O afastamento progressivo entre Passos e Seguro

Em Outubro de 2011 chegaram a reunir-se duas vezes no espaço de quinze dias. Dois anos e meio depois, as diferenças parecem inconciliáveis.

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O líder do PS saiu desse encontro reconhecendo a necessidade de consenso sobre uma estratégia para o crescimento da economia, mas sustentando que tal se devia fazer a partir do Parlamento. A alusão à Assembleia da República foi um prenúncio do que estava para acontecer a partir daí.

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O líder do PS saiu desse encontro reconhecendo a necessidade de consenso sobre uma estratégia para o crescimento da economia, mas sustentando que tal se devia fazer a partir do Parlamento. A alusão à Assembleia da República foi um prenúncio do que estava para acontecer a partir daí.

Nem mesmo a grave crise política que atravessou o universo político português em Julho do ano passado foi suficiente para Seguro e Passos se voltarem a encontrar. Depois da demissão de Vítor Gaspar e da assim não tão “irrevogável” saída de Paulo Portas, o Presidente da República exigiu aos partidos que se reunissem para ensaiar um “compromisso de salvação nacional”. PS e PSD reuniram oito vezes no espaço de poucos dias, mas sem os líderes presentes. O compromisso nunca chegou a confirmar-se.

O mais próximo de um encontro entre Seguro e Passos aconteceu depois em Dezembro, a propósito do IRC. Durante um debate quinzenal, o secretário-geral do PS desafiou o primeiro-ministro para um debate a dois, quando ambos dirimiam argumentos sobre porque não havia entendimentos sobre a essa reforma. A dada altura, os dois falaram ao telefone, em pleno hemiciclo. A partir daí os partidos negociaram um entendimento, mas tendo como interlocutores o secretário de Estado Paulo Núncio e o dirigente socialista Óscar Gaspar. E com a participação de delegações parlamentares.   

Longe iam já os tempos dos últimos meses de 2011. Em Outubro desse ano, os dois líderes políticos chegaram a encontrar-se duas vezes no espaço de duas semanas. Era uma época em que da boca do líder socialista saíam expressões como "0,001 por cento" quando o questionavam sobre a possibilidade do PS votar contra o Orçamento do Estado de Passos Coelho.

Em Dezembro de 2011, os dois reuniam ainda num ambiente menos tenso, com Seguro a escusar-se a revelar o assunto e a considerar “normal que numa democracia o primeiro-ministro queira falar com o líder do principal partido da oposição”. Soube-se depois que Passos o chamou para o informar sobre a venda aos chineses do que restava de participações públicas da EDP.

Em Agosto de 2012, em plena quinta revisão da assistência financeira ao país, Passos chamou Seguro. Dias antes, o primeiro-ministro alertara para os "desafios orçamentais" que o país enfrentava e admitia que nem tudo estava a decorrer como esperado. O encontro terminou sem declarações.

Mas em Novembro de 2012 já houve lugar ao primeiro sinal de descontentamento. No mesmo local, os dois reuniram para falar da anunciada reforma do Estado que Passos baptizara como "uma refundação do memorando de entendimento" e quantificara em 4 mil milhões de euros. Seguro assumia o distanciamento: “Por exclusiva responsabilidade do seu Governo, este diálogo foi praticamente inexistente, com claro prejuízo para o interesse nacional.”

E em Abril de 2013, Seguro é surpreendido em São bento por uma delegação ministerial quando antecipava mais um encontro a sós. À sua espera estavam o primeiro-ministro, Vítor Gaspar, Poiares Maduro e Mota Soares para um entendimento sobre as medidas para a consolidação orçamental, depois do chumbo do Tribunal Constitucional a normas orçamentais. Depois da reunião, Seguro convoca uma conferência de imprensa para a “divergência em relação à política de austeridade do Governo e da troika”.