Federalização no horizonte da Ucrânia, uma ideia que agrada a Moscovo
Começa a ganhar forma uma possível solução para a instabilidade na Ucrânia. E, surpreendentemente, pode ser aquela que mais agrada a Moscovo.
O alarme foi dado pelo embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko, que afirmou haver “indicações de que a Rússia está prestes a iniciar uma intervenção militar em larga escala no Leste e Sul da Ucrânia”. Kiev receia que Moscovo siga a mesma lógica que levou à intervenção na Crimeia – a necessidade de apoiar a comunidade russa numa região instável.
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O alarme foi dado pelo embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko, que afirmou haver “indicações de que a Rússia está prestes a iniciar uma intervenção militar em larga escala no Leste e Sul da Ucrânia”. Kiev receia que Moscovo siga a mesma lógica que levou à intervenção na Crimeia – a necessidade de apoiar a comunidade russa numa região instável.
A Rússia tem insistido que uma incursão em território ucraniano está fora de questão e Vladimir Putin disse-o expressamente no início da semana. Mas a bandeira da instabilidade na Ucrânia e, sobretudo nas regiões do Leste russófono, tem sido agitada por Moscovo sempre que possível. E com a anexação da Crimeia, o Kremlin mostrou no terreno que pode efectivamente actuar se as circunstâncias se colocarem.
A estratégia de Putin pode traduzir-se agora por aumentar a pressão sobre o governo de Kiev para que aceite “um modelo de federalização da Ucrânia, o que iria permitir que as regiões do Leste desenvolvessem relações mais próximas da Rússia”, como afirmou há dias ao PÚBLICO John Lough, especialista da Chatham House.
E é precisamente isso que Moscovo já está a fazer. Esta quinta-feira, dirigindo-se à Duma, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, apresentou a proposta: “primeiro, uma reforma constitucional deverá ser feita, para que os interesses de todos os cidadãos ucranianos e das regiões sejam respeitados. E estamos convencidos de que a situação no país só poderá ser estabilizada fazendo da Ucrânia um Estado federal.”
Lavrov tinha já esta semana sugerido a criação de um “grupo de apoio” para mediar a crise na Ucrânia, para o qual um dos pontos de partida seria a descentralização do poder e a declaração da neutralidade política da Ucrânia.
Os desejos de Moscovo encontraram apoio nas declarações do emissário da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa (OSCE) na Ucrânia, que avançou algumas conclusões esta quinta-feira. “Todos os nossos interlocutores sublinharam a necessidade de tomar medidas imediatas tendo em vista uma descentralização com o fim de estabilizar a situação política na região”, disse Tim Guldimann, citado pela AFP.
A solução federal recolhe simpatia mesmo no Ocidente. No início do mês, falando a propósito de um “grupo de contacto” para mediar a crise na Ucrânia, o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, referiu-se à presença de membros da OSCE “com grande experiência acerca de soluções federativas”. Steffen Seibert disse ao Wall Street Journal que "é importante que todos os grupos da população se sintam representados num país”. “Como alcançar isto fará certamente parte da redirecção política da Ucrânia.”