Estado recomprou apenas 50 milhões de euros de dívida pública

A operação de recompra de Obrigações do Tesouro teve pouca adesão dos investidores.

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João Moreira Rato, presidente do IGCP, instituto que gere a dívida pública Miguel Manso

Numa nota enviada às redacções, Filipe Silva, gestor do mercado de dívida do Banco Carregosa, afirmou que “o montante recomprado é tão pequeno que se torna praticamente irrelevante”. Assim, o objectivo de utilizar capital disponível para poupar nos juros não teve grande efeito. De acordo com este analista, “a maior parte dos investidores preferiu ficar fora deste reembolso antecipado e manter os títulos de dívida, que lhes garante uma taxa cupão de 3,35%”.

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Numa nota enviada às redacções, Filipe Silva, gestor do mercado de dívida do Banco Carregosa, afirmou que “o montante recomprado é tão pequeno que se torna praticamente irrelevante”. Assim, o objectivo de utilizar capital disponível para poupar nos juros não teve grande efeito. De acordo com este analista, “a maior parte dos investidores preferiu ficar fora deste reembolso antecipado e manter os títulos de dívida, que lhes garante uma taxa cupão de 3,35%”.

Assim, sustenta Filipe Silva, “quem tem dívida portuguesa não está interessado em desfazer-se dela, até porque não tem outras alternativas de investimento mais apelativas. O risco/retorno de Portugal, pelo menos no prazo de ano e meio, continua a ter interesse. O preço a que o Estado recomprou é o preço a que esta dívida está no mercado secundário.” O Estado pagou 104,30 euros por obrigação, a uma taxa cupão de 3,35%.

O IGCP, instituto liderado por João Moreira Rato, encarregue da gestão da dívida pública, tinha 890 milhões disponíveis para esta operação. Ao todo, e tendo em conta que a adesão apenas implicou a recompra de 50 milhões de euros, ficam no mercado 8155 milhões de euros da linha de Obrigações do Tesouro que vencem em Outubro do ano que vem. O IGCP já afirmara que a operação estava sujeita "às condições de mercado".

Para João Moreira Rato, a operação "correu muito bem" porque, defende "mostra a confiança dos investidores, que, nesta fase, só estão prontos a vender a preços que nós consideramos muito elevados". Questionado por jornalistas à margem de um almoço-debate promovido esta terça-feira em Lisboa pela Câmara do Comércio Luso-Francesa, o presidente do IGCP disse ainda, citado pela Lusa, que "o facto de os preços estarem muito elevados mostra o nível de conforto que [os investidores] têm", o que indicia que os mercados acreditam que as obrigações vão valorizar nos próximos tempos.

Esta foi a segunda vez, num curto período de tempo, que o IGCP optou por recomprar dívida no mercado, efectuando o que se apelida de "leilão invertido". A 27 de Fevereiro, utilizando o excedente de tesouraria disponível, que dá uma rentabilidade muito baixa (está parqueado nos cofres do Banco Central Europeu, cujos juro é residual), o IGCP apresentou-se junto dos investidores com o intuito de antecipar o pagamento de duas linhas de obrigações, uma das quais voltou esta manhã a ser alvo do Estado. A 27 de Fevereiro, foram amortizados 1319,8 milhões de euros, ou seja, 8,5% do montante total ligado às duas linhas de Obrigações do Tesouro.

Na quarta-feira, o IGCP vai emitir mais Bilhetes do Tesouro, ou seja, dívida de curto prazo, no âmbito da estratégia de financiamento que tem sido aplicada desde a entrada da troika em Portugal (e que complementa as necessidades do país, além dos 78 mil milhões emprestados pela união Europeia e pelo FMI e dos certificados de aforro e do Tesouro). O objectivo é angariar entre 1000 milhões e 1250 milhões de euros, entre dívida a seis meses e a um ano.

Por outro lado, e tal como já fez este ano e em 2013, o Estado terá de emitir mais dívida de longo prazo, no âmbito do caminho de regresso ao financiamento das contas públicas através dos mercados. Portugal terá de provar que detém a confiança dos investidores, vendendo Obrigações do Tesouro sem o apoio de um sindicato bancário, ao contrário do que fez nas emissões anteriores, a cinco e a dez anos. Nessa altura, ver-se-á o grau de adesão, bem como preço dos juros a pagar.

Esta terça-feira, pelas 18 horas, a taxa a dez anos no mercado secundário (onde investidores negoceiam entre si a dívida) estava nos 4,427%, uma ligeira descida face aos 4,525% de segunda-feira. Já os juros a dois anos estavam nos 1,38% e nos 3,341% a cinco anos, tendo também descido face ao dia de ontem.