O comendador sonha e a obra nasce para explicar a ciência do café
Pensado para "espalhar o conhecimento" sobre os grãos em que assenta o império da família Nabeiro, o Centro de Ciência do Café é inaugurado nesta sexta-feira na Herdade das Argamassas, em Campo Maior.
As respostas a estas e outras perguntas estão no Centro de Ciência do Café (CCC) que é inaugurado hoje em Campo Maior, no distrito de Portalegre. O espaço é um sonho antigo do comendador Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, que tem hoje mais uma razão para festejar os seus 83 anos.
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As respostas a estas e outras perguntas estão no Centro de Ciência do Café (CCC) que é inaugurado hoje em Campo Maior, no distrito de Portalegre. O espaço é um sonho antigo do comendador Rui Nabeiro, fundador da Delta Cafés, que tem hoje mais uma razão para festejar os seus 83 anos.
“Caminhei durante o último ano a pensar neste dia”, revela o empresário, com um sorriso no rosto enquanto percorre as salas e os corredores do centro que cheira a novo. Ali se conta a história do café desde o cultivo à torra, a forma como se espalhou pelo mundo e chegou a Portugal, numa viagem que várias vezes se confunde com a própria história da família Nabeiro, ligada ao comércio do café há quatro gerações. “É um centro onde está a nossa alma”, resume o comendador.
O edifício de quase 3500 metros quadrados ergue-se junto às instalações da fábrica da Delta, na Herdade das Argamassas, lado a lado com o Museu do Café inaugurado há dez anos. O centro é, segundo a empresa, o primeiro espaço do género na Europa e concretiza o sonho do pai da Delta: proporcionar à comunidade “mais conhecimento e mais investigação”. “Cada um é dono da sua atitude e a minha atitude é o conhecimento e é espalhar esse conhecimento pelas outras pessoas”, sublinha Nabeiro.
“Com o café cresci e fiz-me homem.” A frase da autoria do comendador – que começou a trabalhar aos 17 anos na empresa de torrefacção do tio, onde assumiu o lugar do pai após a sua morte –, está inscrita na parede branca à entrada do CCC, onde dá as boas-vindas aos visitantes. Pela frente têm uma hora de viagem que começa nas estufas onde se recria a plantação do café, simulando o clima húmido onde crescem as espécies arábica e robusta, e termina num espaço que acolhe exposições temporárias de arte.
O percurso reserva aos visitantes várias experiências sensoriais. Podem fingir que são um grão verde de café em plena torra, ao entrarem numa bola antiga de torrefacção, ou imaginar, embalados pelo barulho das ondas e o ranger das tábuas, que estão dentro de uma nau portuguesa na época dos Descobrimentos, quando o café cruzou as fronteiras da Etiópia e chegou à Europa. Podem ainda ouvir as histórias de quem dedicou a vida ao contrabando do café para Espanha, uma actividade que sustentou famílias inteiras num tempo de miséria, nas décadas de 1930 a 1960.
“Todos os conteúdos foram pensados de uma forma didáctica e lúdica para que todas as pessoas de todas as idades aprendam, divertindo-se”, explica a directora do CCC, Cecília Oliveira.
O centro, desenhado pelo arquitecto João Simão, da Díade Arquitectura e Design, aposta nos elementos multimédia. Numa das salas, os visitantes são convidados a entrar nas cafetarias mais emblemáticas do país, como o café Majestic do Porto ou o Martinho da Arcada de Lisboa. Basta que se sentem à mesa e esperem pela fotografia que os transporta virtualmente para aqueles locais. “Depois podem enviar a fotografia automaticamente para as redes sociais”, acrescenta Cecília Oliveira.
Ontem, Rui Nabeiro sentou-se e sorriu para a câmara, acompanhado pelo filho João Manuel, seu braço direito. Também ele se dedica ao império iniciado pelo pai em 1961, com a criação da Delta Cafés. Pertence-lhe, tal como à irmã Helena, um pouco da história contada pelas centenas de objectos que integram o espólio do CCC. Entre eles, moinhos, cafeteiras e máquinas de café antigas. E até o Ford verde e amarelo dos anos 1950, o primeiro carro que Rui Nabeiro usou para ir trabalhar.
“Foi estimado, temos muito carinho por ele porque foi o primeiro carro que sonhou”, diz o comendador. Com ele percorreu Portugal inteiro. “Na altura era um carro cómodo, não havia melhor. Era um carro de trabalho mas também fazíamos algum turismo com ele. Visitávamos os clientes aos sábados ou domingos, quando havia sábados ou domingos...naquela altura pouca gente os tinha.” Com ele, levou amigos ao hospital a Lisboa. “Era um SOS permanente.”
Além destas antiguidades, o centro vai ter também uma biblioteca com documentos da família sobre o café e ainda uma sala preparada para permitir pesquisas e investigação sobre o tema, bem como um espaço lúdico para crianças. “Todos os anos teremos um projecto educativo para os alunos. Depois da visita, podem consolidar os conhecimentos adquiridos através de actividades e jogos”, adianta a directora do centro. “Espero que seja um local de estudo, de evolução”, completa o comendador.
O auditório, com capacidade para 125 pessoas, será o “principal pólo de dinamização do centro em termos culturais”, afirma Cecília Oliveira. Está preparado para espectáculos de dança, teatro, workshops ou reuniões de trabalho, e na agenda já estão marcados dois lançamentos de livros e um simpósio sobre café e saúde a 23 e 24 de Maio.
A Associação do Centro de Ciência do Café, presidida pelo comendador, investiu no centro três milhões de euros. Mas “os números não interessam”, afiança Rui Nabeiro. “O que interessa é a obra. Interessa aquilo a que nos propomos para trabalhar em prol de cada comunidade e essa é a mais-valia.” O CCC vai reforçar a posição da Delta Cafés como principal empregadora do concelho de Campo Maior, mas Nabeiro não diz quantos postos de trabalho irá criar. “Nós criamos todos os dias, nem sei bem como é que é. Este centro não vai funcionar sozinho, já tem um grupo de pessoas para trabalhar. Têm que ter muito trabalho e muito carinho por ele”, responde.
O centro abre as portas hoje para a inauguração oficial, com a presença do Presidente da República, Cavaco Silva, e do ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato. Vão conhecer “a árvore” que Rui Nabeiro quis plantar na Herdade das Argamassas, ao lado de campos de vinha a perder de vista. “Esta árvore tem que ser cuidada e tratada, e não fica aqui. As raízes vão transportar-se mais além”, espera o comendador, que confia nos visitantes para ajudarem a “espalhar o conhecimento”.
Os bilhetes para conhecer o CCC rondam entre os seis euros para adultos e os dez euros (bilhete família). As crianças até aos cinco anos têm entrada gratuita e há descontos para estudantes, professores, maiores de 65 anos e portadores de Cartão Jovem.