Três edifícios na obra de Inês Lobo

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1998-2002 - Corpo de Anfiteatros do Campus Universitário da Universidade dos Açores,

A verdade faz-nos mais fortes

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1998-2002 - Corpo de Anfiteatros do Campus Universitário da Universidade dos Açores,

Ponta Delgada (co-autoria com Pedro Domingos).

Obra de arranque para um estatuto de maior independência criativa, o Corpo de Anfiteatros do Campus Universitário da Universidade dos Açores antecede a criação de um escritório em nome próprio, inicialmente constituído em 2002, por Gilberto Reis e João Rosário, seu actual sócio. O projecto, então apresentado em co-autoria com Pedro Domingos, venceu um concurso público num momento de grande euforia construtiva no país. A oportunidade permitiu a Inês Lobo construir o seu mais importante edifício público na época. Implantando-se no campus principal da Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, o edifício revela um domínio dos elementos basilares da arquitectura portuguesa, então em fase de grande projecção internacional: sobriedade volumétrica, inserção cuidada no lugar, integração de materiais conotados com a região – caso dos embasamentos em basalto que contrastam com as superfícies brancas e envidraçadas que formam a principal imagem do complexo. A estética modernista deriva ainda da forte influência de João Luís Carrilho da Graça, seu antigo professor e de quem foi uma importante colaboradora. Em entrevista dada a Luís Santiago Baptista e Margarida Ventosa da revista Arq.a em Fevereiro de 2009, Inês Lobo sintetiza: “Costumo resumir o meu percurso escolar ao primeiro e último anos, eventualmente com alguma injustiça para os anos intermédios… O primeiro na [Faculdade de Arquitectura do] Porto e o último [na Faculdade de Arquitectura de] Lisboa com o arquitecto João Luís Carrilho da Graça, novamente um período de descoberta.”

 

2006-2009 - Antiga Fábrica dos Leões – Complexo de Artes e Arquitectura

da Universidade de Évora (co-autoria com João Maria Trindade)

A transformação da antiga Fábrica dos Leões em Complexo de Artes e Arquitectura da Universidade de Évora destaca Inês Lobo numa geração de jovens arquitectos nascidos na segunda metade da década de 1960. Esta é essencialmente formada por antigos colaboradores dos mais relevantes arquitectos portugueses do final do século XX, posicionando-se, com o início do novo milénio, como um grupo que conquista a sua maturidade profissional. O projecto é ainda assinado em co-autoria com João Maria Trindade, reforçando a importância que Inês Lobo atribui ao trabalho colectivo. A Fábrica dos Leões, a anterior Sociedade Alentejana de Moagem construída inicialmente em 1916, foi reabilitada numa lógica de fixação do conjunto original (libertando-se das edificações espúrias) e fortalecendo as presenças que mais directamente remetem para a sua condição fabril. Novos elementos diferenciam-se das preexistências de alvenaria através do recurso a materiais mais leves e estruturas metálicas. Um espaço inicialmente erguido para abrigar máquinas industriais, torna-se agora amável no acolhimento de uma comunidade universitária. O pátio é refeito para funcionar como lugar de encontro. A construção do edifício teve ainda um papel fundamental na consolidação da estratégia da Universidade de Évora ao fazer associar uma imagem de qualidade arquitectónica aos próprios conteúdos programáticos do ensino aqui ministrado.

 

2008-2010 - Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho,

Figueira da Foz

Entre 2006 e 2010, Inês Lobo é incumbida, no âmbito da polémica Parque Escolar EP, a desenvolver quatro projectos de reabilitação de instituições de ensino, localizadas em Leiria, Coimbra, Aveiro e Figueira da Foz. É nesta última cidade que se localiza a Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, um projecto de 1969, de estrutura modular, que se pretendia readaptar às exigências actuais do ensino. Como estratégia, Inês Lobo defende a reutilização dos “edifícios originais, recuperando sistemas e matérias construtivas”. A proposta passa por respeitar o mais possível os edifícios preexistentes, significativamente bem conservados, e por introduzir um novo corpo, mais baixo e volumetricamente menos impositivo, que assegura a ligação entre os diferentes blocos. Neste corpo são inseridas funções como o bar/refeitório, a biblioteca, as salas destinadas às artes, ou os laboratórios. É no tratamento dos espaços de transição, com as áreas exteriores, que melhor se compreende o compromisso assumido pelo projecto. Estes novos espaços definem-se entre o novo pátio escavado, mais pétreo, e as áreas de recreio, profusamente plantadas. Os projectos encomendados pela Parque Escolar encontram Inês Lobo num momento de grande consistência criativa e projecção profissional, como aliás confirma a atribuição do prémio arcVision – Women and Architecture 2014.