Países do G7 anulam cimeira de Junho na Rússia para protestar contra a absorção da Crimeia

Líderes dos países mais industrializados dizem-se preparados para reforçar as sanções contra Moscovo.

Foto
Os múltiplos contactos efectuados por Obama em Haia incluíram o seu homólogo chinês, Xi Jimping Kevin Lamarque/Reuters

O anúncio foi feito pelo presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy. Pouco depois, os líderes do G7 diziam-se prontos a reforçar as sanções contra a Rússia se a Ucrânia continuar a ser desestabilizada. A ameaça faz parte do comunicado final de uma reunião em Haia. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O anúncio foi feito pelo presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy. Pouco depois, os líderes do G7 diziam-se prontos a reforçar as sanções contra a Rússia se a Ucrânia continuar a ser desestabilizada. A ameaça faz parte do comunicado final de uma reunião em Haia. 

"Estamos preparados para intensificar as acções, incluindo com medidas contra sectores específicos que terão um impacto muito significativo na economia russa, se Moscovo não solucionar a situação", lê-se no comunicado.

O texto "condena o referendo ilegal realizado na Crimeia" e a "tentativa ilegal da Rússia para anexar" a península. O Governo russo é encorajado a "iniciar discussões com o Governo da Ucrânia". Para além da cimeira de Junho, os líderes do G7 avisam que a sua "participação no G8 ficará suspensa até que a Rússia mude de rumo e voltar a haver um ambiente onde o G8 possa ter uma discussão significativa".

O cancelamento do encontro na Rússia já tinha sido avançado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, à margem de uma cimeira sobre a segurança nuclear, que decorre até terça-feira em Haia e que acabou por ser totalmente dominada pela crise da Ucrânia.

Presente na cimeira no quadro de uma visita de quatro dias à Europa, o Presidente norte-americano, Barack Obama, passou o essencial do dia de segunda-feira a reunir apoios para a linha dura que adoptou contra Moscovo e que se traduziu em sanções mais firmes do que as europeias dirigidas aos próximos do Presidente russo, Vladimir Putin, e a um dos bancos próximos do regime.

Segurança energética
Na semana passada, a União Europeia (UE) decidiu  congelar os bens financeiros e decretar a proibição de concessão de vistos de entrada na UE de 33 próximos Putin. Por enquanto, os 28 hesitam em ir mais longe devido à forte ligação entre as suas economias e a economia russa e, sobretudo, à sua forte dependência do gás russo, que assegura 30% do consumo na UE. Mesmo assim, os 28 prometeram medidas mais duras, de natureza económica que poderão visar alguns bancos, em caso de escalada de Moscovo na Ucrânia.

No comunicado do G7 é ainda anunciado que os ministros da Energia dos seus membros "se vão encontrar para debater formas de fortalecer a segurança energética colectiva".

Foi por iniciativa do Presidente americano, aliás, que líderes dos outros sete países do G8 – Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Japão – iniciaram ao princípio da noite de segunda-feira uma reunião para concertar posições sobre como aumentar a pressão sobre a Rússia, que, segundo  NATO, continua a acumular tropas na fronteira com a Ucrânia.

Mesmo se a absorção da Crimeia pela Rússia é dada como praticamente irreversível, europeus e americanos estão a dar tudo por tudo para evitar eventuais incursões de Moscovo no resto da Ucrânia e mesmo na vizinha Moldávia, igualmente ex-república soviética, e admitem até uma desestabilização dos três Estados Bálticos – Estónia, Letónia e Lituânia – que são membros da UE e têm importantes minorias russas.

A expulsão da Rússia do grupo dos países mais industrializados, que abandonaram em 1998 a sua denominação tradicional de G7 para incluir Moscovo, tinha sido defendida na semana passada nomeadamente pelo secretário de Estado americano, John Kerry.

Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, que se encontrou com Kerry em Haia, reagiu com ironia. “Se os nossos parceiros ocidentais acham que o formato [do G8] se gastou, não fazemos questão neste formato. E não achamos que seja um grande problema se não se reunir”.

Soberania e a integridade
Os múltiplos contactos efectuados por Obama em Haia incluíram o seu homólogo chinês, Xi Jimping. Durante um encontro entre os dois líderes, “o Presidente disse que a China sempre considerou a soberania e a integridade territoriais como o núcleo duro da sua política externa e da sua segurança nacional, e que esses princípios devem ser aplicados à Ucrânia”, resumiu Ben Rhodes, conselheiro adjunto para a Segurança Nacional americana. “Os interesses da China deverão conduzi-la a trabalhar connosco para fazer baixar a tensão de uma forma que respeite a soberania e a integridade territorial” da Ucrânia, acrescentou.

O Presidente chinês, cujo país tem assumido uma posição ambígua na matéria incluindo com uma abstenção na votação do Conselho  de Segurança das Nações Unidas a 15 de Março contra o referendo na Crimeia que levou cinco dias depois à sua absorção pela Rússia, não se exprimiu publicamente sobre a questão.

O primeiro ministro britânico disse ainda antes de partir para Haia, segundo o jornal The Guardian, que Londres vai participar no reforço da defesa da NATO nos países bálticos vizinhos da Rússia, embora sem prever pelo menos para já, um aumento das tropas à disposição da Aliança que é defendida pelo ex-chefe de Estado maior do exército.

Segundo Cameron, “é importante mandar uma mensagem clara aos nossos parceiros e aliados da NATO de que acreditamos na NATO e na sua segurança”. Por essa razão, acrescentou, Londres está a “apoiar” alguns estados Bálticos no reforço da sua defesa.