Quatro votações da Frente Nacional a seguir
Béziers: Fundador dos Repórteres Sem Fronteiras quer ser presidente com o PS
Robert Ménard foi um dos fundadores dos Repórteres Sem Fronteiras, em 1985, e tudo indica que será o próximo presidente da Câmara de Béziers, no Languedoc francês, eleito com o apoio da Frente Nacional. Foi uma importante conquista da tentativa de “abertura” de Marine Le Pen, que procurou conquistar figuras mediáticas e qualificadas para darem o rosto pelo seu partido.
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Béziers: Fundador dos Repórteres Sem Fronteiras quer ser presidente com o PS
Robert Ménard foi um dos fundadores dos Repórteres Sem Fronteiras, em 1985, e tudo indica que será o próximo presidente da Câmara de Béziers, no Languedoc francês, eleito com o apoio da Frente Nacional. Foi uma importante conquista da tentativa de “abertura” de Marine Le Pen, que procurou conquistar figuras mediáticas e qualificadas para darem o rosto pelo seu partido.
Ménard, habituado à polémica, ficou à frente da UMP (centro-direita), que ocupa o poder na cidade há 19 anos. Uma sondagem no fim da semana dava-lhe 47%.
Curiosamente, Ménard quer governar Béziers com a ajuda do candidato socialista, Jean-Michel Du Plaa, um velho amigo. “Se for eleito, espero trabalhar com Jean-Michel”, afirmou. Plaa recusou-se a sair da corrida na segunda volta, contrariando as indicações a nível nacional do PS – e a sondagem dá-lhe 22% de intenções de voto.
Ménard faz questão de sublinhar que só seis dos 49 elementos da sua lista estão filiados na FN. “Se ganhar no domingo, será uma vitória dos ‘biterrois’”, diz Ménard, referindo a forma como são conhecidos habitantes desta zona do Mediterrâneo.
Béziers tem cerca de 70 mil habitantes e 16,4% de desemprego, com um em cada seis habitantes a viver do rendimento mínimo e um centro muito desertificado. Ali vivem muitos franceses com origem na Argélia, tal como Ménard – um facto comum à orla Mediterrânica, e que ajuda a explicar o sucesso da Frente Nacional nesta área.
Avignon: o festival de teatro tornado campo de disputa
Avignon, “a cidade dos papas”, foi uma das surpresas da primeira volta das eleições municipais. Em primeiro lugar ficou Philippe Lottiaux, o candidato da Frente, arrebatando por poucos votos a posição cimeira à candidata socialista. Mas o que lhe deu maior visibilidade foi a ameaça do director do festival de teatro de Avignon fugir da cidade com o festival, se Lottiaux se tornar maire. O festival, um dos mais importantes do mundo, foi fundado em 1947 pelo actor e encenador Jean Vilar.
“Não me vejo a trabalhar com um presidente da câmara da FN. Parece-me completamente inimaginável. Por isso penso que será necessário ir embora. Não vejo como é que o festival poderá sobreviver, defender as suas ideias de abertura, de acolhimento do outro”, afirmou Olivier Py.
Estas declarações tão radicais baseiam-se na experiência das quatro câmaras do Sul do país que tiveram presidentes da Frente Nacional após na década de 1990: Toulon, Marignane, Orange e Vitrolles. O convívio com a cultura foi bastante conflituoso: encerramento de associações culturais e locais de espectáculo, supressão de subsídios, afastamento de responsáveis municipais, festivais culturais atacados, livros censurados nas bibliotecas.
Em Vitrolles, por exemplo, Catherine Mégret, presidente da câmara entre 1997 e 2002, mandou emparedar a entrada de um bar com música ao vivo, porque ali se tocava rap – que ela considerava “música de degenerados, que desenvolvia os maus instintos da juventude”, recorda o Le Monde. Em Orange, a lista de aquisições para a biblioteca municipal foi expurgada de autores e obras consideradas “degeneradas”, recorda o Libération.
