Tuberculose continua a matar mais de cem pessoas por ano em Portugal

Agravamento da pobreza e das desigualdades sociais podem comprometer combate a uma doença que é, a seguir ao VIH, a segunda principal causa de morte no mundo.

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O tratamento da tuberculose demora anos Nuno Ferreira Santos

"A crise económica pode levar a uma desigualdade social e isso pode ser um factor que leve a mais tuberculose", alertou à agência Lusa o investigador Ricardo Arcêncio, um brasileiro a fazer um estágio pós-doutoral no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, a propósito do Dia Mundial da Tuberculose que hoje se assinala. 

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"A crise económica pode levar a uma desigualdade social e isso pode ser um factor que leve a mais tuberculose", alertou à agência Lusa o investigador Ricardo Arcêncio, um brasileiro a fazer um estágio pós-doutoral no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, a propósito do Dia Mundial da Tuberculose que hoje se assinala. 

"A tuberculose é uma doença de complexidade social. Onde há desigualdade social, a tuberculose assume maior força", insistiu o investigador, para quem, mais do que desenvolver novas tecnologias médicas de tratamento e diagnóstico, é preciso investir nas questões sociais para "resolver o problema" de uma doença que, segundo a Organização Mundial de Saúde, afectava 8,6 milhões de pessoas em 2013.

Um milhão daqueles casos foi registado em crianças, sendo que a tuberculose é, a seguir ao VIH, a segunda principal causa de morte infecciosa no mundo.

Os números da doença relativos ao ano passado, em Portugal, são esta segunda-feira divulgados, na sessão "Luta Contra a Tuberculose - o papel da sociedade civil", organizada pela Direcção-Geral de Saúde. Em 2012, além das 140 pessoas que morreram vítimas de tuberculose, constatou-se que as formas mais raras da doença - as extrapulmonares - estão a aumentar.

No ano anterior, em 2011, tinham morrido 150 pessoas com tuberculose. Em 2010, foram 130. Há cerca de  50 anos, conheciam-se a nível nacional cerca de 20 mil casos. Actualmente, a prevenção e a resposta rápida da medicina fizeram reduzir o número para os 2388. Mesmo assim, a doença continua na mira dos profissionais de saúde, tendo, aliás, registado um ligeiro aumento de casos na região Norte: 1,5%.

O pior é que a tuberculose tende a aumentar à medida que aumentam a pobreza e a vulnerabildade social, conforme resulta do trabalho de investigação realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose, da qual Ricardo Arcêncio faz parte. "Para esses grupos [de vulnerabilidade social extrema], o diagnóstico é mais demorado, os tratamentos são inapropriados e a probabilidade de sucesso é baixa", enfatizou Ricardo Arcêncio, referindo-se às dificuldades de acesso aos serviços de saúde e ao recurso frequente a tratamentos alternativos como os chás. A estes problemas acresce o estigma social associado à doença.