Estudo identifica 14 espécies de peixe em rios do Dão, Lafões e Alto Paiva
José Manuel Costa, investigador diz que as espécies invasoras como a gambusia, a achigã e a perca-sol podem provocar danos em dois ou três anos, como acabar com o ecossistema e com algumas espécies locais.
A ADDLAP integra, em consórcio com outras entidades europeias de investigação técnico-científica e de desenvolvimento regional, um projecto comunitário denominado Atlantic Aquatic Resource Conservation (AARC).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A ADDLAP integra, em consórcio com outras entidades europeias de investigação técnico-científica e de desenvolvimento regional, um projecto comunitário denominado Atlantic Aquatic Resource Conservation (AARC).
O estudo, iniciado em 2011, baseia-se em cinco a sete pontos de amostragem por cada concelho da ADDLAP - Vila Nova de Paiva, Viseu, S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades - nas bacias hidrográficas do Douro, do Vouga e do Mondego. "O concelho de Viseu tem as 14 espécies, noutros houve três ou quatro espécies que não apareceram", explicou à Lusa José Manuel Costa, da Escola Superior Agrária de Viseu, que está a trabalhar neste projecto.
O investigador alertou que entre elas estão "três espécies exóticas, invasoras, que foram introduzidas e estão a acabar com o ecossistema e com algumas das espécies locais". "Estas três espécies, conhecidas por gambusia, achigã e a perca-sol, introduzidas inadvertidamente em locais de ambientes muito sensíveis, vão provocar um dano em dois ou três anos. Algumas, infelizmente, já estão implantadas", acrescentou.
Exemplificou que a perca-sol "é muito resistente e muito migradora, facilmente passa de uns sítios para os outros, até infelizmente com a ajuda do homem".José Manuel Costa congratulou-se por esta espécie não ter sido ainda detectada no concelho de Vila Nova de Paiva, "porque depois de introduzida é muito difícil conseguir eliminá-la".
No que respeita à qualidade da água, o investigador explicou que, globalmente, e tendo em conta as amostragens feitas no Inverno e no Verão, os concelhos de Vila Nova de Paiva e de Viseu conseguiram a classificação "boa", o de S. Pedro do Sul "fraca mais" e os de Vouzela e de Oliveira de Frades de "fraca". "É normal que, se seguirmos o curso do Vouga, os concelhos mais a montante - Vila Nova de Paiva e Viseu - tenham uma qualidade de água para fins de vida piscícola melhor do que aqueles concelhos que estão mais próximos da foz, ou seja, S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades. Isso confirmou-se", sublinhou.
No entanto, ressalvou que, se for analisado individualmente cada ponto de amostragem, "há uns excelentes e outros muito fracos". "Portanto, é de esperar que, a tomarem-se acções, seja sabendo o local onde se quer intervir. E aí, só nesse local, e não no valor médio do concelho, é que temos de ver se a água é boa ou má", afirmou.
Segundo José Manuel Costa, para sobreviverem e se reproduzirem, os peixes, em vez de o fazerem "no Vouga, no local onde está contaminado, se não tiverem obstáculos podem subir pelos seus afluentes, onde vão certamente encontrar qualidade da água muito melhor". "Ainda não estamos atrasados demais para tentar salvaguardar estes ecossistemas. Temos é de estar atentos para que qualquer intervenção que façamos não seja irreversível", avisou.
Neste âmbito, destacou a importância deste estudo de monitorização, para "ver o estado de conservação das comunidades piscícolas e para que as ações que se tomem não sejam avulsas".
O estudo encontra-se neste momento numa fase de tratamento de dados. O relatório final deverá estar pronto dentro de dois ou três meses.