NATO suspende relações com a Rússia e reforça cooperação com a Ucrânia

Países-membros da aliança atlântica implementam "medidas imediatas e de longo prazo, com o objectivo de reforçar a capacidade da Ucrânia para garantir a sua própria segurança".

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O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andri Deshchitsia, com o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen François Lenoir/Reuters

"A NATO e a Ucrânia decidiram hoje [terça-feira], tal como está estipulado na declaração da Comissão NATO-Ucrânia, implementar medidas imediatas e de longo prazo com o objectivo de reforçar a capacidade da Ucrânia para garantir a sua própria segurança", lê-se no comunicado conjunto dos 28 países da aliançaPara além da Ucrânia, o reforço das relações vai estender-se também a "outros parceiros na Europa de Leste, em colaboração com eles e no âmbito dos programas bilaterais existentes".

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"A NATO e a Ucrânia decidiram hoje [terça-feira], tal como está estipulado na declaração da Comissão NATO-Ucrânia, implementar medidas imediatas e de longo prazo com o objectivo de reforçar a capacidade da Ucrânia para garantir a sua própria segurança", lê-se no comunicado conjunto dos 28 países da aliançaPara além da Ucrânia, o reforço das relações vai estender-se também a "outros parceiros na Europa de Leste, em colaboração com eles e no âmbito dos programas bilaterais existentes".

O corte das relações com a Rússia chega ao fim de 23 anos, motivado pela anexação da península da Crimeia, que a NATO descreve como uma "violação da lei internacional e em contradição com os princípios e os compromissos" assumidos entre as duas partes.

"Decidimos suspender toda a colaboração militar e civil entre a NATO e a Rússia. O nosso diálogo político no Conselho NATO-Rússia pode continuar ao nível das embaixadas, para continuarmos a trocar pontos de vista, sobretudo em relação a esta crise", anunciaram os membros da organização. Esta suspensão será revista na próxima reunião da NATO, marcada para Junho.

O objectivo da NATO é acalmar os receios manifestados por países como a Polónia, a Estónia, a Letónia ou a Lituânia – todos membros da NATO, que a organização tem a obrigação de proteger, ao contrário da Ucrânia.

A Rússia tem alertado várias vezes contra a possibilidade de a Ucrânia vir a integrar a NATO, mas o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniuk, já disse que o seu país não tem essa intenção.

O alargamento da NATO nos últimos 15 anos à quase totalidade dos países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia (Albânia, Bulgária, Hungria, Polónia, República Checa e Roménia), bem como aos Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) foi interpretado pela Rússia como uma tentativa de limitar a sua esfera de influência na Europa de Leste.

Ao dizer que "todas as opções" estão em aberto para o reforço da presença da NATO nesses países, o secretário-geral da organização admitiu, implicitamente, a hipótese de instalar novas bases permanentes, o que Moscovo iria interpretar como uma provocação. Outras hipóteses passam pelo reforço dos exercícios militares na região, algo que os Estados Unidos já fizeram, com o envio de um número suplementar de caças F-16 para a Polónia.

NATO desmente Putin
Antes da declaração conjunta, o secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, desmentira o Presidente russo, Vladimir Putin, que anunciou na segunda-feira uma retirada parcial das suas tropas dispostas ao longo da fronteira com a Ucrânia.

"Infelizmente, não posso confirmar que a Rússia esteja a retirar as suas tropas. Não é isso que estamos a verificar", disse Rasmussen.

A notícia da retirada de tropas foi avançada por Vladimir Putin à chanceler alemã, Angela Merkel, numa conversa telefónica na segunda-feira. "O Presidente russo informou a chanceler de que ordenou uma retirada parcial das tropas russas da fronteira oriental da Ucrânia", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert.

Em Kiev, o Parlamento deu mostras de querer desmantelar as milícias criadas durante os protestos contra o Presidente Viktor Ianukovich – como os neonazis do Sector Direito –, mas também grupos "constituídos por estrangeiros", que levam a cabo "provocações sistemáticas no Sudeste da Ucrânia e em Kiev".

Na segunda-feira, um membro do Sector Direito envolveu-se num tiroteio com elementos de outras milícias paramilitares, e acabou por se refugiar no quartel-general do grupo. Segundo os media locais, após negociações com a polícia, vários membros do Sector Direito saíram do seu quartel-general e entraram em autocarros, em direcção a "campos de treino" nos arredores da cidade.

Também nesta terça-feira, a empresa russa Gazprom anunciou um aumento superior a 40% no preço do gás vendido à Ucrânia, pondo fim a uma redução que aplicou em Dezembro, antes da saída do Presidente Viktor Ianukovich do poder em Kiev. 

A Ucrânia vai agora pagar 385,5 dólares (280 euros) por mil metros cúbicos de gás, contra os 268,5 dólares (195 euros) acordados em Dezembro. Segundo a empresa, este novo preço reflecte a dívida acumulada por Kiev, que chega aos 1,7 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros). 

Em Dezembro, a Ucrânia beneficiou de um desconto no gás da Gazprom depois de ter rejeitado assinar um acordo com a União Europeia e de se ter associado à união aduaneira planeada pela Rússia. Esse desconto estava sujeito a uma revisão trimestral, o que ocorreu agora.

O novo preço, de 385,5 dólares, é superior à média cobrada pela Gazprom aos países da União Europeia, que é de 370 dólares (269 euros). Ainda assim, fica muito abaixo do que o esperado pelo primeiro-ministro interino ucraniano, Arseni Iatseniuk – na semana passada, perante o Parlamento, o chefe do Governo disse que a Ucrânia estava a preparar-se para um aumento de 79%, para 480 dólares (349 euros).