Medeiros Ferreira: Um "príncipe da palavra" ao serviço da democracia, diz Seguro

Reacções à morte do histórico socialista destacam serviço ao ideal democrático e à excelência no uso da palavra.

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"Recordo-o como um homem de vasta cultura, dotado de uma rara inteligência e como um príncipe da palavra. Medeiros Ferreira possuía um humor raro e um realismo apurado na análise da nossa vida contemporânea", escreveu António José Seguro na sua página no Facebook.

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"Recordo-o como um homem de vasta cultura, dotado de uma rara inteligência e como um príncipe da palavra. Medeiros Ferreira possuía um humor raro e um realismo apurado na análise da nossa vida contemporânea", escreveu António José Seguro na sua página no Facebook.

Aos elogios à sua capacidade intelectual, Seguro soma o reconhecimento pelo serviço ao país, quer nos tempos de resistência à ditadura, quer no serviço à democracia. "Medeiros Ferreira serviu o nosso país e o ideal democrático, primeiro como resistente à ditadura e, depois, em democracia, como governante e como parlamentar, onde representou os seus Açores", lembra o secretário-geral do PS.

"Este é um dia muito triste para a sua família, a quem apresento condolências, para os seus amigos e para todos os socialistas", acrescenta Seguro.

O Presidente da República também já reagiu a morte do socialista. Na página oficial da Presidência, Cavaco Silva apresenta condolências à família de Medeiros Ferreira, reconhecendo um "combatente pela liberdade".

O chefe de Estado lembra o percurso de "exilado político", "deputado à Assembleia Constituinte e ministro dos Negócios Estrangeiros do I governo constitucional" para destacar Medeiros Ferreira como um "europeísta convicto" que desempenhou um papel decisivo na adesão de Portagal à CEE.

"Ao longo da sua vida, teve destacada e exemplar intervenção cívica, sendo, na verdadeira acepção da palavra, um homem de pensamento e de acção. Os portugueses reconheciam em José Medeiros Ferreira um dos intelectuais mais notáveis do País, que sempre se caracterizou pelo amor à liberdade e pela independência de espírito", refere Cavaco Silva.

Também a presidente da Assembleia da República manifestou "grande tristeza" com a morte de Medeiros Ferreira, "figura essencial do Portugal contemporâneo".

Assunção Esteves regista a dedicação à intervenção cívica e à República, "da resistência ao regime salazarista na juventude à sua atividade parlamentar, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu".

Socialistas elogiam resistência e liberdade

De Sampaio, a Alegre, Carlos César e Alberto Martins há uma nota comum nas reacções à morte do "camarada" Medeiros Ferreira: o elogio e o reconhecimento à resistência na luta pela liberdade e pela democracia.

“Recebi a notícia com enorme desgosto, era um membro da minha geração tão distinto em vários domínios”, disse o ex-Presidente da República.

"Quero recordar a nossa camaradagem enquanto dirigentes associativos nos idos de 1960 e todos os percursos políticos que fizemos juntos, outros mais separados. Mas sempre apreciei a sua inteligência grande, uma enorme capacidade de antecipação do fenómeno político, grande capacidade de análise das questões sociais, económicas e políticas do país e também um historiador que deixou uma obra significativa nos domínios em que se especializou”, afirmou Sampaio.

Manuel Alegre também fala desse "companheiro de geração", "um grande político que marcou a história portuguesa contemporânea, quer na luta estudantil, quer na resistência antifascista, quer pelo seu contributo para a construção da democracia".

Alberto Martins considera que o seu desaparecimento é "uma perda relevante para o PS, para a democracia, para Portugal".

"Era uma personalidade ímpar, fulgurante, luminosa. É uma perda muito grande para todos e, por isso, quero endereçar as condolências à família e aos amigos, entre os quais me incluo", disse à Lusa o líder parlamentar do PS.

