Dívida pública: do Dantas a Passos Coelho

Não é preciso tirar um curso em economia para perceber que isto é a maior banha de cobra que nos estão a tentar, ardilosamente, vender

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Hugo Correia/Reuters

A história diz-nos que os manifestos, com ideias alternativas, aparecem quando o paradigma instalado – conservador e intransigente a variações culturais, políticas, económicas e sociais – não aceita mudanças, outras ideias, outros pensamentos ou outras opções. A pasmaceira do “status quo” político instalado é exemplo disso, ou seja, fazem-nos crer que é tudo da mesma cor. Sim. Como esse cinzento tão nauseabundo expulso das fábricas que, numa primeira instância, nos revolta e, num segundo momento, depois de tantas vezes a apanhar com o fumo nas bentas, nos entranha e nos conforma.

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A história diz-nos que os manifestos, com ideias alternativas, aparecem quando o paradigma instalado – conservador e intransigente a variações culturais, políticas, económicas e sociais – não aceita mudanças, outras ideias, outros pensamentos ou outras opções. A pasmaceira do “status quo” político instalado é exemplo disso, ou seja, fazem-nos crer que é tudo da mesma cor. Sim. Como esse cinzento tão nauseabundo expulso das fábricas que, numa primeira instância, nos revolta e, num segundo momento, depois de tantas vezes a apanhar com o fumo nas bentas, nos entranha e nos conforma.

Lembram-se do Manifesto Anti-Dantas e do papel que este teve na afirmação da defesa do modernismo e da consequente luta contra o romantismo? O principal objectivo do manifesto de José de Almada Negreiros não era atacar Júlio Dantas, mas, claro, toda uma geração agarrada a uma "cor única". “Morra o Dantas, morra! Pim!”. Morram os Dantas, e os Dantas mal-intencionados, e os Dantas bem-intencionados.

E o tal Manifesto dos 70? Tal como o manifesto dos 3 D’s, é fulcral para a discussão de novas perspectivas políticas, para solucionar o enorme buraco financeiro e todas as consequências sociais que daí advieram. Não se esqueçam que isto não se trata de esquerda ou direita; não se esqueçam que é mais do que isso. Um texto que é subscrito por personalidades como Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix e Diogo Freitas do Amaral está assim um bocadinho longe de se tornar numa pieguice ou numa birra.

A dívida insustentável

Um dos argumentos de peso centra-se na insustentabilidade da dívida. Em 2008, ano de “explosão” da crise, a dívida pública, em Portugal, era de 72% do PIB. Em finais de 2013, estes valores sobem para 129%. É-nos exigido que estes valores desçam até aos 60%. Não é preciso tirar um curso em economia para perceber que isto é a maior banha de cobra que nos estão a tentar, ardilosamente, vender. A não ser que a coligação PSD-CDS tenha encontrado petróleo em Portugal ou que existam robôs que nos permitam atingir uma superprodutividade. Ora, reestruturar a dívida – ou renegociar, é à vossa escolha – faz todo o sentido.

O primeiro-ministro foi rápido a condenar este manifesto , sendo, logo de seguida, imperiosamente aplaudido. Até faz lembrar o desprezo dos comentários dos apoiantes da União Nacional ao manifesto e intervenções da apresentação da candidatura de Quintão Meireles na eleição presidencial de 1951 (Rui Luís Gomes também foi um dos candidatos da oposição, porém, desde muito cedo, foi “afastado”): “Os eleitores já de certo sentiram que não é molde a impressionar o País, causado da repetição abusiva das mesmas frases sem sentido e das mesmas afirmações sem demonstração da realidade”. Porém, talvez Passos Coelho tenha entendido que o seu tempo de Júlio Dantas está a chegar ao fim.