Dinheiro não é um problema quando se quer um edifício "à prova do futuro"
Marca de moda holandesa quer marcar a diferença com nova sede assinada pelo atelier de Rem Koolhaas.
Um novo edifício em Amesterdão, apresentado à imprensa no final da semana, e que é agora a nova morada da sede da marca de roupa. O projecto arquitectónico é do OMA e a decoração interior ficou a cargo da Vitra com uma reedição da colecção do designer e arquitecto francês Jean Prouvé (1901-1984). Aqui, foi tudo pensado até ao mais ínfimo detalhe sem se olhar a custos. Porque, no fim, o que interessa é marcar a diferença da concorrência. E como é que isso se consegue? Começando por ter um edifício “à prova do futuro”.
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Um novo edifício em Amesterdão, apresentado à imprensa no final da semana, e que é agora a nova morada da sede da marca de roupa. O projecto arquitectónico é do OMA e a decoração interior ficou a cargo da Vitra com uma reedição da colecção do designer e arquitecto francês Jean Prouvé (1901-1984). Aqui, foi tudo pensado até ao mais ínfimo detalhe sem se olhar a custos. Porque, no fim, o que interessa é marcar a diferença da concorrência. E como é que isso se consegue? Começando por ter um edifício “à prova do futuro”.
“Eu não sei onde vamos estar daqui a dez anos mas o edifício tem de cá estar e tem de servir as nossas necessidades”, diz ao PÚBLICO o director Shubhankar Ray, director global da marca de denim, criada em Amesterdão em 1989. “Somos uma marca recente, apenas 25 anos, e por isso a forma de nos destacarmos dos outros é sermos diferentes e quanto mais diferenças tivermos, melhor nos saímos.”
Shubhankar Ray sabe bem do que fala. Afinal, não é por acaso que ao seu lado está um dos maiores nomes da arquitectura mundial, vencedor do Pritzker em 2000, Rem Koolhaas, que na apresentação da sede aos jornalistas, parecia tão convencido por Ray quanto nós. “Uau, temos de o convidar um dia destes para falar por nós”, brincou o arquitecto, escolhido pela marca holandesa para projectar a sede pelo seu reconhecido trabalho na área. “O Rem está interessado em quebrar algumas regras da arquitectura, está interessado em quebrar algumas das convenções e de alguma forma na nossa área é isso que também procuramos fazer”, explica o responsável da G-Star, estabelecendo um paralelismo com as outras marcas concorrentes: “Estamos num negócio que lida com a nostalgia porque a ganga é um material antigo e é com este património que marcas como a Levis ou a Diesel trabalham”. “Por isso, nós quisemos seguir o caminho contrário, ou seja, quisemos ser modernistas com uma visão de futuro até porque não temos uma visão do passado por estarmos há pouco tempo no mercado”, continua. “No fundo partilhamos a mesma visão.”
Rem Koolhaas concorda e diz mesmo que “foi uma sorte poder trabalhar com a G-Star”, empresa com a qual sentiu desde logo “uma grande afinidade”. “Partilhamos vários pontos de vista e para nós no OMA houve desde o início do nosso contacto uma grande curiosidade em perceber como é que uma marca vinda do nada cresceu tão depressa e conseguiu atingir este patamar de sucesso”, disse o arquitecto aos jornalistas. Ao seu lado, Reinier de Graaf que assina este projecto com Koolhaas e Ellen Van Loon (que trabalhou também com o Pritzker na Casa da Música, no Porto) destaca ainda o facto de tanto o seu atelier como a G-Star estarem “estabelecidos na Holanda mas a trabalhar no mundo todo”. “E depois há algo que se aplica nas duas áreas e que é muito importante nos dias de hoje, é que não basta ser criativo é preciso ser eficiente, e nós como a G-Star damos prioridade a isso”, aponta Reinier de Graaf.