Carlos César, conterrâneo, camarada e amigo de Medeiros Ferreira, lembra o seu grande sentido cívico e a camaradagem aliada a uma grande sensibilidade. "Era uma pessoa com grande sentido cívico e com um gosto enorme em partilhar com as pessoas as suas competências e sensibilidade. Fiz com ele muitas viagens e também campanhas eleitorais onde a sua sensibilidade com as pessoas era extraordinária", recorda o ex-presidente do governo regional dos Açores.

César elogia também uma qualidade peculiar: "Dizia o que pensava quando e como queria".

Ana Benavente, ex-deputada socialista, recorda-se bem do momento em que conheceu Medeiros Ferreira, no início do ano lectivo de 1962-63, na Faculdade de Letras de Lisboa.

“Quando cheguei ao bar da faculdade perguntei qual era a mesa onde se sentavam os membros da pró-associação de estudantes. Foi ao Zé que me dirigi para lhe dizer que contassem comigo. Ele recebeu-me com aquele seu sorriso…”

Mais tarde, Ana Benavente faria de anfitriã. Recebeu Medeiros Ferreira em Genebra, onde já se encontrava, e ali passaram o período final da ditadura, exilados. “Éramos a família uns dos outros”, adianta ao PÚBLICO.

O último momento em que as suas vidas, pessoais e políticas, coincidiram foi em 2004, quando Ferro Rodrigues deixou a liderança do PS, e José Sócrates entrou. Medeiros e Benavente passaram a ser dois deputados em final de mandato, divergindo do “rumo” do partido. Juntos lançaram, em Novembro de 2011, o livro Pátria Utópica - O Grupo de Genebra Revisitado.

António Barreto, amigo de Medeiros Ferreira reagiu assim à Lusa: “Morreu um velho grande amigo, um ilustre cidadão português, um intelectual e um político excecionalmente perspicaz”.

Também António Barreto lembrou os contributos de Medeiros Ferreira para a adesão à Comunidade Europeia. "Foi um grande lutador pela liberdade e foi um dos principais autores da integração europeia no seu início, ele acreditou quando a maior parte dos portugueses duvidava ou contrariava”.

Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, considera que "foi dos interpretes mais argutos da realidade portuguesa contemporânea".  

"Compreendeu bem a importância da intervenção democrática das Forças Armadas na abertura de Portugal à liberdade e teve uma intervenção crucial na inserção europeia do país. A sua voz deve continuar a ser ouvida, em especial quanto à necessidade de reforço da renovação democrática e de legitimação dos Estados e da cidadania Europeia", frisa Oliveira Martins em declarações ao PÚBLICO.

O historiador Fernando Rosas, amigo de Medeiros Ferreira, diz que "além de um resistente, um político de grande craveira e visão, foi também um historiador das relações internacionais em Portugal. Criou os fundamentos da história moderna das relações internacionais do país, sobre as quais escreveu textos de grande importância".

O fundador e dirigente do Bloco de Esquerda afirma que agora é hora de homenagear "o amigo próximo" com o qual partilhou "muitos projectos e angústias, certezas e incertezas ao longo da vida política do país na democracia".

PSD recorda um dos "mais ilustres" militantes do PS

"Político incansável, Medeiros Ferreira foi um defensor acérrimo do regime democrático, quer na luta contra o antigo regime, quer como membro do I coverno constitucional e deputado à Assembleia da República". Foi assim que reagiu, em declarações à Lusa, o vice-presidente do PSD, Marco António Costa. O social-democrata referiu ainda um dos "mais ilustres militantes" do PS".

O ex-Presidente da República Ramalho Eanes recorda uma "desassombrada relação forte de amizade, respeito e crítica".

"Tive a felicidade de muito ter interagido com Medeiros Ferreira e, assim, de bem o ter conhecido, ter conhecido o seu carácter, os seus talentos, a elevação patriótica dos seus propósitos, o sucesso e valor ético das suas acções docentes, profissionais, intelectuais, sociais, e políticas", afirmou Ramalho Eanes de Medeiros Ferreira, que, em 1985 apoiou a criação do Partido Renovador Democrático (PRD), embora tivesse voltado depois ao PS.