Descoberto planeta-anão para lá dos confins conhecidos do sistema solar
O resultado, que deverá obrigar a redefinir a visão actual do nosso cantinho do cosmos, também sugere, especulam os autores, a presença de um planeta muito maior que a Terra, ainda por detectar.
Este planeta-anão, cujos descobridores estimam ter 450 quilómetros de diâmetro (cerca de um sétimo do diâmetro da Lua), não é o primeiro a ser encontrado para lá dos confins conhecidos do sistema solar – nem sequer o maior. Mas a sua descoberta é “extraordinária”, nas palavras de Linda Elkins-Tanton, da Instituição Carnegie (EUA), porque “nos obriga a redefinir a nossa compreensão do sistema solar”, diz esta cientista em comunicado daquela instituição norte-americana.
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Este planeta-anão, cujos descobridores estimam ter 450 quilómetros de diâmetro (cerca de um sétimo do diâmetro da Lua), não é o primeiro a ser encontrado para lá dos confins conhecidos do sistema solar – nem sequer o maior. Mas a sua descoberta é “extraordinária”, nas palavras de Linda Elkins-Tanton, da Instituição Carnegie (EUA), porque “nos obriga a redefinir a nossa compreensão do sistema solar”, diz esta cientista em comunicado daquela instituição norte-americana.
O sistema solar tal como o conhecemos hoje pode ser dividido em três partes, a contar do Sol: os planetas rochosos (como a Terra); os gigantes gasosos (como Júpiter); e a cintura de Kuiper, um conjunto de objectos gelados, que inclui Plutão, situado além de Neptuno. Para lá desse aparente limite, só se conhecia até hoje um outro objecto do mesmo tipo em órbita solar: Sedna, planeta-anão descoberto em 2003 por uma equipa da qual também fazia parte Chadwick Trujillo, do Observatório Gemini (EUA e Chile) e um dos co-autores da presente descoberta. Com mil quilómetros de diâmetro, Sedna é mais pequeno do que Plutão.
Desde então, pensava-se que Sedna era único, explica o mesmo comunicado. Mas com a descoberta de 2012 VP113, fica agora claro que isso não é verdade e que ambos estes corpos – e provavelmente outros tantos milhares como eles ou ainda maiores – fazem parte de uma estrutura ainda hipotética do sistema solar: a nuvem de Oort interior, que se pensa ser um dos pontos de origem dos cometas.
Este é, de facto, o primeiro sinal de que essa região do sistema solar existe mesmo nos seus confins. “Sedna e 2012 VP113 poderão ser a ponta do icebergue de uma população de objectos distantes da nuvem de Oort interior”, escreve Megan Schwamb, especialista da Academia Chinesa de Taiwan, num comentário que acompanha a publicação dos resultados.
O planeta-anão 2012 VP113 é de facto o objecto mais distante jamais avistado no sistema solar: a título de comparação, a cintura de Kuiper acaba a uma distância do Sol equivalente a 50 vezes a distância daTerra ao Sol (ou melhor, a 50 unidades astronómicas ou UA) e a órbita de Sedna passa a 76 UA do Sol. Todavia, ambos estes objectos super-longínquos têm órbitas que os levam até a centenas de unidades astronómicas de distância do centro do sistema solar.
Mesmo durante a fracção da sua órbita em que mais se aproxima do Sol, 2012 VP113 permanece muito longe da nossa estrela, a umas 80 UA. E foi numa das suas passagens a essa distância que Trujillo e Scott Sheppard, da Instituição Carnegie (EUA), o conseguiram “capturar”. Para isso, utilizaram a Câmara de Energia Escura do NOAO, telescópio de quatro metros de abertura situado no Chile – um dispositivo capaz de varrer vastas regiões do céu à procura de objectos muito ténues.
Com base nos seus cálculos, os autores estimam que, dentro da nuvem de Oort interior, poderão existir cerca de 900 objectos com órbitas como a de Sedna e de 2012 VP113 – e com diâmetros superiores a mil quilómetros. “Alguns desses objectos poderão rivalizar em tamanho com Marte ou mesmo com a Terra”, diz Sheppard, citado pelo mesmo comunicado.
“A procura de objectos distantes da nuvem de Oort interior, situados para além de Sedna e de 2012 VP113, deve continuar, porque poderiam revelar-nos muitas coisas sobre a formação e a evolução do nosso sistema solar”, acrescenta Sheppard. Isto porque existem actualmente três explicações concorrentes da formação da nuvem de Oort interior. Num desses cenários, um planeta poderá ter sido expulso da região dos planetas gigantes, atirando objectos da cintura de Kuiper para mais longe; noutro, o sistema solar terá “capturado” um planeta extra-solar; noutro ainda, terá havido transferência de matéria aquando de um encontro do nosso sistema solar com outro. E quanto maior o número de objectos que forem sendo encontrados, mais fácil será determinar qual dessas hipóteses é a mais certeira.
Seja como for, a descoberta de 2012 VP113 revela algo que qualquer teoria da formação da nuvem de Oort interior terá de ser capaz de explicar: que as órbitas de Sedna e de 2012 VP113 têm características muito semelhantes.
Segundo os autores, isso sugere a existência de um objecto maciço, que ainda não foi possível ver, mas que está a arrastar estes corpos, perturbando as suas órbitas da mesma maneira. Sheppard e Trujillo especulam que uma "super-Terra" – ou um planeta ainda maior –, situado a centenas de unidades astronómicas do Sol, poderia ser responsável por esse efeito. Será que os planetas do sistema solar têm um grande “irmão” desconhecido?