descontrair/acalmar predominam nos consumos de performance da população jovem: respectivamente, 25,3% e 23,8% dos inquiridos. Com os mesmos objectivos mas desta feita com recurso a produtos naturais há 21% de jovens que dizem usá-los para descontrair/acalmar e 17,7% para melhorar a concentração.

Uma indústria "do natural"

Noémia Lopes refere-se à existência de “uma indústria ‘do natural". Os jovens cada vez mais consomem "o natural, um sector sem regulação e sem controlo” e agora fazem-no muitas vezes “em alternância” com os medicamentos. Antes, os jovens faziam uma escolha entre consumo de medicamentos ou de produtos naturais. Mas, ressalva a socióloga, constata-se que, em geral, os consumos de fármacos ou produtos naturais para melhorar o desempenho são descontínuos e pontuais. "Tomam-nos durante dois ou a três dias e depois interrompem-nos.”

O crescente uso de medicamentos para finalidades “de gestão do desempenho pessoal” é uma realidade que se insere no que os sociólogos designam “de farmacologização do quotidiano”, refere Noémia Lopes. Ou seja, há cada vez mais pessoas a recorrer a fármacos e outros produtos medicamentosos para fins “que estavam fora do campo da saúde e da doença". "Ampliaram-se as funções do medicamento. Há uma nova relação com os medicamentos”, que se relaciona com “superar os limites naturais, em atingir os máximos, em produzir a sua própria imagem”.

Na performance física predominam os consumos para a energia física (10.3% dos inquiridos), seguido de produtos naturais para emagrecer (9,4% dos inquiridos). Em termos internacionais os estudos nesta área têm-se centrado no consumo de fármacos para concentração entre estudantes universitários, explica a investigadora. Este estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, quis ir mais além, diz, estudando, além da população universitária, jovens trabalhadores sem formação superior que trabalham em call-centers e megastores (lojas com grandes superfícies). Noémia Lopes refere que estes consumos são comuns aos dois grupos de jovens mas há especificidades.

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