Mas estas más experiências do passado não fizeram com que a ameaça de Olivier Py tivesse sido muito bem recebida – deste logo, pelos empresários e comerciantes de Avignon. Greg Germain, director do festival Off, foi mais moderado. “Compreendo a reacção de Py, fala com o coração, mas é preciso guardar a razão. Não desertarei Avignon, senão seria preciso desertar as outras cidades onde a Frente Nacional avança. Trazemos 110 milhões de euros à cidade, será que as companhias nos deixavam ir embora? Não, é preciso resistir a estas forças que são indignas da nossa República”, afirmou.
Quanto a Philippe Lottiaux, garante que não faria o mesmo que os seus correligionários da década de 1990. É verdade que nem sequer é um filho da terra – é um transplantado dos arredores de Paris – mas jura que já tinha vindo a Avignon ver teatro. “Essas polémicas pertencem ao passado”, garante, apostando que os 29,63% que obteve na primeira volta poderão render algo mais frente à socialista Cécile Helle, que teve 29,54%.
Fréjus: O grande comunicador e o autarca corrupto
O caso de Fréjus é perfeito para demonstrar que os candidatos da Frente Nacional (FN) triunfaram em municípios muito mal geridos. É difícil encontrar pior: Elie Brun, presidente da câmara durante três mandatos, ficou em terceiro lugar na primeira volta, com 17,6% dos votos, menos de 20 pontos que David Rachline, o candidato de 26 anos da FN. Mas nos termos da sentença a que foi condenado a 30 de Janeiro, Brun nem se poderia candidatar a cargos públicos durante cinco anos. Só pôde apresentar-se a estas eleições porque recorreu da pena.
Elie Brun foi acusado de ter colocado vários próximos na Câmara de Fréjus e ter defendido os interesses de particulares e não os do município – que tem um endividamento recorde de 3000 euros por habitante, numa cidade onde vivem 53 mil pessoas.
Quando a David Rachline, delegado nacional para as redes sociais de Marine Le Pen, fez valer os seus créditos. Construiu o seu sucesso na comunicação. “Desde há meses que faz os seus passeios eleitorais pela cidade com três câmaras atrás”, contava ao Le Monde a candidata socialista Elsa Di Meo, que ficou em quarta posição na primeira volta.
Perpignan: a maior cidade desejada pela FN
Perpignan é a única cidade com mais de 100 mil habitantes que a Frente Nacional tem hipóteses de vir a conquistar – embora uma sondagem do Instituto CSA desse a vitória na segunda volta ao presidente da câmara no poder, Jean-Marc Pujol, do partido de centro-direita UMP, com 59%, face ao vice-presidente da FN Louis Aliot, que teria este domingo 41%.
Mas Perpignan, junto à fronteira com a Catalunha, é uma boa aposta para a estratégia frentista de investir em cidades com problemas. “É a cidade mais endividada por número de habitantes, a quarta cidade francesa onde a repartição da riqueza é mais desigual, a quinta cidade mais pobre, e onde regularmente há prédios a ruir no centro (dois durante a campanha”, escreveu no site Slate.fr Nicolas Lebourg, historiador das extremas-direitas do Centro de Investigação Histórica sobre as Sociedades Mediterrânicas da Universidade de Perpignan.
Aliot, que é o companheiro de Marine Le Pen, além de um dos principais estrategas da FN, ficou à frente na primeira volta, com 34,2% dos votos, ultrapassando as expectativas das sondagens. Durante a campanha, saiu em cruzada contra “o sistema” de Jean-Marc Pujol. E o discurso passa, diz o historiador: “Aqui, muitos habitantes estão convencidos de que UMP e o PS são dois sistemas clientelares em luta.” Para estes eleitores, o candidato Aliot é algo de novo: “A escolha da FN representa um meio de os excluídos deste sistema putrefacto fazerem explodir este duplo clientelismo, para permitir uma redistribuição do bolo”.
Perpignan tem uma importante comunidade de franceses originários da Argélia, que não vêem com bons olhos a recente imigração magrebina, e também com importantes comunidades de ciganos – embora não de imigrantes recentes da Europa de Leste, que são os que têm estado na berlinda. O tema da insegurança é aqui forte – numa cidade junto à fronteira, onde o tráfico de droga é um problema real – bem como o da reabilitação urbana.