InterCement comunica com atraso de 10 meses a compra de acções da Cimpor
A publicação do preço de aquisição das 535 mil acções surgiu por imposição da CMVM e indica que os brasileiros pagaram fora de bolsa mais 25% do que a cotação do dia.
A comunicação surge por imposição da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e, através dela, o grupo brasileiro revela que pagou mais 25% do que o valor negociado em bolsa (mercado regulamentado) pelo título (cotação de fecho de 3,43 euros) no mesmo dia.
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A comunicação surge por imposição da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e, através dela, o grupo brasileiro revela que pagou mais 25% do que o valor negociado em bolsa (mercado regulamentado) pelo título (cotação de fecho de 3,43 euros) no mesmo dia.
A transacção decorreu num quadro confortável para a InterCement, que desde Maio de 2012, domina 94% do capital da cimenteira portuguesa presidida por Daniel Proença de Carvalho.
A iniciativa da CMVM seguiu-se a uma chamada de atenção do fundo de investimento anglo-saxónico Whitebox (ver PÚBLICO de 7 de Feveiro), investidor minoritário da cimenteira nacional, a alertar para o facto de, nos relatórios semestrais divulgados em Agosto de 2013, a InterCement revelar ter mais 536.500 acções da Cimpor do que o mencionado nas contas anuais de 2012, publicadas em Abril do ano passado. Um diferencial (536.500 acções) que resultava de uma compra que não foi objecto de reporte autónomo ao mercado.
Na sequência, o fundo Whitebox requereu ao supervisor que o informasse sobre os contornos da aquisição (quem vendeu ao grupo brasileiro e a que preço, isto para poder contestar se houve tratamento preferencial). A InterCement sempre reconheceu a transacção, mas alegou o não dever de comunicação e só ontem veio informar o preço a que adquiriu as 535 mil acções. Mas não indicou o nome do vendedor (ou vendedores), a que não está, aliás, obrigada.
Sublinhe-se que o hedge fund Whitebox, um fundo de cobertura de risco, comprou as suas acções da Cimpor já depois da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo grupo brasileiro à cimenteira, em 2012. Uma decisão que tinha como expectativa uma contra-OPA da Votorantin (que acabou por trocar activos com a Camargo Corrêa) que não se verificou.
A OPA da InterCement à Cimpor realizou a 5,5 euros por acção, 22,3% abaixo do desembolsado pelo grupo brasileiro a 9 de Maio de 2013 na aquisição do pacote de acções (preço total de 2.293.537,50 euros).
O fundo anglo-saxónico, com uma carteira na Cimpro de entre um milhão e dois milhões de acções, entrou na cimenteira portuguesa a seguir à oferta pública de aquisição, na perspectiva de valorixar a sua posição. Mas tem actualmente a decorrer uma ãcção contra o grupo brasileiro Carmargo Corrêa e a Cimpor, alegando que nos prospecto de emissão da OPA é omitido que a companhia brasileira iria transferir para a cimenteira uma dívida líquida que rondará os 2000 milhões de euros.