Sanções dos EUA chegam a grandes empresários e ao sector bancário próximos de Putin
Presidente norte-americano assinou também uma nova ordem executiva, que prevê a possibilidade da aplicação de sanções a "sectores-chave da economia russa". Rússia proíbe entrada no país de membros do Congresso americano e conselheiros de Obama.
O Presidente norte-americano assinou também uma nova ordem executiva, que abre caminho à aplicação de sanções em "sectores-chave da economia russa".
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O Presidente norte-americano assinou também uma nova ordem executiva, que abre caminho à aplicação de sanções em "sectores-chave da economia russa".
Numa curta declaração nos jardins da Casa Branca, sem direito a perguntas dos jornalistas, Barack Obama frisou que os Estados Unidos estão a trabalhar em proximidade com a União Europeia, cujos líderes estão reunidos quinta e sexta-feira, em Bruxelas, para discutirem também um reforço das sanções por causa da integração da Crimeia na Federação Russa.
Horas antes do início do encontro em Bruxelas, a chanceler Angela Merkel avançou no Parlamento alemão que a União Europeia vai alargar a lista de personalidades russas e ucranianas que serão abrangidas pelas sanções decretadas há duas semanas – a proibição de viajar para a Europa e o congelamento de bens que possam ter no espaço europeu. A chanceler alemã assegurou ainda que "a cimeira vai deixar claro que a União Europeia está pronta para, a qualquer momento, passar à fase três das sanções, se houver uma escalada na situação". Um endurecimento que "passará sem dúvidas por sanções económicas".
<_o3a_p>A lista de indivíduos e entidades que poderão ser alvo de sanções como a suspensão de vistos e o congelamento de bens e interesses nos Estados Unidos inclui agora homens como os irmãos Arkadi e Boris Rotenberg, antigos parceiros de judo do Presidente Vladimir Putin e donos de uma fortuna conjunta avaliada em mais de quatro mil milhões de euros.
Arkadi Rotenber é dono do grupo SGM, um dos maiores na área da construção de infra-estruturas para o sector energético, com fortes ligações à gigante Gazprom; tem 50% da TPS Avia, uma outra construtora responsável pela remodelação parcial do aeroporto de Cheremetievo, em Moscovo; e tem 26% da construtora de estradas Mostotrest. Boris Rotenberg partilha com o irmão a presidência do grupo SGM e do banco SMP, e é presidente do clube de futebol Dínamo de Moscovo, um dos históricos do futebol russo.
Arkadi e Boris Rotenberg são dois dos empresários russos que Alexei Navalni, um dos rostos da oposição a Vladimir Putin, nomeou num artigo escrito para o jornal The New York Times em que defende o alargamento das sanções para fora da orla política, para “desferir um duro golpe aos estilos de vida luxuosos disfrutados pelos amigos do Kremlin, que se passeiam entre a Rússia e o Ocidente”.
Para além dos irmãos Rotenberg, Washington incluiu também na lista Gennadi Timchenko, líder do grupo Volga, com investimentos em sectores como a energia e os serviços financeiros; Iuri Kovalchuck, conhecido como o “banqueiro pessoal de Vladimir Putin”, maior accionista do banco Rossiya e accionista de seis canais de televisão estatais; e Vladimir Iakunin, presidente da empresa estatal de caminhos-de-ferro e considerado um dos homens mais poderosos da Rússia.
O banco Rossiya – o 17.º na lista dos maiores bancos russos – será também alvo de sanções (não especificadas) porque é visto em Washington como o "banco pessoal" do círculo mais próximo de Vladimir Putin.
No total, são 20 nomes – que se juntam aos 11 divulgados no início da semana –, em que se destacam também vários conselheiros do Presidente Putin e deputados de ambas as câmaras do Parlamento russo.
"Os Estados Unidos estão a impor hoje [quinta-feira], tal como dissemos que iríamos fazer, prejuízos adicionais à Rússia", disse o Presidente norte-americano. Depois de reafirmar que o referendo e a “anexação” da Crimeia pela Rússia foram “ilegais”, Obama alertou para os “perigos do aumento da tensão".
