Ela está na sala de partos para fotografar o primeiro choro
Há quem goste de fotografar casamentos, almoços de família ou baptizados. Carlota von Hafe Pérez fotografa num lugar insólito: a sala de partos
Sala de partos. Está lá a instrumentista, a anestesista, o médico e a parteira — e às vezes até está lá o pai. E está lá Carlota, a fotógrafa, que muitas vezes se sente como se fizesse parte da família. Está tudo pronto para o primeiro contacto do bebé com o mundo, para o primeiro choro e para os primeiros momentos íntimos com a mãe. Está tudo pronto para o álbum de fotografias — para mais tarde recordar.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Sala de partos. Está lá a instrumentista, a anestesista, o médico e a parteira — e às vezes até está lá o pai. E está lá Carlota, a fotógrafa, que muitas vezes se sente como se fizesse parte da família. Está tudo pronto para o primeiro contacto do bebé com o mundo, para o primeiro choro e para os primeiros momentos íntimos com a mãe. Está tudo pronto para o álbum de fotografias — para mais tarde recordar.
Como é que alguém se lembra de criar um projecto fotográfico dedicado ao nascimento? Para Carlota von Hafe Pérez, fotógrafa de 21 anos, a resposta é clara. "Cresci ligada à medicina. A minha mãe é enfermeira instrumentista e trabalha sempre no bloco, com cirurgias plásticas. Enquanto estava a tirar o curso, aproveitei o facto de poder entrar no bloco para fazer trabalhos de fotojornalismo, mas era mais um "hobbie" do que propriamente um trabalho. Foi aí que nasceu a ideia de fotografar muito ligada à medicina. A fotografia de partos surgiu assim. Pensei: de que maneira é que eu posso tornar um negócio rentável ligado à medicina? De que forma é que as pessoas me vão procurar para fotografar uma coisa que queiram guardar para sempre?"
Foi então que surgiu a ideia de fotografar partos, um negócio que em Portugal ainda está a dar os primeiros passos, mas uma ideia que não é nova no resto do mundo. Segundo a fotógrafa recém-licenciada, "há fotógrafos que vivem só da fotografia de parto."
Um negócio
Carlota decidiu pedir conselhos a uma destas pessoas, uma fotógrafa americana, que a ajudou a dar os primeiros passos no projecto. "Fui aconselhada a divulgar o meu trabalho porque a primeira reacção das pessoas é uma série de perguntas. 'Fotografia de parto? Que horror! O que é isso? O que é que tu me vais fotografar? Eu não quero isso recordado para nada!'"
O primeiro parto que fotografou foi uma cesariana. Carlota cresceu no bloco e há muito que está habituada ao que se passa lá dentro. Bisturis, sangue e cordões umbilicais não lhe fizeram qualquer confusão. "Eu estou habituada a ver isso, mas não faz parte do elemento final do meu trabalho, com uma componente social e documental muito forte."
Após divulgar o primeiro trabalho através do site WAAAH e do facebook do projecto, as pessoas começaram a mostrar-se interessadas e a perceber que a fotografia de parto não era o que tinham em mente. Afinal de contas, são fotografias que registam o primeiro contacto de um bebé com o mundo, o primeiro choro, os primeiros momentos íntimos com a mãe. "A verdade é que as pessoas que me contactaram nunca tinham pensado no assunto. Contrata-se um fotógrafo para um casamento, contrata-se para um baptizado, e para um parto? O nascimento de um filho é um dos momentos mais importantes da nossa vida."
Ela faz parte da família
Carlota tem estado sempre presente. Durante o dia do nascimento do bebé, a fotógrafa também faz parte da família. "Toda a gente se vai lembrar para o resto da vida de que eu estive presente naquele momento. Se calhar não se vão lembrar do meu nome, mas havia lá uma fotógrafa que registou esse momento."
Dentro da sala de partos, Carlota tem um papel tão importante como os profissionais de saúde. "A instrumentista trata dos instrumentos, a anestesista trata da anestesia, o médico e a parteira estão a tratar do parto e eu estou a fazer fotografia. Isso tem sido uma das coisas que até hoje mais me surpreendeu. De facto eles também olham para mim como uma profissional que está a fazer o seu trabalho e que se consegue integrar perfeitamente neste contexto. Até porque é preciso ter estaleca para aguentar ver muita coisa, e é preciso movimentar-me muito bem no meio de uma equipa tão grande."
Numa altura em que cada vez há menos bebés a nascer em Portugal, e uma boa parte dos hospitais públicos não permite sequer mais do que um acompanhante na sala de partos, Carlota ainda não sentiu muitas barreiras. "O projecto é muito recente e o meu trabalho tem sido mais divulgado numa esfera de pessoas conhecidas."
Muitas vezes, a fotógrafa é procurada para fazer sessões de grávidas e de bebés, mas não é um mercado que interesse a Carlota. "Isso pode servir de complemento ao projecto. Quero-me diferenciar, não quero fazer aquilo que hoje em dia muita gente faz, e bem."