Dos gatos de Ayasofya às cores do Grande Bazar

A caminho do Grande Bazar e do mercado das especiarias esquecemos o mapa no fundo da mochila. Está na hora de nos sentirmos maravilhosamente perdidos nestes mercados encantados de portas imponentes e longas avenidas de lojas

Foto
Murad Sezer/Reuters

Há gatos que passeiam vagarosamente, roubando o protagonismo aos milhões de mosaicos bizantinos e às dezenas de candeeiros suspensos de Ayasofya. Os felinos fazem as delícias dos visitantes e há mesmo quem já tenha dedicado um blogue a um dos gatos residentes.

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Há gatos que passeiam vagarosamente, roubando o protagonismo aos milhões de mosaicos bizantinos e às dezenas de candeeiros suspensos de Ayasofya. Os felinos fazem as delícias dos visitantes e há mesmo quem já tenha dedicado um blogue a um dos gatos residentes.

No museu, que foi em tempos catedral e mesquita, decorrem trabalhos de recuperação, facto que não diminui a magnificência deste ícone islâmico, mas apenas obriga os turistas a encontrarem melhores ângulos fotográficos.

Nas imediações, não é difícil falhar, consecutivamente, a entrada na Mesquita Azul. As pausas para as orações obrigam ao cumprimento de horários rígidos, mas numa cidade onde as mesquitas abundam em número e em tamanho, a opção “não turística” também é obrigatória. Descalce os sapatos, coloque um véu se for mulher e entre à descoberta.

A caminho do Grande Bazar e do mercado das especiarias esquecemos o mapa no fundo da mochila. Está na hora de nos sentirmos maravilhosamente perdidos nestes mercados encantados de portas imponentes e longas avenidas de lojas. Há de tudo aqui, incluindo as histórias dos comerciantes servidas com chá feito na hora.

Não me vou daqui embora sem recarregar energias num Hamam. Há para todos os gostos, dos mais requintados em Sultanahmet ou Galatasary, aos mais bairristas. Opto por jogar em casa. No Hamam de Besiktas, homens de um lado, mulheres do outro, escolheram o final do dia para o ritual de purificação do corpo. Três pesadas senhoras lavam e massajam dos pés à cabeça, enquanto falam entre si.

Em Taksim há uma marcha silenciosa que assinala o Dia Internacional da Mulher. Foi organizada à revelia das leis que proíbem qualquer tipo de manifestação nesta praça, palco de protestos no verão passado. Há polícias de intervenção e jatos de água apontados às centenas de mulheres presentes. É mais um sinal de revolta de uma geração de jovens que condena, as medidas implementadas no segundo mandato de Erdogan, como o fim da interrupção voluntária da gravidez ou a obrigatoriedade de três filhos por casal. O Facebook, Twitter e o Youtube estão na iminência de serem bloqueados.

“O clima é de paz podre”, conta Nuno Mendes Santos que acabo de conhecer em Besiktas. A viver e a trabalhar em Istambul, este jovem português acredita que a crise política na Turquia só terá fim à vista quando Erdogan sair do governo ou quando se solidificar totalmente, destruindo tudo à sua volta. “Sabes que tens tudo a perder por te juntar às manifestações, mas também sabes que se não o fizeres, já o perdeste à partida”.

Cai a noite e tudo parece voltar ao normal. Ainda há tempo para um último chá em Istambul.

Esta crónica é a terceira de uma trilogia sobre a Turquia. Lê também a primeira e a segunda.