Todos os anos nascem em Portugal pelo menos mil bebés prematuros com menos de 1500 gramas

Programa criado pela associação XXS pretende criar acções de formação para pais de bebés que nascem antes do fim da gravidez.

Foto
Um terço da mortalidade infantil em Portugal acontece em bebés prematuros Público

Nascem cada vez mais bebés antes do fim da gravidez. As razões são várias, mas uma delas é o facto de a idade das mães ser cada vez mais tardia, referiu a directora da unidade de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa, Teresa Tomé, lembrando que em Portugal a média da primeira gravidez está já nos 31,5 anos, sendo cada vez mais as mulheres que têm bebés acima dos 35 anos, idade a partir da qual aumenta o risco da prematuridade.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nascem cada vez mais bebés antes do fim da gravidez. As razões são várias, mas uma delas é o facto de a idade das mães ser cada vez mais tardia, referiu a directora da unidade de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa, Teresa Tomé, lembrando que em Portugal a média da primeira gravidez está já nos 31,5 anos, sendo cada vez mais as mulheres que têm bebés acima dos 35 anos, idade a partir da qual aumenta o risco da prematuridade.

Fernando Leal da Costa, o secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, admitiu que “há condições de carácter social” que podem estar a fazer com que as pessoas adiem cada vez mais a idade de ter filhos, notando “que não há estímulos suficientes para poder ter filhos mais cedo”. Há também comportamentos de risco, como o facto de a mãe ser fumadora, ou ter excesso de peso, sofrer de stress, que aumentam o risco de parto prematuro.
É assim que 8% a 10% dos bebés que nascem em Portugal são prematuros, disse o governante. E um terço da mortalidade infantil em Portugal acontece nestes bebés.

Os recém-nascidos com idade gestacional inferior a 32 semanas e com menos de 1500 gramas são os que apresentam maior risco de morte, são também os que têm maior risco de distúrbios do desenvolvimento, como atrasos cognitivos, perturbações da linguagem, paralisia cerebral, dificuldades de coordenação e equilíbrio, défices visuais e auditivos.

O Registo Nacional do Recém-Nascido de Muito Baixo Peso, no qual os profissionais assinalam as crianças que passaram pelas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, contabilizou 16.993 crianças nestas condições nascidas entre 1996 e 2012, o que dá uma média de cerca de mil por ano, disse Rosalina Barroso. O limite da viabilidade está definido  nas 25 semanas e 600 gramas de peso.

A XXS-Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro nasceu em 2008 precisamente para dar apoio a estas famílias e foi nesta associação de pais que nasceu o projecto lançado esta terça-feira. O CARE receberá verbas do Ministério do Trabalho e da Solidariedade, e apoio do Ministério da Saúde. Os pormenores práticos sobre o projecto ainda são poucos mas o que se pretende é criar formações específicas para pessoal de saúde na prestação de cuidados a bebés prematuros. Outro dos grandes enfoques do projecto é aumentar os conhecimentos sobre os pais que têm estes filhos. As dificuldades são várias.

Tudo começa no hospital. Estes são bebés que, em muitos casos, passarão os seus primeiros dois a três meses de vida internados numa unidade de cuidados intensivos de neonatologia, explica Teresa Tomé. Contrariamente aos bebés de termo, os prematuros não sabem mamar – essa é uma capacidade que só adquirem às 34 semanas –, mas deve-lhes ser dado leite materno através de sondas. Ou seja, tem que haver um enorme esforço das mães para estimular a produção de leite, armazenar, trazer o leite para o hospital para ser dado ao bebé, refere a médica.

Nos seminários de formação para pais está previsto serem abordadas questões como as vantagens do “método canguru” em que é estimulado, desde muito cedo, o contacto pele a pele entre a mãe e o bebé, uma forma de manterem o calor como complemento à incubadora, refere a médica, isto se o bebé estiver estável. Outra das vertentes será a formação no apoio na ida para casa depois da alta.

A presidente da associação XXS, Sidónia Pais, não sabe ainda como será dada formação aos pais. “É difícil chamá-los, têm que ser sensibilizados nas unidades”. A responsável lembra que estes bebés correm muito mais riscos de saúde do que outros bebés e que, por exemplo, uma ida precoce para um infantário é um problema. A responsável refere que andam há muito tempo a tentar sensibilizar o poder político para o alargamento das licenças de parentalidade no caso de filhos prematuros.

Estes pais também precisam de saber que há cuidados básicos que se devem ter com recém-nascidos de termo, “como não os levar a passear a centros comerciais ou a lavagem frequente das mãos que é mesmo importante que sejam cumpridos no caso dos prematuros”, disse, porque têm mais risco de infecções, um dos problemas da prematuridade é a falta de maturação pulmonar.

Na apresentação do projecto pouco se disse sobre a sua aplicação no terreno. O ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Mota Soares, referiu o uso “a recursos já instalados”, acções de sensibilização para a prevenção da maturidade, assim como formações para profissionais de saúde que arrancarão em três projectos piloto, Lisboa, Porto e Coimbra, assim como a criação de “uma rede informal de informação parental”. No total serão investidos três milhões de euros.