Beyoncé: a cantora mais celebrada do nosso tempo regressa na hora certa

Esta quarta e quinta-feira a cantora termina em Lisboa uma longa digressão, num espectáculo onde deverá reafirmar o seu poderio no universo do entretenimento global, ao mesmo tempo que exporá as canções do seu recente e melhor álbum de sempre.

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Nos últimos anos não só se afirmou definitivamente como cantora, performer, actriz, mulher de negócios, ícone da moda ou símbolo sexual, como o fez de forma peremptória. Hoje é a cantora pop mais festejada do nosso tempo, sendo também uma das celebridades do entretenimento mais poderosas do mundo.

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Nos últimos anos não só se afirmou definitivamente como cantora, performer, actriz, mulher de negócios, ícone da moda ou símbolo sexual, como o fez de forma peremptória. Hoje é a cantora pop mais festejada do nosso tempo, sendo também uma das celebridades do entretenimento mais poderosas do mundo.

Só durante 2013 a presente digressão teve receitas de bilheteira superiores a 136,8 milhões de euros. Que isso aconteça quando lançou há poucos meses o seu melhor trabalho do ponto de vista artístico (o seu quinto álbum, homónimo, editado de surpresa em Dezembro de 2013) eis o que nem sempre costuma coincidir.

Claro que as hierarquias são sempre discutíveis, mas olhando em redor para algumas das cantoras de alcance global que ainda subsistem (Madonna, Lady GaGa, Katy Perry ou Rihanna), é difícil não concordar que Beyoncé é a que mais se tem destacado na última década, gerindo com grande mestria a sua carreira.

Naturalmente é isso que a maior parte dos que vão à Meo Arena esperam: uma demonstração de autoridade, com um concerto cenograficamente majestoso, uma produção de Hollywood, mas também qualquer coisa que permita vislumbrar a cantora de grandes recursos que, no último álbum, foi capaz de cativar.   

Surpreendeu porque decidiu furtar-se aos mecanismos habituais de promoção lançando o álbum inesperadamente. Surpreendeu por ter apostado num álbum visual, com dezassete videoclipes a acompanhar catorze canções, percebendo que a fruição musical sempre teve uma dimensão visual e na actualidade são os vídeos que dominam parte da experiência de ouvir e sentir música.

E surpreendeu também por ter optado pela feitura de um verdadeiro álbum, que merece ser ouvido do início ao fim, sem se sentir que se está perante algumas canções avulsas e efémeras.

Por outro lado percebeu qual o posicionamento que lhe convém na indústria do entretenimento, gerindo tudo à sua volta de forma meticulosa. Com Madonna aprendeu que todas as grandes digressões necessitam de encaixar numa temática conceitual.

Em parte por isso surgiu nos últimos meses aos olhos da opinião pública como uma personalidade feminista. No álbum cada uma das canções parece pensada para satisfazer as suas necessidades vocais e cada letra está escrita para dar sentido à aura de mulher diligente e feminista, que canta histórias de superação.

Não surpreenderá se a Meo Arena também contactar com a mulher que luta pela igualdade de género, como se constata ouvindo a canção ***Flawless, onde utiliza parte de um discurso da escritora Chimamanda NgoziAdichie, onde às tantas é exaltada a igualdade social, politica e económica entre homem e mulher.  

Promete ser um espectáculo no feminino, porque a banda de 11 elementos e o corpo de bailarinos de 7 que a acompanham é quase exclusivamente constituído por mulheres. E será também um concerto meticuloso pela certa, ou não estivéssemos a falar de uma incansável trabalhadora que não deixa nada ao acaso.

A começar pelo controle, até onde é possível, da sua imagem. Os fotógrafos dos órgãos de comunicação, por exemplo, estão impedidos de comparecer. Ou seja, as fotografias a distribuir pelos jornais serão da autoria de fotógrafos oficiais que acompanham a digressão, forma evidente de controlar a sua imagem, cada vez mais difícil num universo onde toda a gente fotografa tudo.

A cantora americana é o tipo de celebridade que gosta de separar com nitidez a vida profissional da privada. Desde muito cedo que as câmaras e as objectivas a perseguem. Começou a pisar os palcos aos 7 anos. Desde os 14 anos, com as Destiny’s Child, que aquilo que faz gera interesse público, e esse facto só veio a agudizar-se através da relação com o também ilustre Jay-Z. Não constituiu surpresa por isso que, o ano passado, tenha aberto a porta da privacidade, dessa forma controlando o que expor.

Foi no documentário de hora e meia Life Is But a Dream, que pode ser encontrado no mercado português em DVD. Nele assina a co-realização (com a ajuda de Ed Burke, que a tem filmado ao longo dos anos), ao mesmo tempo que assume o papel de produtora executiva e co-argumentista do projecto. Ou seja, mais uma vez, é ela a decidir o que revelar, controlando o processo. Trata-se de um documentário autobiográfico, supervisionado ao detalhe, embora também não seja uma mera encenação.

Há dez anos, quando a entrevistámos, dizia-nos que a falta de privacidade era a faceta mais difícil de gerir, queixando-se que ser celebridade nem sempre era fácil: “sinto-me grata por tudo o que alcancei até agora, mas às vezes é duro. Quando se está no parque a comer um gelado simplesmente não se deseja ser fotografada.”  

Em Portugal, será a terceira vez que actuará. Fê-lo há sete anos no mesmo espaço onde vai estar agora, tendo regressado dois anos depois à mesma sala, mas na teoria dir-se-ia que desta vez é que é o momento certo: nunca pareceu tão cintilante e tem um álbum novo para mostrar que é o seu melhor trabalho de sempre.