Crimeia, um rastilho com ou sem fogo?
O mundo vê-se perante o dilema de não reconhecer a anexação russa, mas aceitando-a na prática.
Não deixa de ser curioso que, no mesmo dia em que o Parlamento de Moscovo aprovou a anexação da Crimeia na Federação Russa, o Parlamento de Kiev votou uma resolução em que a Ucrânia se compromete a bater-se pela “libertação da Crimeia, por mais longa e dolorosa que seja essa batalha”. A enorme diferença entre estas duas resoluções é que a primeira se limita a legalizar um facto e a segunda a formular um incerto desejo. Não haverá dúvidas, em Kiev, de que a prometida “libertação da Crimeia”, na conjuntura actual, não passa de uma bandeira política sem efeitos práticos. A Rússia procedeu a uma anexação rápida, violando tratados internacionais que estabilizavam fronteiras, é certo, mas sem actos de violência que obrigassem a uma resposta militar no imediato. E até aqui, num cenário bastante tenso mas controlado, tudo aconselha prudência. Mesmo assim, o mundo vê-se perante o dilema de não reconhecer a anexação, mas aceitando-a na prática (o contrário obrigaria a medidas drásticas ou a uma declaração de guerra). Prometer, como fez Angela Merkel em Bruxelas, uma terceira fase nas sanções contra a Rússia, caso haja “uma escalada na situação”, deixa tudo em aberto. Ninguém sabe a que escalada se refere Merkel, e a caracterização é tão vaga que permite deixar passar, por um lado, a anexação da Crimeia como facto consumado e endurecer as sanções ou adoptar medidas mais drásticas, caso haja, como nas ruas de Sinferopol já se prometeu, uma espécie de “cruzada” pró-russa para “libertar” outras regiões da Ucrânia. Foi isso que levou o embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko, a dizer que a Rússia pode estar a começar “uma intervenção militar a todos os níveis no Leste e no Sul da Ucrânia”. Denúncia sem fundamento ou o início de um estilhaçar do território ucraniano como rastilho de uma guerra civil à jugoslava? Seja como for, por estes dias andaremos sobre brasas, com mil e um cuidados para evitar o fogo.
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Não deixa de ser curioso que, no mesmo dia em que o Parlamento de Moscovo aprovou a anexação da Crimeia na Federação Russa, o Parlamento de Kiev votou uma resolução em que a Ucrânia se compromete a bater-se pela “libertação da Crimeia, por mais longa e dolorosa que seja essa batalha”. A enorme diferença entre estas duas resoluções é que a primeira se limita a legalizar um facto e a segunda a formular um incerto desejo. Não haverá dúvidas, em Kiev, de que a prometida “libertação da Crimeia”, na conjuntura actual, não passa de uma bandeira política sem efeitos práticos. A Rússia procedeu a uma anexação rápida, violando tratados internacionais que estabilizavam fronteiras, é certo, mas sem actos de violência que obrigassem a uma resposta militar no imediato. E até aqui, num cenário bastante tenso mas controlado, tudo aconselha prudência. Mesmo assim, o mundo vê-se perante o dilema de não reconhecer a anexação, mas aceitando-a na prática (o contrário obrigaria a medidas drásticas ou a uma declaração de guerra). Prometer, como fez Angela Merkel em Bruxelas, uma terceira fase nas sanções contra a Rússia, caso haja “uma escalada na situação”, deixa tudo em aberto. Ninguém sabe a que escalada se refere Merkel, e a caracterização é tão vaga que permite deixar passar, por um lado, a anexação da Crimeia como facto consumado e endurecer as sanções ou adoptar medidas mais drásticas, caso haja, como nas ruas de Sinferopol já se prometeu, uma espécie de “cruzada” pró-russa para “libertar” outras regiões da Ucrânia. Foi isso que levou o embaixador ucraniano nas Nações Unidas, Iuri Klimenko, a dizer que a Rússia pode estar a começar “uma intervenção militar a todos os níveis no Leste e no Sul da Ucrânia”. Denúncia sem fundamento ou o início de um estilhaçar do território ucraniano como rastilho de uma guerra civil à jugoslava? Seja como for, por estes dias andaremos sobre brasas, com mil e um cuidados para evitar o fogo.