Protestos na Grécia por Governo querer vender edifícios históricos

Decisão do Governo, que tem destacado a recuperação da economia, não agradou. Especialista diz que venda de edifícios não é dramática.

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AFP

No fim-de-semana houve quem saísse às ruas de Atenas para protestar contra aquilo que consideram ser uma “venda ilegal” do património grego. Depois de quatro anos mergulhados na crise, e já com o Governo a destacar os primeiros sinais de recuperação da economia, os manifestantes que saíram à rua vêem nesta última decisão o “apogeu da humilhação” para uma nação absorvida pela austeridade e com os maiores níveis de sempre de pobreza e desemprego, como escreve a correspondente do Guardian na Grécia.

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No fim-de-semana houve quem saísse às ruas de Atenas para protestar contra aquilo que consideram ser uma “venda ilegal” do património grego. Depois de quatro anos mergulhados na crise, e já com o Governo a destacar os primeiros sinais de recuperação da economia, os manifestantes que saíram à rua vêem nesta última decisão o “apogeu da humilhação” para uma nação absorvida pela austeridade e com os maiores níveis de sempre de pobreza e desemprego, como escreve a correspondente do Guardian na Grécia.

E isto porque o primeiro-ministro Antonis Samaras pediu que se fizesse um levantamento dos edifícios pertencentes ao Estado para assim avaliar aqueles que podem ser vendidos. Listados para venda estarão já as propriedades construídas em 1922 para os refugiados da guerra greco-turca e ainda alguns andares do Ministério da Cultura instalados em edifícios neoclássicos no bairro turístico de Plaka. Pela sua história e importância arquitectónica, estes edifícios são vistos como jóias da arquitectura da Grécia.  

“O Governo está constantemente a tentar passar a mensagem de que a economia [Grega] é uma história de sucesso mas a realidade é que não é esse o caso”, reagiu ao jornal britânico Petros Constantinou, porta-voz da Frente da Esquerda Anticapitalista Grega (Antarsya), defendendo que a decisão de pôr edifícios públicos à venda “é uma prova de que eles [Governo] não estão assim tão perto de atingir as suas metas”. Constantinou diz também que o Governo está a agir “de forma errada ao não explorar estes edifícios para benefício do público”.

No entanto, ao PÚBLICO, Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, secretária-geral da Europa Nostra, uma associação pan-europeia de defesa do património, e que tem acompanhado a situação grega de perto, defendeu que a situação “não é tão dramática como estão a fazer parecer”. “O ministério da Cultura grego, com quem contactamos regularmente, está mais do que ciente da importância do património, especialmente em países como a Grécia, ou até Portugal, que dependem muito de turismo”, explica esta responsável, que esteve há dias em Atenas para uma conferência organizada pelo Conselho Europeu precisamente pela protecção do património.

A crise económica, diz Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, pode ser uma ameaça para o património de um país, mas a parceria com o sector privado pode também ser uma ajuda para reverter a situação. É por isso que a secretária-geral da Europa Nostra acredita que a venda destes edifícios não é grave se quem os comprar se comprometer a mantê-los.

“Precisamos do sector privado mas com regulação, a venda de edifícios não pode acontecer de forma selvagem, é preciso estabelecer por exemplo o tipo de usos”, continua Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, explicando que a área de Plaka “há muito que é procurada por privados”. “Não é de agora, não são os primeiros edifícios a serem vendidos”, diz a secretária-geral, que defende que “nem sempre manter os edifícios e monumentos nas mãos do Estado é sinal de estarem correctamente protegidos”. “ O Estado tem tantos edifícios que simplesmente não os consegue  gerir a todos devidamente, a ideia de que a partir do momento em que caem nas mãos de privados está tudo perdido é negativa.”

Para esta responsável, se a privatização for acompanhada por um planeamento claro do edifício, onde esteja garantida a sua manutenção, o Estado pode aproveitar para “dar uma nova vida aos edifícios históricos”. “De outra maneira não conseguiria. Não há nada de errado nisto.”

A secretária-geral da Europa Nostra admite, no entanto, que esta opinião pode divergir dependendo da importância dos edifícios e monumentos. Mesmo assim, Sneska Quaedvlieg-Mihailovic não vê um problema na decisão tomada na semana passada de o Governo ceder para iniciativas privadas o espaço do Stoa de Átalo, localizado na antiga Ágora de Atenas, e o Estádio Panathinaiko.

“O sector privado pode e deve estar envolvido nisto e mais vale usar os edifícios existentes e dar-lhes uma nova vida do que construir outros”, defende, lembrando que “há locais históricos que estão a ser geridos por privados apesar de estarem em mãos do Estado”. “Tem de haver cooperação mas isto pode ser uma forma maravilhosa de dar uma nova e longa vida aos edifícios históricos”. “O Estado tem de estar aberto e tem de ver o sector privado como um parceiro e não como uma ameaça ao bem público.”

Opinião que não é partilhada pelo analista político grego Nikos Xydakis. Apesar de ainda não estarem estipulados valores para as vendas, citado pelo The Guardian, Xydakis questiona se estes edifícios não estão a ser vendidos ao desbarato, lamentando que se decida vender elementos que constituem a história do país.