25 anos até pode não ser muito tempo na indústria da moda mas é com estes ideais e objectivos que a G-Star tem vindo a crescer e se tem destacado, como referenciaram os arquitectos. Daí a necessidade de ter um novo espaço de trabalho. Agora, em vez de três escritórios em diferentes ruas de Amesterdão, a empresa está toda reunida aqui neste novo edifício de 27.500 metros quadrados, cujos andares são enormes espaços abertos que comunicam uns com os outros. Ou seja, não há divisões entre os andares e por isso quem trabalha por exemplo no primeiro piso pode ver quem está a trabalhar no piso em baixo ou no piso em cima. “É muito importante esta visão da empresa como um todo”, diz Rem Koolhaas, explicando que como o que lhes foi pedido foi um edifício “à prova do futuro” – “uma das melhores expressões que já ouvi”, brinca Koolhaas.
Sobre o edifício, Reinier de Graaf explica que “é como se fosse um pré-fabricado”. “É uma construção relativamente simples”, diz o arquitecto sobre o edifício de betão e ferro que tem uma enorme fachada de vidro, que pode estar aberta ou fechada, conforme a utilização do espaço – foi pensada para poder ser palco de desfiles de moda. Já no interior do edifício, cujo número de andares pode aumentar de acordo com as necessidades, Rem Koolhaas destacou “as transições sem grande obra arquitectónica que funcionam muito bem”. “A arquitetura também é isto.”
“O objectivo com esta abertura total dos departamentos é que todos na empresa saibam em tempo real o que se está a fazer”, diz Shubhankar Ray, explicando que até agora provavelmente quem trabalhava no departamento financeiro não fazia a mínima ideia de como se concebe o produto final. É por isso que todos os que entram na empresa, passam obrigatoriamente por uma secção onde está a ser desenvolvida a nova colecção. As campanhas publicitárias também são aqui feitas, assim como também aqui existem máquinas de costura ou imitações de loja para se poderem fazer testes de como é que os produtos são depois apresentados ao público. “Com esta evolução acredito que além de haver uma maior integração, haverá uma maior liberdade de criatividade, uma vez que todos podem partilhar as suas ideias porque sabem exactamente o que se está a fazer.”
Para o arquitecto Reinier de Graaf esta foi mais uma das características que o aproximou do projecto. “A forma de trabalho não é muito diferente da do nosso atelier”, diz o holandês, que considera que os projectos do OMA, entre os quais está a sede da CCTV na China, considerado o melhor arranha-céus do mundo em 2013, “têm uma assinatura híbrida”. “As nossas obras são sempre resultado de um trabalho em equipa”, continua o arquitecto, criticando aqueles que resumem o OMA a Rem Koolhaas. “Há um grande de grupo de todos os que trabalham no escritório, não há uma pessoa singular que tenha o monopólio de uma ideia”, explica, acrescentado que “é isso que, à semelhança da G-Star na sua área, faz a diferença para os outros”.
“Não revolucionamos necessariamente a arquitectura mas revolucionámos o processo”, diz ao PÚBLICO Reinier de Graaf, que louva o investimento da marca de denim em tempos de crise. “Não posso dizer que temos sentido a crise, temos muita sorte por ainda nos aparecer mais trabalho do que aquele que conseguimos fazer, mas a crise é real e conheço arquitectos de grande qualidade que andam sem trabalho”, aponta, defendendo que no futuro “os arquitectos terão de se preocupar mais em manter o seu legado do que em criar mais legado”.
Na G-Star, Shubhankar Ray diz estar ciente do impacto da crise “mas para estar no topo, não há preço”. “Se queremos estar lá em cima sem comprometer aquilo que somos, é lógico que apostamos em nomes de topo como Rem Koolhaas ou Pharrell William (que vai criar uma colecção para a marca com plástico retirado dos oceanos)”, defende o gestor da marca, garantindo que para “criar valor”, “o preço a pagar por isto não é um problema”. "Prefiro olhar para os resultados."
O PÚBLICO viajou a convite da G-Star RAW