"Foram escolhas feitas pelo Governo russo, escolhas que foram rejeitadas pela comunidade internacional", disse o Presidente norte-americano.
Ameaça de medidas "disruptivas para a economia global"
Talvez mais importante do que o alargamento da lista de indivíduos que poderão ser alvo de sanções foi o anúncio da assinatura de uma nova ordem executiva por Barack Obama, que abre as portas à imposição de castigos a "sectores-chave da economia russa", que o Presidente norte-americano não especificou.
Mas o comentário que acompanhou este anúncio leva a crer que o Departamento do Tesouro norte-americano está agora autorizado a preparar sanções económicas ao mais alto nível – são medidas, disse Barack Obama, "que podem também ser disruptivas para a economia global".
"Esta não é a solução que nós preferimos. No entanto, a Rússia deve saber que o aumento da tensão só a isolará ainda mais da comunidade internacional", afirmou o Presidente norte-americano.
Mais tarde, a transcrição da comunicação sobre a ordem executiva assinada nesta quinta-feira, publicada no site da Casa Branca, revelava mais pormenores sobre as áreas que poderão ser afectadas – "serviços financeiros, energia, minas, engenharia e material relacionado com a defesa".
Obama apelou também ao Congresso norte-americano, aos países do G7 (com quem vai reunir-se na próxima semana) e ao Fundo Monetário Internacional que ajam com a maior rapidez possível para ajudar financeiramente a Ucrânia, já que "as declarações de apoio não são suficientes, é preciso agir".
O Presidente dos Estados Unidos fez também questão de sublinhar que os seus aliados da NATO (em particular os que se encontram geograficamente mais próximos da Rússia) podem ficar descansados – "O apoio da América é inflexível."
Apesar do reforço das sanções, e dos avisos à Rússia contra a eventualidade de novas acções militares em outras partes do território ucraniano, Barack Obama disse que "a diplomacia continua" e que o resultado final só depende de Moscovo. Para evitar um novo reforço das sanções, Vladimir Putin "terá de respeitar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia" e perceber que "não se pode invadir um país só porque se é mais forte".
A Rússia anunciou nesta quinta-feira, pela primeira vez, um conjunto de medidas contra figuras políticas norte-americanas. Por decisão da câmara baixa do Parlamento russo (a Duma, que aprovou também a integração formal da Crimeia na Rússia), o presidente do Senado, Harry Reid; o presidente da Câmara dos Representantes, John Bohener; os senadores John McCain, Robert Menendez, Mary Landrieu e Daniel Coats; a vice-conselheira da Segurança Nacional para as relações internacionais, Caroline Atkinson; e os conselheiros da Casa Branca Daniel Pfeiffer e Benjamin Rhodes estão agora proibidos de entrar em território russo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, descreveu estas sanções como a concretização do aviso de que as imposições dos Estados Unidos teriam um efeito bumerangue: "Temos avisado repetidamente que as sanções iriam atingir os Estados Unidos como um bumerangue. Não pode haver dúvidas: vamos responder de forma adequada a este impulso muito hostil."
Mas alguns dos visados optaram por responder a estas sanções com a mesma dose de ironia e sarcasmo usada pelos políticos russos no início da semana. "O presidente [da Câmara dos Representantes] sente-se orgulhoso por estar incluído na lista dos que estão dispostos a enfrentar a agressão de Putin", disse Michael Steel, porta-voz de John Boehner. Mas o mais sarcástico foi o senador Daniel Coats: "Sinto-me honrado por estar na lista, apesar de estar desapontado por não poder visitar a Sibéria com a minha família neste Verão."
Também o senador republicano John McCain recorreu à imagem da Sibéria para comentar a sua inclusão na lista russa: "Penso que isso significa que as minhas férias de Primavera na Sibéria ficam sem efeito, que fiquei sem as minhas acções na Gazprom, e que a minha conta secreta em Moscovo está congelada."